Cia das Letras Crítica

O Fio das Missangas, de Mia Couto

01:00Universo dos Leitores

 
“A vida é um colar. Eu dou o fio, as mulheres dão as missangas.”

Em fio das miçangas o autor entrou em um universo feminino e teceu cada uma das histórias como uma miçanga tece um colar. A sua forma poética de escrever extraiu a alma das palavras e me encantou completamente. 

Mia couto apresentou uma linguagem vigorosa e lírica, reproduzindo a voz de sua terra natal, Moçambique. O seu estilo por vezes lembrou o de Guimarães Rosa, escritor idolatrado por ele.

Os 29 contos presentes no livro invadiram o mundo feminino, dando às mulheres o direito à palavra e colocando significado na nulidade e no abandono que sofrem. Ele demonstrou que para a cultura daquele povo, as mulheres são como objetos descartáveis, que não possuem valor e não merecem respeito. 

As histórias são curtas e centradas na observação dos contextos, personagens ou meras disposições emocionais com valores subtendidos. Os neologismos de Mia devem ser vistos com atenção e cuidado para que possamos compreender melhor as suas mensagens e as suas idéias. 

Abrangendo diversos temas, entre eles morte, insanidade, violência, suicídio e insesto, cada história cativa de forma singular, o que nos mantém presos até o fim da leitura. 

O interessante da obra é a possibilidade de visualizarmos um universo feminino diferente do que vivenciamos atualmente. Por mais que ainda exista, no nosso mundo o preconceito em relação às mulheres já não tem tanta força como em Moçambique. É incrível perceber que por lá a mulher ainda é subjugada e considerada um ser à disposição dos homens. Esse ângulo diverso, somado à visão sensível de Mia, tornou a obra incrível! Vale conferir... 

Sobre Mia:
O escritor Mia Couto nasceu na cidade de Beira, em Moçambique, no ano de 1955. Ele é um dos autores africanos mais importantes, e é constantemente comparado a Gabriel Garcia Márquez, Guimarães Rosa e Jorge Amado. Sua obra-prima Terra Sonâmbula foi eleita uma das melhores do século XX na África. Conquistou o prêmio Vergílio Ferreira pela totalidade de sua obra em 1999; em 2007 angariou o prêmio União Latina de Literaturas Românicas.



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