Crítica Edições Ideal

Na estrada com os Ramones, de Monte A. Melnick e Frank Meyer

00:00Universo dos Leitores


Sempre que vou iniciar uma resenha sobre um livro que amei eu fico por alguns minutos olhando a tela do computador com o arquivo de Word aberto em branco e pensando “o que dizer de um livro que diz tudo já na capa?”. O livro da Edições Ideal ‘Na estrada com os Ramones’, dos autores Monte A. Melnick e Frank Meyer é um exemplo vívido da minha eterna dúvida cruel de como inicial um texto passando a luz do livro para o leitor. Então vou iniciar sendo óbvia: leia, chore, ria, encante e se prepare para pedir mais quando chegar à última página.

O quinto ramone Monte A. Melnick não é só um dos autores do livro ele é o personagem participativo do primeiro ao último dia dos 22 anos de carreira dos quatro nova-iorquinos (Dee Dee era natural de Fort Lee mais nova-iorquino desde sempre) que mudaram a história do punk rock mundial. Monte foi empresário de turnê (e muito mais) desde a estreia da banda no CBGB, em Nova Iorque, em 16 de agosto de 1974 até seu último show em Los Angeles em 6 de agosto de 1996. E a intimidade dele com Joey Ramone, Johnny Ramone, Dee Dee Ramone e Tommy Ramone dita uma escrita leve, curiosa e pessoal; e a leitura é rápida, contagiante e a sensação “quero mais” aumenta a cada capítulo.
Apesar do ar punk revolucionário, os integrantes dos Ramones levavam a banda muito a sério e todos os shows da carreira foram feitos com seus músicos e equipe “sóbrios”, não se drogavam ou bebiam álcool antes de um show. Ao contrário do que sempre imaginei a banda não fazia quebradeira e farras em hotéis. Motivo? Sabiam que teriam que pagar nas manhãs seguintes tudo que quebraram. Resumindo Ramones era uma banda “mão de vaca” (ou espertos).

O assunto “drogas” não tem tanta notoriedade por partes dos depoimentos. Quando se fala de bandas punks dos anos 70 e 80 drogas e sexo são pautas garantidas e com certeza fizeram parte de 80% da carreira dos Ramones, porém não há muitos detalhes no livro e também não fazem falta, outros assuntos completam o espaço. Dos Ramones apenas Johnny e Tommy não eram tão viciados e o profissionalismo com a banda falava mais alto. 
A banda deu certo e juntos mostravam uma química tão perfeita porque todos tinham pelo menos uma característica em comum: era uma banda de rapazes socialmente excluídos. E como toda banda tem aquele integrante que frequentou a “escola Ozzy Osbourne de se drogar”, nos Ramones não foi diferente e o representante da vez era Dee Dee, baixista, que além de se drogar com frequência, mantinha mais de 20 remédios para tomar com intuito de melhorar alguns de seus vícios ou tranquilizar algumas de suas personalidades; Dee Dee foi diagnosticado com Transtorno Bipolar e Transtorno de Personalidades Múltiplas. Durante os anos a banda foi se “reformulando” com a entrada e saída de integrantes, entre os ramones substitutos estão Marky Ramone (mais conhecido), Richie Ramone, C. J. Ramone e Elvis Ramone.

As complexidades na saúde dos Ramones infelizmente sempre foram muito presente. Joey Ramone foi diagnosticado TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo, todos os envolvidos no projeto Ramones sofreram muito até a descoberta da doença do vocalista que tinha necessidade de tocar todas as coisas, sair e entrar várias vezes do mesmo lugar, chegar a outro país e querer pegar o primeiro voo de volta porque se esqueceu de tocar algo que estava em casa, dentre tantas outras necessidades. Joey tinha a saúde extremamente frágil.

Como tudo que é bom parece atrair algo para atrapalhar, a banda punk Ramones também teve o inicio do seu fim com turbulências internas. E tudo começa a ruir quando o controlador Johnny apaixonou por Linda, então namorada e único amor de Joey, que por sua vez nunca perdoou o colega de banda por roubar sua namorada. E as coisas pioraram quando Johnny e Linda se casaram em 1995. Toda raiva de Joey foi transferida para suas músicas e confidenciada aos amigos próximos. Joey e Johnny raramente se falaram desde então. Ficava cada dia mais evidente que não durariam muito tempo; os Ramones encerraram suas atividades em 1996.
Além de fotos de muitas credenciais usadas durante as turnês; inclusive a da turnê “Ramones Brasil 92 – Rio Or Die”; têm algumas fotos dos arquivos pessoais dos Ramones, eu amei ver fotos individuais das primeiras esposas de Joey, Marky, Johnny e Dee Dee, quem não morre de curiosidade para saber como era fisicamente a escolhida do seu artista favorito? E como todo bônus é muito bem vindo, em “Na Estrada com os Ramones” você também pode ter o prazer de ver imagens de alguns cartazes das turnês mundiais, me deu vontade de tatuar alguns; são cores, desenhos inspiradores e um ar punk rock único em todas as imagens.

Sempre fui uma apaixonada por Joey Ramone, o rosto quase sem expressão do vocalista parecia me dizer algo sempre que o via em um clipe ou entrevistas arquivadas; depois desse livro Joey Ramone é meu novo ídolo, o novo membro do meu pessoal “Top Five Vocalist Hall The Fame”, ele é um astro nato, nasceu para brilhar e nem todas as dificuldades que passou por sua saúde delicada ofuscou sua luz. A parte mais emocionante, que tirou lágrimas dos meus olhos, foi quando cada um dos personagens do livro contam suas perspectivas sobre o câncer de Joey, seus últimos momentos e sua morte. Em contraponto vem à declaração de Johnny sobre a doença e morte do vocalista que partiu meu coração e ali ele perdeu um pouco do “astro” e da admiração que tinha. Johnny é um músico excelente e teve muita responsabilidade no que se tornou a banda Ramones e no direcionamento da cena musical de Nova Iorque, mais ele não teve o sentimento principal frente à morte de outro ramone responsável pelo sucesso que são: a emoção.
Durante toda a leitura você sente total aproximação com a vida da banda, quando Monte A. Melnick conta suas perspectivas pessoais sobre os assuntos, o leitor consegue imaginar qual a expressão de cada Ramone frente ao acontecimento. O texto desenhado em forma de depoimentos torna a leitura muito saborosa e disponibiliza ao leitor uma experiência quase extrassensorial, basta colocar "I Wanna Be Your Boyfriend", "Blitzkrieg Bop", “Pet Sematary” ou qualquer outra música da banda no MP4, pegar o livro e se preparar para uma aventura entre as páginas dessa estrada incrível que é, e sempre será, os Ramones.

Única pessoa que poderia e soube definir os Ramones foi Monte e o fez assim: “Se Joey era o coração da banda, Dee Dee a alma e Tommy o mentor, Johnny era o sargento rigoroso conduzindo a banda [...] e foi ele quem pôde enxergar o destino da banda”.


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2 comentários

  1. Anônimo18:58

    Johnny era um medíocre, não sabia sequer fazer um solo de guitarra simples. E falando nos Ramones, a banda se tornou superestimada demais, e eles nem eram tão brilhantes assim.

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  2. Como tem gente idiota nesse mundo. Se dá ao trabalho de entrar aqui só pra falar mal dos caras. Quem gosta de solo é minhoca, ô demente! Vai escutar banda de emo, vai!!

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