A Nova utopia Crítica

A Nova utopia, de Jerome K. Jerome

00:45Universo dos Leitores



Publicada em 1891, a sátira futurista A Nova Utopia é considerada a mais antiga e uma das três obras que originaram o gênero distopia, juntamente com o livro Nós de Eugene Zamyatin  (sobre o qual falarei em breve) e Tacão de Ferro de Jack London. 


A história é narrada por Jerome K. Jerome através de um conto distópico que satiriza o protótipo de igualdade que poderia levar ao fim da individualidade dos homens. Conhecemos a história por meio de um terceiro observador que satiriza os ideais socialistas defendidos por amigos e conhecidos. É interessante notar que o observador interage e argumenta de forma comedida, o que destaca seu papel de espectador ao longo da história.

Após ouvir a apaixonada defesa da ideologia socialista por parte de seus amigos, este espectador segue para sua casa pensativo , afetado de forma negativa por todas as discussões. Percebe-se que ele teme o que pode acontecer com a distorção da utopia discutida naquela noite. O caos de seus pensamentos acabam vencendo-o pelo cansaço, fazendo com que ele caísse no sono antes de chegar perto de qualquer conclusão. 

Ao despertar o homem percebe que está no futuro, mais precisamente no século XXIX, sob um novo regime político. Após a Revolução Social de 1899, não havia mais individualidade ou distinção entre qualquer membro da sociedade.

As roupas, os nomes, as atividades e todas as características individuais foram relativizadas em prol de uma ideia de igualdade que coloca o coletivo acima  do indivíduo e centraliza toda a autoridade existente na figura do Estado. 

Diferentemente do que ocorre com outros livros do gênero, em A Nova Utopia Jerome K. demonstra claramente uma indisposição com o socialismo, e é bem direto ao denominar e questionar a ideologia.  Ele associa consequências negativas ao socialismo e faz uma sátira sobre o que poderia acarretar quando todo poder está centralizado nas mãos do Estado.

Até mesmo a metáfora do "narrador- viajante do tempo" mostra claramente a intenção do autor de prever o que poderia significar a deturpação da ideologia, de forma muito plausível em muitos momentos, ou de forma exagerada (e satirizada) em outros, como no trecho a seguir:

"Sim, quando um homem está muito acima do tamanho e força médios, cortamos uma de suas pernas ou braços, de modo a tornar as coisas mais iguais, nós o nivelamos um pouco como você pode ver. A natureza, como você pode perceber, deixa um pouco a desejar, mas nós fazemos o possível para endireitar as coisas."

É possível perceber muitos elementos de A Nova Utopia nas distopias publicadas posteriormente, como a já citada Nós - de Zamyatin, Admirável Mundo Novo - de Aldous Huxley e 1984- de George Orwell. Mas o tom em cada obra é bem diferente, e Huxley nega ter se inspirado em outras outras.


Recomendo a leitura do texto, seja pela sua importância para o gênero, seja pelas reflexões que provoca. Um ótimo começo para quem deseja conhecer melhor as distopias da literatura!



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