Crítica De profundis

De Profundis, de Oscar Wilde

00:00Universo dos Leitores

"Sofrer é um momento muito prolongado. Não podemos dividi-lo por estações. […] Para nós o tempo não progride. Ele gira. Parece circular em torno de um centro de dor."

Depois de passar pela Rússia e pela Itália, o Projeto Viagem na Literatura, criado pelo blog Pausa Para um Café, aterrissou na Irlanda. Para homenagear o país eu escolhi o escritor Oscar Wilde, que dispensa apresentações. Famoso pelo clássico O Retrato de Dorian Gray, Wilde sempre foi conhecido como um verdadeiro amante das artes e da vida.

Acontece que no tempo em que ele viveu a sociedade era extremamente conservadora e preconceituosa, e o homossexualismo era considerado um crime capaz de conduzir um homem à prisão.  Diante disso, no ano de 1895, quando o seu o romance com o jovem Alfred “Bosie” Douglas foi descoberto, nada conseguiu livrrá-lo da prisão. Naquele momento os valores tradicionais tiveram mais relevância que toda a fama e renome do escritor.

Trancado, angustiado e com diversas reflexões em mente, Wilde escreveu uma bela, intensa, poética e longa carta ao rapaz, o verdadeiro responsável pela sua derrota e pela sua falência. Devido à qualidade narrativa da carta, que mesmo sem viés literário é uma verdadeira obra de arte, ela foi publicada anos depois, em um livro intitulado De Profundis, que veio para o Brasil pela Editora Tordesilhas e ganhou a cuidadosa tradução de Cássio de Arantes Leite.

"Reconhecer que a alma de um homem é incognoscível é a conquista suprema da Sabedoria. O mistério final é a própria pessoa."

Ler essa carta é como mergulhar no íntimo do escritor, conhecer os seus medos, a sua trajetória, o seu coração e a sua forma de ver o mundo. Ao mesmo tempo em que tentava condenar "Bosie" pela postura sempre repleta de interesses e pelos gastos excessivos, Wilde tentava entender o rapaz e justificar as suas atitudes. O que ele descreve, em síntese, revela uma relação de amor e ódio, de paz e de conflito, de construção e desconstrução.

De acordo com Wilde, sua capacidade para a escrita reduzia na presença do rapaz, já que ele vivia preocupado com os gastos descontrolados e com as atitudes impensadas dele, o que lhe impedia de trabalhar. Segundo ele, o relacionamento com o jovem "Bosie" foi completamente destrutivo e feriu intensamente a sua ética e o seu intelecto.  Contudo, por diversas razões, ele nunca conseguiu colocar um fim naquele vínculo, principalmente porque o rapaz não desistia de procurá-lo.

Talvez essa carta tenha sido para Wilde como um desabado. Talvez tenha sido um meio de se descobrir ou, quem sabe, tenha sido apenas uma forme de continuar fazendo literatura, mesmo quando nada mais fazia sentido.

Essa é sem dúvida uma narrativa maravilhosa, que merece ser lida com atenção e cuidado, já que toca profundamente o nosso coração. Aqui você vai se deparar com um Wilde sincero, com a alma aberta, o coração dolorido e um misto de esperança e desilusão. 
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