As cidades invisíveis Editora Companhia das Letras

As cidades invisíveis, de Italo Calvino

00:51Universo dos Leitores


Dando continuidade ao projeto Viagem na Literatura criado pelo blog Pausa Para um Café, hoje trago pra vocês a resenha de As cidades invisíveis, do escritor italiano Ítalo Calvino.

A breve história que se passa por volta do século 13 é protagonizada pelas cidades fantásticas descritas detalhadamente por Calvino, de uma forma não linear. 

Calvino fantasia um diálogo entre o viajante Marco Polo e o Imperador dos tártaros Kublai Khan e narra com precisão a viagem do mercador ao longo de 55 cidades.

“Às vezes o espelho aumenta o valor das coisas, às vezes anula. Nem tudo o que parece valer acima do espelho resiste a si próprio refletido no espelho. As duas cidades gêmeas não são iguais, porque nada do que acontece em Valdrada é simétrico: para cada face ou gesto, há uma face ou gesto correspondente invertido ponto por ponto no espelho. As duas Valdradas vivem uma para a outra, olhando-se nos olhos continuamente, mas sem se amar”.

Em sua narrativa, Calvino apresenta  através da voz  e figura do viajante Marco Polo sua perspectiva fantástica e minuciosa das cidades que visitou em sua jornada diplomática, enquanto tornamo-nos expectadores das histórias juntamente com o grande imperador mongol Kublai Khan, ouvinte das narrações. 

Não sei quando você encontrou tempo de visitar todos os países que me descreve. A minha impressão é que você nunca saiu deste jardim."

Enquanto certas descrições entusiasmadas do mercador veneziano nos mostram a supremacia de uma sociedade em ruínas, percebemos as constantes transformações e o renascimento de cidades que estão sempre se adaptando. Os cenários são construídos diante de nossos olhos e conseguimos ter uma experiência única, já que as descrições de Italo Calvino nos permitem imaginar e interpretar livremente. 
 
"Anastácia, cidade enganosa, tem um poder, que às vezes se diz maligno e outras vezes benigno: se você trabalha oito horas por dia como minerador de ágatas ônix crisóprasos, a fadiga que dá forma aos seus desejos toma dos desejos a sua fortuna, e você acha que está se divertindo em Anastácia quando não passa de seu escravo”.

Além desta uma gama de interpretações e reflexões diferentes, percebemos que o viajante parece se divertir misturando realidade e ficção. Suas descrições envolvem realidade e fantasia de forma tal, que se torna difícil identificar o que é realidade ou invenção do narrador. 


Além disto, o uso frequente de metáforas e a imprecisão proposital de Italo Calvino por vezes confunde e pode causar uma certa estranheza ao longo da leitura, tirando-nos da zona de conforto. 

Honestamente, não tive tanta empatia com o livro quanto esperava, talvez pela ausência de clímax ou mesmo por não ter me identificado com seu estilo. Costumo gostar de muitas descrições, mas desta vez não consegui me envolver à história como gostaria, talvez por achar algumas descrições um tanto quanto cansativas.

Mas uma coisa é certa: não há como negar a habilidade de ítalo Calvino com as palavras  e a sua capacidade de possibilitar diversas interpretações. Quem resolver "embarcar" nesta viagem vai poder tirar proveito da imaginação, da linguagem e poderá ainda ir muito além da trajetória física, explorando a jornada e absorvendo uma experiência distinta distinta de outros leitores em razão da multiplicidade de interpretações.

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