Bordados Crítica

Bordados, de Marjane Satrapi

00:00Universo dos Leitores


Conversas dia adentro, confidências, memórias, segredos, sentimentos velados, dor, amor, CUMPLICIDADE.

Depois de conhecer  o arrebatador quadrinho autobiográfico Persépolis, fiquei curiosíssima para ler Bordados, o último trabalho de Marjani Satrapi publicado pela Companhia das Letras através do selo Quadrinhos na Cia em 2010.

Na cultura iraniana, Bordado é uma cirurgia de reconstrução de hímem para atestar a virgindade de uma mulher, já que preservá-la é motivo de honra. Uma outra conotação para bordado nesta mesma cultura é o bate papo equivalente ao nosso "tricô", quando jogamos conversa fora, trocamos confidências, etc. 

O bordado, (bate papo) é seguido por um chá chamado Samovar, que tem todo um ritual de preparo e de apresentação. Após o almoço, as mulheres do ciclo familiar de Marjane se reúnem na sala para aguardar o chá e para iniciar os "bordados". 

Bordando suas histórias, essas mulheres tecem e exibem memórias de forma crua e honesta mostrando que há muito mais por trás da figura submissa que costumam representar.  Na medida em que o "bordado" ganha corpo, as conversas ficam cada vez mais íntimas e reveladoras e estas mulheres tem a oportunidade de se expressar e revelar mesmo os mais profundos segredos. Sexo, costumes, dor, amor, independência são alguns dos temas confidenciados durante o Samovar com muito humor e sarcasmo na maior parte do tempo.

Nunca é demais lembrar que, a sociedade iraniana é pautada pelos costumes religiosos e pela prevalência da cultura patriarcal, que oprime e sufoca a voz de suas mulheres. Por esta razão o bordado representa um símbolo de resistência e uma comovente manifestação de liberdade. Resistência porque, uma vez longe da mão opressora e dos olhares julgadores dos homens estas mulheres podem se revelar, expondo seus sentimentos mais velados. E também é um sinal de liberdade, já que muitas mulheres iniciam a vida sexual antes do casamento e recorrem à cirurgia para não serem julgadas, ou mesmo excluídas.



No chá elas ganham  voz, vez e exercem o protagonismo de suas histórias sem se preocupar com a censura social que tanto as oprime. Marjane deixa isto bem claro ao narrar a cena em que seu avô interrompe a conversa e tenta se aproximar, sendo imediatamente expulso da sala esposa para preservar a intimidade de todas ali presentes. 

Se em Persépolis temos Marjane como protagonista, em Bordados somos conduzidos por todas as mulheres que participam do Samovar. Marji é uma expectadora na maior parte do tempo e integra este grupo de mulheres reunidas para se expressarem. 

No quadrinho Bordados, temos muitas características semelhantes à Persépolis: o traço simples e monocromático de Marjani Satrapi, a manifestação ideológica, o contexto social como pano de fundo e principalmente a pauta feminista agregada ao senso de humor característico de Marjane Satrapi. Imagino que vocês já tenham percebido o quando gostei do livro. A leitura foi sensacional e mais uma vez me encantei pelo trabalho e pelas histórias da talentosa Marjane Satrapi, que é uma contadora de histórias incrível. Espero que você também tenha a oportunidade de conhecer este trabalho brilhante. 




                                                                         

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