André Vianco Crítica

Os Sete, de André Vianco

00:10Marcio Vicente



A Aleph é bem conhecida pelas obras de ficção cientifica editadas e publicadas no Brasil, a qualidade e o cuidado com a apresentação destas obras faz com que os leitores tenham cada vez mais empatia e carinho com a editora. Eis que agora a Aleph nos brinda com as obras de André Vianco, autor nacional de terror e fantasia. 

E ela começa com o primeiro livro dele, publicado originalmente em 1999, a obra “Os Sete”....

Vianco nos trás neste livro a historia de dois amigos que descobrem uma caravela portuguesa naufragada no litoral brasileiro, tendo dentro dela uma imensa caixa, toda de prata, com o seguinte aviso sinistro:


“Nobres homens de bem, jamais ouseis profanar este túmulo maldito. Aqui estão sepultados demônios viciados no mal e aqui devem permanecer eternamente. Que o Santo Deus e o Santo Papa vos protejam.”

Não sei vocês, mas eu já li muito livro e assisti muito filme de terror pra saber que não seria uma boa abrir a tal caixa. Mas o que seria da literatura e do cinema se a curiosidade humana fosse refém do medo?

Estes amigos acabam “vendendo” a descoberta para uma universidade e a caixa acaba sendo aberta, encontrando-se dentro dela sete “múmias" que se descobre, tarde demais, tratar-se de antigos vampiros aprisionados a quase quinhentos anos naquele lugar (ao longo do livro eu fiquei me perguntando por que raios os portugueses resolveram desovar aquilo por aqui...).

O livro é muito bom, tem um enredo envolvente e faz com que nos esqueçamos que fadas podem se fantasiar de vampiros, pois deixa vir a tona a face mais macabra deste mito que atravessou séculos e tomou conta do mundo, aliás vale a pena ler sobre o mito do vampiro em outra obra da Aleph, em “O Vampiro antes de Drácula”, Martha Argel e Humberto Moura Neto nos trazem a genealogia do imortal mais sanguinário da historia, lançando luz tanto sobre a origem “histórica” do mito tanto quanto a origem literária do mesmo. Sobre a origem “histórica” achei interessante o seguinte trecho:

"O vampiro folclórico eslavo, ancestral do vampiro contemporâneo, não nasceu simplesmente do nada. Ele evoluiu a partir de criaturas que o precederam, provenientes da Europa e da Ásia. (...)"

Da mesma forma o vampiro passou a existir como entidade bem definida (“espécie”) ao adquirir seu conjunto único de atributos, a partir de criaturas ancestrais que exibiam algumas características vampíricas, mas não todas. Cinco tipos diferentes de seres sobrenaturais amalgamaram-se para resultar no vampiro sérvio ancestral:

· os mortos-vivos ou revenants, como os Nachzehrer alemães, que se alimentam dos corpos dos parentes mortos;

· espíritos que fazem visitas noturnas, como os íncubos e súcubos da igreja católica romana;

· seres tomadores de sangue, como os estriges (strix), bruxas da Roma antiga;

· os bruxos eslavos e balcânicos, que fazem malefícios mesmo após a morte;

· os licantropos ou lobisomens, pessoas que se transformam em lobos, e depois de mortas voltam para tomar sangue alheio, como os vrykolakas grego. (O Vampiro antes de Drácula. Organização, comentários e tradução Martha Argel e Humberto Moura Neto. São Paulo, Aleph, 2008, pgs. 18-19)
Numa época em que fatos reais não eram explicáveis a luz dos conhecimentos existentes o vampirismo era usado como a explicação ideal para tudo o que estava fora dos parâmetros esperados, como a aparência roliça e saudável de alguns cadáveres, resultado do inchaço do corpo pelos gases aprisionados no inicio do processo de decomposição ou o aparecimento de terra revirada nos túmulos dos recém sepultados. (Argel e Moura Neto, 2008) [você teria coragem de ir até um cemitério e passar a noite ali para comprovar que a terra revirada sobre os recém sepultados era porque cães ou lobos famintos tentavam desenterrar os cadáveres para se alimentar? Não né? Então pode ir tirando este sorrisinho maroto da cara....]

André Vianco conseguiu reunir as características históricas dos vampiros eslavos descritas por Argel e Moura Neto, originarias dos cinco seres sobrenaturais que deram origem ao mito vampiresco em seus personagens.

O livro de André Vianco é uma obra de terror e fantasia que vale a pena ser lido, inclusive as partes de terror são dignas de noites escuras e solitárias, bem como de pesadelos perturbadores (se um dia este livro virar filme vai ter a classificação indicativa para além dos 18) imaginar as cenas descritas por ele dá calafrios. Os personagens conseguem resgatar o mito do vampiro e o adaptar bem aos trópicos brasileiros.

E para a felicidade dos ansiosos de plantão a Aleph já publicou a continuação do livro, “Sétimo”, que foi lançado no 2ª Feira Intergaláctica Aleph que ocorreu sábado dia 12/11/2016 em São Paulo.


Bora ler....


*Este livro é uma cortesia da Editora Aleph

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