Crítica Editora Objetiva

O vilarejo, por Raphael Montes

11:00Angélica Pina

O autor Raphael Montes se apresenta no prefácio do livro como o tradutor de manuscritos antigos que chegaram às suas mãos, em uma língua desconhecida que, após muitas pesquisas, ele descobriu se chamar cimério. Impressionado com a maldade e o terror das histórias, divididas em sete capítulos, ele decidiu compartilhá-las com seus leitores. Segundo Montes, não foi possível encontrar nada que indicasse a localização do vilarejo que abriga os moradores dessa história.

“O vilarejo, se existiu em algum momento, sumiu do mapa.”

Cada conto do livro é intitulado com o nome de um demônio: Belzebu, Leviathan, Lúcifer, Asmodeus, Belphegor, Mammon e Satan. Eles foram classificados por um padre e demonologista em 1589 como os responsáveis por invocar os sete pecados capitais nos seres humanos: gula, inveja, soberba, luxúria, preguiça, ganância e ira, respectivamente.

Em cada conto, conhecemos alguns dos moradores do vilarejo e entendemos como esses demônios se manifestaram em cada um deles, de acordo com as situações que precisaram passar graças à fome, a guerra e o frio que acometiam a região àquela época.

“Como não ceder aos pecados da carne quando a guerra chega e o inverno castiga, quando o frio e a fome tomam conta, quando uma força maior parece conspirar e rodear os moradores para que eles se entreguem a seus piores instintos?”
O mais interessante e o que torna a leitura mais instigante é como os contos se interligam de diferentes formas. O leitor vai percebendo elementos e detalhes que foram citados bem no início e que vão ganhando mais sentido quando conhece outros personagens e suas histórias.

Os contos são bem curtos, mas todos trazem princípio, meio e fim. Fim, diga-se de passagem, geralmente surpreendentes.

O posfácio serve para dar aquele “estalo” e o leitor pensa: uau!

Quem me conhece sabe que terror, suspense e mistério, definitivamente não fazem parte das minhas leituras preferidas, mas admiro muito a inteligência de Raphael Montes desde que li Dias perfeitos. Seu estilo de narrativa é muito envolvente e seus livros são do tipo que não conseguimos largar antes de concluir a leitura.

O vilarejo vem com indicações de peso na capa e contracapa, como Fernanda Torres, André Vianco e Raphael Draccon e traz uma diagramação sensacional em sua edição. Cada conto traz uma ilustração de Marcelo Damm que serve para deixar a narrativa ainda mais “indigesta”. Algumas páginas respingadas de sangue também aparecem para destacar certas cenas.

O horror de O vilarejo não é provocado por personagens ou elementos sobrenaturais, o que deixa tudo ainda mais assustador. As histórias proporcionam ao leitor uma reflexão sobre até onde a maldade do ser humano pode chegar, principalmente quando situações adversas servem para justificar seus atos.

“Humanos vivem carregados de uma crueldade sufocada.”  
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