Charles Bukowski Crítica

Especial Charles Bukowski: Factótum

06:30Universo dos Leitores

Sinopse: 

Factótum, segundo romance de Charles Bukowski, publicado em 1975, mais uma vez nos deparamos com Henry Chinaski, alter ego do autor, protagonista de vários dos seus livros e um dos mais célebres anti-heróis da literatura americana. Durante a Segunda Guerra Mundial, Henry é considerado "inapto para o serviço militar" e não consegue entrar para o exército. Assim, enquanto os Estados Unidos se unem em torno da guerra e os homens alistados são vistos como heróis, Chinaski, sem emprego, sem profissão nem perspectiva, cruza o país, arranjando bicos e trampos, fazendo de tudo um pouco - daí o nome do livro -, na tentativa de subsistir com empregos que não se interponham entre ele e seu grande amor: escrever. Em meio a tragos, perambulações por ruas marginais, tentativas de ser publicado, vivendo da mão para a boca, o autor iniciante Henry Chinaski come o pão que o diabo amassou.


Minhas Impressões:

Começo essa resenha avisando que Factótum não é um livro para qualquer pessoa, fala sobre vagabundagem, bebedeira, sexo selvagem e totalmente explícito. Os personagens não tem nenhuma ambição na vida e os protagonistas namoram prostitutas. É um livro cheio de cenas pesadas e não seria elogiado por muita gente, alguns ficariam de boca aberta por tamanha sordidez em um único livro, mas é nessa sordidez que os romances de Bukowski se criam e nos maravilham.

O livro apresenta cruamente a realidade dos Estados Unidos no final da 2ª Guerra Mundial do ponto de vista dos desafortunados e excluídos da sociedade, ruindo todo tipo de sonho americano mostrando que todo lugar pobre e miserável vai ser sempre assim do mesmo jeito, pessoas sujas, feias e ímpias sobressaem nas páginas deixando para trás aquela visão que temos de que toda literatura tem que ter pelo menos um personagem bonito e coreto moralmente. Apesar de tudo isso, o livro conta com um ponto forte, que é o humanismo presente no nosso protagonista Henry Chinaski, que mesmo ante a bebedeira e o sexo selvagem possui um toque de bom senso e filantropia, é até engraçado observar o ar romântico que surge em alguns momentos, que aparece apenas de vez em quando nos textos de Bukowski e em minha opinião é isso que equilibra a história.

Factótum é um livro muito bem humorado, o que faz com que sua história indecente se torne engraçada ao invés de repulsiva, Algumas passagens são tão absurdas que nos fazem rir:

“Nada pior do que terminar uma boa cagada, esticar a mão e encontrar um rolo de papel higiênico vazio. Mesmo o ser humano mais monstruoso sobre a face da terra merece um papel higiênico para limpar o rabo. Algumas vezes, ao esticar a mão e não encontrar papel, eu ia em busca de um protetor para quebrar um galho, mas, subitamente, descobria o reservatório também vazio. Então você se põe de pé e vê que o que estava usando acaba de cair na água. Depois disso, sobram-lhe poucas alternativas. A que descobri mais satisfatória é limpar o rabo com as cuecas, jogá-las na privada, dar descarga e entupir o vaso.”

“Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?”

"Ela me obrigou a deitar no chão, dando um tremendo puxão no meu saco, quase partindo meu pau ao meio com os dentes. (...) Era como se eu estivesse sendo devorado por um animal impiedoso. Meu pau endureceu coberto de cuspe e sangue. A visão daquilo a enlouqueceu. Era como ser devorado vivo. Se eu gozar, pensei, jamais me perdoarei".

O que mais me surpreendeu em Factótum foi a sinceridade com que Bukowski escreveu o livro. Seus diálogos são memoráveis, a obra tem um brilho, algo que chama a atenção e creio que seja essa sinceridade das palavras a responsável por isso. Muitos críticos consideram o livro como lixo literário, no entanto, na minha opinião é um trabalho incrível, engraçado e inteligente, que não merece tal definição. Convém mencionar que o livro se tornou um filme e chegou até a ser premiado.

Para saber mais sobre a obra recomendo, sem hesitar, que leiam e saboreiem cada fase e cada palavra. Surpreendam-se assim como eu fui surpreendida.


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