Crítica Editora Intrínseca

O Jantar, de Herman Koch

00:00Universo dos Leitores

Independente do que estiver acontecendo ao seu redor, abra um sorriso, seja simpático e aparente estar feliz, porque é isso que a sociedade exige, é isso que te torna superior aos demais. Essa é a premissa desse livro, que da primeira à ultima página, ressalta a hipocrisia social e te faz refletir sobre as suas atitudes perante os demais. 

Tudo acontece na noite em que os irmãos Paul e Serge, acompanhados das respectivas esposas, se encontram para um jantar. Serge, candidato a primeiro ministro e influente na sociedade, escolheu um restaurante elegante, luxuoso e disputado. Para Paul, nosso narrador, nada daquilo importa. Desde o fato de ter que agendar uma data para comer naquele restaurante, à postura dos funcionários que bajulam os clientes, tudo o incomoda. Contudo, nenhum incômodo ou desconforto pode ser levado em conta, afinal, cabe a ele a função de mostrar ao irmão o quanto está feliz e bem resolvido. 

“Se eu tivesse que dar uma definição de felicidade, seria esta: a felicidade não precisa de nada além dela mesma, não precisa ser sancionada. ‘Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira’ é a frase de abertura de Anna Karenina, de Tolstói. A única coisa que eu poderia acrescentar a isso é que famílias infelizes – e, entre famílias, em especial o marido e a mulher infelizes – nunca são infelizes sozinhas. Quanto mais pessoas para comprovar, melhor. A infelicidade adora companhia.”
Inicialmente, os casais optam por assuntos banais. Falam de filmes, viagens, gostos comuns etc. Enquanto participa do diálogo, Paul descreve as suas sensações diante da necessidade que o irmão tem de demonstrar superioridade ou diante dos preços absurdos e impraticáveis do restaurante escolhido e relembra fatos marcantes da sua vida  (as memórias do passado são essenciais para a compreensão da história como um todo). 

Acontece que quanto mais a noite se alonga, mais difícil fica para Paul ignorar o assunto que mais o incomoda: o comportamento do seu filho, que junto ao filho do irmão, cometeu atos inaceitáveis, criminosos e passíveis de graves conseqüências. 

"O dilema que eu enfrentava no momento era um que todo pai enfrenta mais cedo ou mais tarde: você quer defender seu filho, claro, quer protegê-lo mas não pode fazer isso com muita veemência, e acima de tudo não com muita eloquência - você não pode encurralar o outro. os educadores, os professores, permitirão que você fale, mas depois irão se vingar do seu filho."
No momento em que esse tema é colocado em pauta, o livro ganha novos contornos e a história toma um ritmo mais tenso e complexo. Ficamos diante de pais que sentem necessidade de proteger os filhos a qualquer custo. Pais que querem preservar a imagem da família a qualquer custo. Seres humanos em busca das soluções menos dolorosas, independente do que isso pode custar. 

Esse é um livro intenso, crítico, questionador. Um livro que nos leva a refletir sobre a nossa postura diante da vida e das nossas escolhas. Você gosta mesmo de sorrir para todos, frequentar os locais mais caros que te deixam pouco à vontade e viver uma vida para mostrar aos outros que é feliz? Até que ponto você está em equilíbrio com os seus valores e as suas prioridades?

"Antes de tudo, era a sensação de constrangimento por tabela, a ideia insuportável de que líderes de governo de todo o mundo conheceriam a presença vazia de meu irmão. Como, mesmo na Casa Branca e no palácio do Eliseu, ele iria engolir seu tournedos em três bocados porque precisava comer agora. Os olhares significativos que os líderes de governo trocariam. “Ele é da Holanda”, diriam — ou talvez apenas pensassem, o que seria ainda pior. Aquela sensação de vergonha por tabela era uma constante. Sentir vergonha de nossos primeiros-ministros era o único sentimento que criava uma ligação impecável entre uma administração holandesa e a seguinte."
Essa foi uma leitura surpreendente! A linguagem é acessível, a narrativa envolvente, os milhares de detalhes são essenciais para a compreensão da angústia do narrador. Além disso, como existem muitos diálogos, a leitura é rápida e fácil.

Vale a pena conferir!

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