A resenha desta semana traz a história real de Chris McCandless , narrada por Jon Krakauer no dramático livro “Na Natureza Selvagem”. Para tanto, Jon Krakauer refez a tragetória de McCandless, colheu relatos, depoimentos, diários de viagem e tudo quanto possível, o que torna o livro verdadeiro e convincente.
Chris McCandless é um jovem de classe média alta que acaba de se graduar após um excelente desempenho acadêmico. Diferentemente dos colegas de graduação, excitados com a formatura, Chris se mostra incomodado com a cerimônia e já apresenta um comportamento diferente dos demais ao recusar o auxílio dos pais para custear a faculdade de Direito que pretendia fazer, bem como um carro que os pais pretendiam lhe dar como presente de formatura. Sua relação com os pais é frágil e seu maior vínculo é com a irmã Carine.
Ao voltar para o campus, Chris doa todo dinheiro que tem e parte sozinho na maior aventura de sua vida, abandonando todos os bens e laços familiares que possuía. Chris parte rumo à natureza selvagem, onde pretende se aventurar sem ajuda, sem dinheiro e sem informar aos pais acerca do seu destino.
O autor e jornalista Jon Krakauer não segue uma narrativa linear, e começa a história de trás pra frente em termos cronológicos. Já sabemos o destino de Chris McCandless desde os primeiros capítulos. No entanto, o livro não fica menos interessante e confesso que várias perguntas surgiram em minha mente. Por que um jovem com um futuro promissor como Chris abriria mão de tudo aquilo que possui para viver esta arriscada aventura? Quais são seus objetivos?
Logo estas perguntas são respondidas e percebemos que Chris McCandless não é um jovem comum, logo seus objetivos e ideais não cabiam mais com a convivência tensa e regrada que tinha com os pais (de quem ele guarda um extremo rancor) ,menos ainda com o padrão de vida com o qual a maioria da sociedade sonha.
Não, Chris McCandless não buscava reconhecimento acadêmico, não buscava um carro novo, uma vida confortável, um bom emprego, família, rotina. Chris era mais que tudo isso. Ele queria viver intensamente, quebrar regras, fazer coisas diferentes e seguir seus verdadeiros instintos, fungindo do mundo de vaidades que tanto o amedrontava. E isso é passado com clareza por Jon Kraukauer, que com uma linguagem simples e muito objetiva, consegue trazer toda à tona a emoção dessa aventura vivida por Chris.
Esta linguagem simples, aliada aos relatos e depoimentos, ora fazem com que o livro lembre um documentário, ora trazem emoção com as narrativas dramáticas que descreviam a trajetória do jovem aventureiro. Vários trechos de grandes clássicos da literatura abrem os capítulos. São trechos de livros que McCandless adorava e que levou em sua jornada. A leitura é agradável e os relatos históricos dão ainda mais veracidade aos fatos narrados.
A caminhada de Chris é fantástica, ele conhece pessoas interessantes, vê a maldade do mundo de perto, faz inúmeras amizades e se deslumbra com o gigantismo da natureza selvagem. Não se trata de um personagem “inventado”, mas sim de uma pessoa de carne, osso, defeitos, qualidades. Chris queria simplesmente viver, sem ter planos e sem engessar seu destino, entregando-se ao curso natural dos acontecimentos. E foi justamente esta veracidade da história que me encantou no livro. O que vemos é uma vida real, de um homem que acredita na suas escolhas, erra, acerta, sente medo, chora, sorri, vive com muita intensidade e é o senhor de suas escolhas.
Para nós leitores, ficou a sensação de que sua morte é muito cruel, talvez até irônica. Chris, que tanto admirava a natureza e seus recursos, morrer de inanição em meio a imensidão selvagem talvez não é o destino que esperávamos. Como seria se Chris tivesse retornado do Alaska? Que histórias contaria, como seria sua relação com a família, qual a maior lição que ele tirou de toda essa aventura? São perguntas para as quais nunca teremos uma resposta definitiva. Só sabemos que Chris teve a vida que escolheu e arcou com as consequências de suas decisões, vivendo intensamente até os últimos instantes.
Por fim, devo lembrar que mesmo quando estava sozinho e isolado da civilização Chris conseguiu nos contar sua história através de tantos registros que deixou pelo caminho. Pouco antes de morrer Chris anotou um trecho perturbador no livro Doutor Jivago de Boris Pasternak: “FELICIDADE SÓ REAL QUANDO COMPARTILHADA”. Isso evidencia a solidão que pode ter assombrado os últimos dias de McCandless, e que talvez ele tenha percebido o peso de suas escolhas tarde demais. No entanto nada é capaz de tornar sua jornada menos brilhante e encantora.
1 comentários
Nossa se não sabe fazer resenha então não faz.
ResponderExcluirContar que o personagem principal vai morrer de inanicao é no mínimo filha da putagem!
Obrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...