Chester Brown Editora WMF Martins Fontes

Pagando por sexo, por Chester Brown

01:39Kellen Pavão











Seriam os relacionamentos amorosos frutos exclusivos de uma construção cultural?

A graphic novel Pagando por Sexo de Chester Brown foi publicada no Brasil em 2012 pela Editora WMF Martins Fontes e discute a relação entre amor, sexo e prostituição.

Nesta história em quadrinhos autobiográfica, Chester revela como desconstruiu o ideal de amor romântico após o rompimento com sua última namorada, Sook-Yin.

A história começa com Sook-Yin revelando a Chester que se apaixonou por um outro homem. Chester lida bem com a situação e aceita a proposta de Sook-Yin de continuar o namoro até que ela tenha certeza a respeito de seus sentimentos. Chester aceita até mesmo dividir a casa com o namorado de Skook Yin enquanto vê seu namoro acabando naturalmente.





Apesar da passividade de Chester incomodar aos seus amigos, ele parece confortável diante da situação e inicia um processo irreversível de desconstrução do amor romântico. 

Ele acredita que a superioridade do amor romântico frente às outras formas de amor é uma construção social, e que uma relação romântica traz à tona insegurança, ciúme e outros sentimentos negativos. Segundo ele, o amor entre amigos ou entre familiares é tão satisfatório quanto o romântico, além de ser menos excludente. Ele ainda constata que com o passar do tempo o desejo sexual diminui em uma relação monogâmica, o que acaba comprometendo a convivência e o interesse do casal.

Reconhecendo suas necessidades sexuais, o personagem conclui que recorrer aos serviços de uma prostituta pode ser a melhor alternativa para que ele tenha sexo à sua disposição quando desejar, sem precisar se envolver em uma relação amorosa. Assim que opta por pagar por sexo, Chester reflete sobre questões como: lugar ideal, privacidade, segurança, etc. 
Ele também utiliza a história, a literatura e a cultura para justificar a idealização do amor romântico, que nem sempre existiu. Como ressalta o personagem, durante muito tempo esta forma de relacionamento era exceção e um privilégio de poucas pessoas. Assim, Chester acredita que é possível ser feliz abdicando da ideia de um único amor a ser procurado por toda a vida. Para ele, o amor romântico exclui e causa frustração na maioria das pessoas que passam a vida a procurar a sua alma gêmea, ou um "amor verdadeiro".

Ao explicitar suas relações sexuais com as prostitutas de forma tão natural, Chester provoca ainda uma reflexão sobre a importância da descriminalização da prostituição. Uma das razões reside no fato de que inúmeras mulheres comprometem sua segurança e temem um estigma social, escondendo a atividade de todas as pessoas, o que faz com que elas se sintam acuadas e não tenham a quem recorrer em uma situação de perigo, além da falta de apoio psicológico.

A cada novo encontro ele entra em contato com a vida de algumas garotas, revelando também detalhes sobre medos, rejeições, auto-estima e até algumas conversas mais pessoais. No entanto, o autor se preocupa em preservar os maiores detalhes evitando que as mulheres sejam expostas e consequentemente identificadas, atribuindo nomes falsos e omitindo características físicas reveladoras como piercings e tatuagens. 


Talvez o autor tenha exagerado em alguns momentos na desconstrução do amor romântico, pois ao fazê-lo totalmente acaba desconsiderando que existem muitos casais que se adaptam em relações amorosas e são felizes em suas relações monogâmicas. Considerar quase todas uma construção social pode ser uma análise um pouco reducionista, diante das tantas possibilidades e formas de amar existentes. Além disso, por mais que relacionar-se com amigos e familiares seja fácil e natural para uns (como foi para Chester) para outras pessoas é tão ou mais difícil quanto uma relação amorosa, portanto talvez o problema resida na forma como cada um se relaciona . 

Ainda assim a construção da história e dos argumentos justifica o sucesso de Pagando Por Sexo no mundo underground das HQ's. A forma como argumentou, a naturalidade do autor, a abertura para o diálogo (expondo o ponto de vista dos amigos), o dia a dia das prostitutas e principalmente as questões sociais que ele trouxe à tona constitui uma brilhante reflexão sobre o universo da prostituição e sobre as relações humanas.







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