Alex Andrade Confraria do Vento

Poema, de Alex Andrade

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Poema, de Alex Andrade, apareceu na minha vida como uma surpresa. Uma boa e marcante surpresa... 

Com 10 contos escritos de maneira sensível e intensa, o escritor se utilizou das importantes e inesquecíveis poesias de Ferreira Gullar, Adélia Prado, Mário Quintana etc, para falar sobre o cotidiano, o envelhecimento, a monotonia da vida e claro, os sentimentos.

"A velha era nada para eles. E olhava para a porta da vizinha como se quisesse roubar a juventude guardada dentro daquele apartamento."
(Bandeira)

Com narrativas bem estruturadas e simplesmente deliciosas de ler, o livro é repleto de metáforas, de influências, de referências e de análises inquietantes sobre os seres humanos e as suas infinitas contradições. O interessante é que ao longo da leitura de cada um deles podemos perceber sinais de algo que já lemos, mas nunca conseguimos descobrir exatamente o que. Com isso, ao final de cada capítulo, ele cuidadosamente coloca o poema que inspirou o conto e uma pequena biografia do poeta em questão. Incrível, não?
Trata-se de um livro que homenageia os poetas que já estão eternizados pelas palavras. Um livro original, intuitivo e absolutamente envolvente. É preciso ler com calma, com carinho e atenção, de forma a usufruir da beleza contida em cada frase, cada parágrafo, cada texto. O livro é incrível nos pequenos detalhes, nas pequenas visões dos personagens. A verdade é que existe poesia em tudo!

Entre as dez narrativas do livro, Tempo de esperança me envolveu de forma particular. Com uma análise que parte do olhar de um Senhor sobre a vida, o escritor aborda de maneira ímpar a melancolia do envelhecimento, da solidão, da morte, da finitude e até mesmo das palavras, que sempre estão por aí, rondando nossos dias e nossas dores.

"Depois que o médico me olhou e me sorriu uma lástima de morte, percebi que chovia mesmo dentro de mim sem parar."
(Tempo de esperança)
Também merece destaque a ideia inovadora de Alex no conto A Solidão é um cão que ladra e morde. O escritor escreveu duas versões para o mesmo título, o que mostra ao leitor que toda história pode ter dois lados, duas interpretações, dois resultados. Tudo depende do olhar... Nesse texto ele ainda se utilizou de uma citação do livro Memórias de Emília, de Monteiro Lobato:

“A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais. É portanto um pisca-pisca.”

Sem dúvida um livro que reflete com charme e pompa as intempéries da vida, que nem sempre se comporta da forma como almejamos, mas que sempre nos conduz ao refúgio sossegado e discreto da alma...
























"A mulher desviou o rosto, seus olhos pingavam feito chuva fina por um sentimento que ela não queria rever, pediu um café bem forte ao garçom, ainda enxugou os olhos, gritou seco para dentro, áspera de amor e de ódio."
(Trama)


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