Chuck Klosterman Crítica

O Homem Visível, de Chuck Klosterman

00:30Universo dos Leitores

Sobre o livro:

Quando a psicóloga Vicky recebeu a ligação de um paciente que resolveu chamar de Y__, ela não tinha como prever as conseqüências que o relacionamento com ele trariam para a sua vida. Estranho, dominador, extremamente inteligente e com um raciocínio rápido, ele exigiu ser atendido por telefone e se recusou a passar informações complementares sobre a sua vida. Após um tempo, ele apareceu para a psicóloga e a partir daquele momento, ela nunca mais foi a mesma. 
Y__ era cientista e havia desenvolvido uma roupa capaz de torná-lo invisível aos olhos das pessoas. Com isso, ele invadia lares e sem se preocupar com questões éticas, analisava a vida dos moradores e as formas de comportamento, descrevendo sentimos e reações de forma única e peculiar. As suas conclusões, sempre racionais e inquietantes, permitiram reflexões sobre a conduta das pessoas ante às exigências do mundo moderno: o culto pelo corpo bonito, pela família perfeita e pela preservação da aparência acima de qualquer coisa. Ele constatou que ninguém era autêntico na presença de outrem, que a autenticidade só existia na solidão do lar. 

Na medida em que ele ia contando as suas experiências para Vicky, menos ela conseguia compreender o que ele esperava com o tratamento e qual o fim aquilo poderia levar. A verdade é que ela sequer conseguia distinguir o que era real e o que era imaginação de Y__. Em meio a erros com a tentativa de acertar, cada vez mais ela se envolveu com o paciente e com o seu intelecto, o que acabou lhe conduzindo a uma situação irreversível e surpreendente. 
Minhas Impressões:

Contada por meio de e-mails, mensagens e transcrições de atendimento, a história foi estruturada como uma reconstrução de fatos, no entanto, algumas passagens refletiram a opinião pessoal da psicóloga, que enquanto narrava a sua experiência tentava entender o que a levou a agir de uma maneira ou de outra. 

O interessante do livro foi que o escritor não se preocupou em criar personagens perfeitos. Y__ fugiu a todos os padrões sociais e seu comportamento questionável aos nossos olhos lhe parecia tão natural e aceitável que ele não se permitia arrependimentos. Vicky, a terapeuta, não conduziu o caso com o profissionalismo esperado, o que lhe conferiu uma característica comum a todos os seres humanos: a dificuldade em lidar com o desconhecido e o deslumbramento pelo novo, pelo incomum.

O ritmo da história foi simplesmente excelente! As reflexões apresentadas foram tão incríveis e plausíveis que por vezes me esqueci do fato de que nada daquilo era real já que a invisibilidade ainda não existe. A verdade é que o escritor se utilizou do impossível para criticar os seres humanos, questionar o comportamento, lançar reflexões sobre a modernidade e sobre a falta de coerência dos nossos objetivos. No entanto, em meio às inúmeras inovações constantes da história e da forma de narrativa adotada, senti que a preparação para o final deixou um pouco a desejar. 
{pode conter spoilers} Após inúmeros encontros entre paciente/cliente, Vicky percebeu que Y__ estava se apaixonando por ela. Não posso dizer muito para não estragar as surpresas, mas acredito que neste ponto o escritor conduziu a história para uma seara comum e deixou de inovar. A postura de Y__ ao longo de toda a narrativa era de uma pessoa incapaz de desenvolver sentimentos específicos por alguém, então senti que esse envolvimento emocional contrariou a essência do personagem e o reduziu à condição de um homem comum que apenas se portava de forma estranha, no entanto, aos meus olhos o tamanho da sua obsessão e da sua necessidade de criticar o homem e as suas diversas personalidades, jamais permitiriam que ele desenvolvesse algum tipo de amor. 

Claro que o escritor não criou um romance e uma história de amor. Ele conseguiu conferir surpresas ao final e deixou sinais de que Vicky jamais poderia se sentir inteiramente segura após tudo o que viveu, mas mesmo assim senti falta de algo “maior”. Como ao longo da obra o escritor levantou inúmeras questões e não se preocupou em respondê-las, penso que o livro merecia um término mais aberto e provocativo. 

Só para não deixar dúvidas, termino dizendo que mesmo com essa consideração eu indico o livro. Foi uma leitura incrível, prazerosa e diferenciada! 
A Edição:

Não tem como deixar de mencionar a edição da Editora Bertrand. Impressos em papel soft-touch, os olhos desenhados na capa parecem saltar do livro, o que causa uma sensação incrível quando tocamos o exemplar. A cor viva também contribui para a beleza e para o impacto visual. O livro é leve, a história está em folhas amareladas, o que facilita a leitura e a percepção do texto.

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