Cherie Priest Crítica

Ela está em todo lugar, de Cherie Priest

00:00Angélica Pina

May e Libby se conheceram no colégio, no 6º ano, quando ambas foram dispensadas da aula de Educação Física e tiveram que passar um tempo no playground das crianças menores. O chão estava repleto de pedaços de giz e Libby começou a demonstrar seus dotes artísticos, fazendo desenhos pelo pátio. Nesse dia, elas criaram a Princess X, uma princesa desenhada com cabelos azuis, coroa dourada na cabeça, vestido de mangas bufantes, All Star vermelhos nos pés e uma espada katana na mão. As garotas decidiram criar histórias com aquela personagem e não demorou muito para que se tornassem melhores amigas.

“May escrevia um bocado, Libby desenhava outro bocado, e aí, lá pelo último ano do ensino fundamental, tinham criado uma biblioteca inteira dedicada à Princess X.”

As duas meninas faziam tudo juntas e não tinham outros amigos a não ser uma a outra, até que um dia, depois de buscar a filha na aula, a mãe de Libby dormiu ao volante e seu carro caiu de uma ponte, sendo resgatado dois dias depois com seu corpo. Só duas semanas depois o corpo da garota foi encontrado na água, já completamente irreconhecível, mas com suas roupas e sua carteirinha de estudante no bolso.

May passa os anos seguintes inconformada com a perda da amiga, sonhando várias vezes que Libby tinha conseguido sair do carro e nadado para a superfície, escapando da morte, mesmo porque ela não viu seu corpo, que foi velado em um funeral com caixão fechado.
 Já fazia três anos desde essa fatalidade quando May viu pela primeira vez, na vitrine de uma loja, um adesivo que trazia estampado o desenho da Princess X. Depois de muito buscar, ela descobre que existe um site que traz um webcomic com a personagem, que já era considerado o mais famoso da internet e o mais misterioso, já que ninguém sabia quem tinha criado. May não reconhece a história nem os personagens que estão lá além da princesa, aquele não era o enredo que ela e a amiga haviam criado. Mas ela tem certeza que não pode ter sido outra pessoa além de Libby.

“Aquilo não era só um produto da sua imaginação maluca, não era uma coincidência acidental com um desenho bonitinho de outra pessoa, e nem um caso grave de nostalgia fazendo-a ver o que ela, lá no fundo, queria ver. Era mesmo a Princess X. A Princess X dela. A Princess X de Libby. Estava lá, na internet, e isso queria dizer que era bem real.”

A partir daí, May envolve-se em uma profunda investigação para tentar descobrir mais sobre a história, com a expectativa de reencontrar sua amiga, que ela passou a acreditar firmemente que ainda estava viva. Ela conhece Trick, um vizinho que entende tudo de informática e decide ajudá-la na pesquisa e busca pela verdade. Mal sabiam eles que correriam riscos e enfrentariam coisas que sequer poderiam imaginar.

“Do canto do olho, ela viu Trick a observando. Ele tremia um pouco. May estendeu a mão para tocar o braço dele, fingindo que estava muito controlada e tentando mantê-los juntos, quando, na verdade, tudo que ela queria era encostar em alguém para ganhar um pouco mais de confiança. A incerteza dele a fez se sentir menos bobinha e menos como uma traidora por também ter seus próprios medos, daquele mesmo jeito.”
Em “Ela está em todo lugar”, Cherie Priest traz uma história juvenil repleta de mistério e suspense, onde personagens bastante inteligentes desvendam pistas e precisam cometer atos corajosos para provar que é verdade algo que somente eles acreditam. 

A narrativa dinâmica em terceira pessoa aliada às ilustrações que trazem trechos da história da Princess X faz com que a leitura seja bem ágil e divertida. Por trás do enredo descontraído, a autora faz abordagens sérias e importantes, como a darknet e suas transações ilegais, a falta de segurança ao navegar na internet, principalmente para os mais leigos no assunto, além da obsessão de um ser humano que sofre por um trauma por perder um ente querido.


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