Companhia das Letras Crítica

Persépolis, de Marjane Satrapi

00:27Universo dos Leitores

 
Sempre tive vontade de ler a autobiografia em quadrinhos de Marjane Satrapi, e felizmente este ano pude conhecer Persépolis, um dos melhores quadrinhos que já li.

Marjane apresenta sua família e mostra sua história através de suas memórias de infância. Esperta, inteligente, bem humorada e sensível, Marji, como é chamada, narra o contexto histórico e político do Irã. Por meio de seus olhos é possível conhecer os detalhes da Revolução Islâmica e sobre a onda conservadora que invadiu o seu país.
A consolidação do fundamentalismo religioso no país e a imposição do islã como religião oficial é narrada de forma muito didática, já que Marji tem pais politizados e revolucionários, com ideias completamente opostas ao rígido regime instaurado.. 

Assim, ainda que a história seja narrada do ponto de vista de uma criança, é possível conhecer as regras que passam a vigorar na sociedade iraniana e  o impacto que tais mudanças provocam no cotidiano dos iranianos, como a mudança radical de vestimentas, a forma com que as pessoas se relacionam além de outras características do conflito no oriente médio. 

Graças à condição financeira e à consciência política de seus pais, Marji consegue ter uma infância "blindada" até certo ponto, já que eles dão a ela total liberdade para se expressar. Ainda assim, o uso obrigatório do véu, os novos costumes e a inferiorização da mulher na sociedade limitam a liberdade de toda a família.

Por esta razão, logo o temperamento forte e os ideais revolucionários de Marji começaram a chamar a atenção alimentados pela conscientização política de seus pais. Quanto mais Marji se destacava ao confrontar a religião e os métodos de ensino, mais escolas fechavam suas portas para ela, já que a menina ameaçava a autoridade das educadoras.

Assim, temendo a castração da liberdade de expressão de Marji, e buscando assegurar sua educação laica, seus pais optam por enviá-la para estudar na Áustria afastando-a temporariamente do fundamentalismo religioso no Irã.

Longe do carinho e da compreensão de seus pais, afastada de sua cultura e sem nenhuma referência familiar, Marji amadurece ao enfrentar inúmeras  dificuldades tão longe de casa. Assim que ela retorna se entristece ao constatar que quanto mais o tempo passa, mais rígido se torna o regime. A constante ameaça de bombas, a falta de liberdade e a intolerância intensificam as dificuldades na vida dos iranianos e em especial de sua família, que tem um posicionamento político e religioso diferente do que lhes é imposto.
Apesar de toda dramaticidade da história, é possível se divertir em muitos momentos com a narração leve e engraçada de Marji, especialmente na infância. A pequena Marji cresce, amadurece e consolida a personalidade forte que seus pais tanto lutaram para preservar. 

O traço simples, monocromático e as linhas curvas lembram muito as xilografuras (ou gravuras em madeira)  de cordel. Tudo isto aliado ao belíssimo roteiro faz com que Persépolis seja uma história emocionante, intensa e dramática que encontra suavidade e poesia na esperança de um futuro melhor. 


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