Ao Sul de Lugar Nenhum Charles Bukowski

Especial Charles Bukowski: Ao Sul de Lugar Nenhum

07:30Universo dos Leitores

Olá Leitores! A resenha de hoje é importante duas vezes... Primeiro porque estamos com a programação especial para o escritor Charles Bukowski e segundo porque é a primeira resenha da nossa nova colunista, a Daniela Figueiredo. Então aproveitem! 
Incômodo. Essa é a palavra que faz de Charles Bukowski um autor tão amado na mesma proporção em que é odiado. Sua escrita ágil recheia as páginas de Ao Sul de Lugar Nenhum – Histórias da Vida Subterrânea com muita vulgaridade, relações conturbadas, alcoolismo e sexo. São 27 contos cujos personagens vivem à margem dos padrões sociais, retratando não só sua própria biografia, mas também evidenciando a condição de milhares de pessoas que são considerados “excluídos”da sociedade. 

Toda a visceralidade contida na obra traz como referência sentimentos existentes em todo ser humano: solidão, tara, fracasso, egocentrismo, curiosidade, entre outros. 

Logo no primeiro conto, Buk, que costuma escrever em primeira pessoa, optou pelo contrário ao narrar a história de Edna, uma mulher solteira que se depara com o anúncio PROCURA-SE MULHERES no vidro de um carro estacionado. A carência e solidão de Edna a deixa instigada a procurar o dono do anúncio para saber sua intenção e a jovem acaba encontrando a desilusão. 

Em “Nenhum Caminho para o Paraíso” a tara é explorada por um casal que observa seres humanos em miniatura transando e a cena os faz sentir prazer ao observá-los e consequentemente imitar suas ações. É a necessidade fisiológica da humanidade expressada da maneira mais explícita possível, reforçando o estilo ácido Buk de ser.

Mas há um nome que aparece em 10 contos e marca sua obra pelas histórias de alcoolismo, violência doméstica infantil e propotência: Henry Chinaski. O alterego do autor está presente em praticamente todos os seus trabalhos e relatam muitos fatos da vida de Buskowski. Mas em “Classe” Chinaski representa um desejo reprimido do autor ao propor uma luta de boxe com o escritor Ernest Hemingwaye vencê-la. Como se não bastasse a vitória, Hemingway é humilhado ao ser deixado de lado enquanto Chinaski ascende.
              
Já em “Colhões” Buk usa Chinaski para desabafar: “Como qualquer um pode lhe dizer, não sou um homem muito bom. Não sei que palavra usar para me definir. Sempre admirei o vilão, o fora-da-lei, o filho-da-puta. Não gosto dos garotos bem barbeados, com gravatas e bons empregos. Gosto dos homens desesperados, homens com dentes rotos e mentes arruinadas e caminhos perdidos. São os que me interessam. Sempre cheios de surpresas e explosões. Também gosto de mulheres vis, cadelas bêbadas que não param de reclamar, que usam meias-calças grandes demais e maquiagens borradas. Estou mais interessado em pervertidos do que em santos. Posso relaxar com os imprestáveis, porque sou um imprestável. Não gosto de leis, morais, religiões, regras. Não gosto de ser moldado pela sociedade.”
Ler Bukowski é refletir sobre a condição humana, principalmente sobre o velho modelo de publicidade de margarina que em nada condiz com a realidade, seja na década de 50 ou nos dias de hoje e o autor sabe, melhor do que ninguém, jogar isso na cara do leitor. Buk é a indigestão à hipocrisia e aos valores pseudo-morais comuns. É “a vida como ela é” de Nelson Rodrigues satirizando a própria vida.


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