Matérias Literárias

MATÉRIAS LITERÁRIAS: Os narradores menos confiáveis da literatura

11:24Isabela Lapa

Alguns livros causam um grande impacto em razão dos seus narradores, que são complexos e não condizem com a ideia de "ser humano ideal". De tão marcantes eles deixam de ser simples personagens e passam a ser vistos como pessoas reais pelos leitores, que se envolvem e tentam decifrá-los, analisá-los. 

O problema desses seres do universo literário é que algumas vezes eles não são muito confiáveis e não conseguimos ter certeza da veracidade ou da coerência dos fatos que eles apresentam. No post de hoje, vamos apresentar alguns famosos e pouco confiáveis narradores dos livros. Confiram:

Vladimir Nabokov, em Lolita
Narrador: Humbert

Humbert tem uma predileção por "ninfetas" e ao longo da vida praticou inúmeros atos condenados pela sociedade. Após ter sido internado em um hospital psiquiátrico ele foi preso e da prisão escreveu a história. 

Ele é um dos maiores exemplos de que nem sempre podemos confiar em um narrador. O estilo adotado na narrativa é tão convincente que alguns leitores chegam a questionar o caráter do próprio escritor. Imaginem só? 

Anthony Burguess, em Laranja Mecânica

Narrador: Alex

Desde o início do clássico distópico de Anthony Burgess fica claro que não podemos confiar em Alex, o seu narrador. Além de sociopata, violento e manipulador, ele fica bêbado em um bar e nos conduz ao seu mundo repleto de ilusões de grandeza e apresenta uma história inserida em um cenário futurista.


Chuck Palahniuk, em Clube da Luta


Narrador: sem nome 

Apesar de não ter um nome especificado, o narrador deste livro, que é depressivo, tem crises de insônia e graves problemas existenciais, nos apresenta a um grupo secreto, que luta todas as noites em um local escondido e que utiliza da prática como forma de terapia. Acontece, que ao longo da história nos questionamos sobre tudo que ele diz e nos colocamos diante de um grande embate moral. 

Bret Easton Ellis, em Psicopata Americano


Narrador: Patrick Bateman

Alpinista social, conturbado, complexo, debochado, suspeito e, ainda por cima, psicopata! Não tem como confiar...


F. Scott Fitzgerald, em O Grande Gatsby


Narrador: Nick Carraway

O problema de Nick é que ele não conhece Gatsby de forma íntima, sabe apenas o que os outros personagens contam. Com isso, ele expressa as suas opiniões pessoais e deixa clara a possibilidade de eventuais imprecisões durante a história. Na medida em que os fatos vão se alterando, ele altera também o seu julgamento, o que não passa muita confiança acerca dos fatos.


J. D Salinger, em O Apanhador no Campo de Centeio


Narrador: Holden Caulfield

O narrador adolescente e cínico do escritor JD Salinger admite no início da história que é "o mais terrível mentiroso que você já viu". As suas opiniões sobre o mundo parecem distorcidas pela visão adolescente, precoce e imatura. Ao final, a sua estabilidade psicológica é questionada pelo escritor.

Mark Twain, em As Aventuras de Huckleberry Finn

Narrador: Huck Finn

A ingenuidade do jovem Huck Finn algumas vezes transmite um ponto de vista inocente e apresenta uma nova perspectiva sobre questões complexas, o que é interessante. No entanto, as suas interpretações sobre os fatos deixam alguns questionamentos.

Sua inexperiência cega em determinadas situações, como no caso dos vigaristas com os quais ele viaja sem saber, além do seu conflito enquanto ajuda o escravo Jim, aumentam o nosso dilema.

Mark Z Danielewski, em House Of Leaves
Narradores: vários

Os diversos narradores do romance apresentam opiniões imaginárias e conflitantes. Além disso, admitem abertamente a falta de confiabilidade das mesmas, quando zombam dos leitores que acreditam no que eles dizem.

A verdade é que o conto, além de labiríntico no conteúdo, também o é na sua estrutura. Então, realmente não tem como confiar!

C. S. Lewis, em Cartas do Inferno
Narrador: demônio

Nunca confie em um demônio com uma história para contar - embora alguns possam argumentar que é a apologia cristã, é fato que as dúvidas persistem.

Emily Brontë, em O Morro dos Ventos Uivantes
Narradores: Nelly e Lockwood

Nossos dois narradores são aparentemente imparciais e sofrem em razão do que sabem e do que deixam de saber.

Nelly, criada pelas famílias Earnshaw e Linton, parece ser uma testemunha confiável para os fatos, mas a verdade é que ela é uma contadora de histórias que muitas vezes embeleza as coisas. Ela também conhece a família em um nível íntimo e vive tudo com muita intensidade, o que dificulta uma análise imparcial, além disso, usa dos seus conhecimentos para manipular e intervir, mesmo fingindo inocência.

O segundo narrador, Lockwood, descobre os fatos sobre a complicada história da família de Nelly por meio de situações isoladas , e, portanto, muitas vezes interpreta eventos.


E então leitores, vocês confiam nesses narradores? Quais incluiriam na lista? Comentem e participem do nosso Universo!



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