Carina Corá Livros

Memórias Fictícias, de Carina Corá

06:30Isabela Lapa

"Quando estamos mal, é melhor escrever o que sentimos e pensamos. Muitas vezes, o melhor é deixar nossa mão nos guiar e, com surpresa, ler o que escrevemos e nem sabíamos que iríamos escrever. Minha dica, Coralina, conte ao livro a sua história, antes que você esqueça o que é realidade e o que é sua criação". 

Memórias Fictícias é um livro diferente, emocionante, intrigante! A história, dividida em quatro diários, conta a trajetória de Coralina de Lilá, uma garota repleta de vida e de juventude que é obrigada a se mudar para outa cidade em razão de uma escolha de Tarsila, sua mãe, que resolve cuidar de Bianca, uma freira já idosa e que é o seu único laço com o passado. 

Ao chegarem no local, Coralina se depara com uma casa antiga, rústica, com um cheiro peculiar e com uma torre no centro (torre esta que não combinava com a construção e parecia não estar encaixada na mesma). Apesar das impressões sobre a casa, o que a deixa realmente desconfiada é Bianca, que possui um olhar misterioso, dolorido e cínico, completamente diferente da forma como se porta e se comunica.

Intrigada com os mistérios da freira, Coralina cria uma enorme curiosidade pelo que pode estar escondido na torre. Mesmo com as ameaças de Bianca, ela não se contém e resolve invadir a torre. Ao subir as escada que conduzem ao local, a garota se depara com uma forte luz azul e com um homem, Érus, repleto de mistérios e com uma aparência muito atraente. Movida pela paixão e pelo interesse acerca do desconhecido, a garota entra em um caminho sem volta, um caminho que tira a sua percepção acerca do real e do imaginário, que muda o seu destino e a sua vida. 
Com uma narrativa envolvente e misteriosa somos conduzidos a uma linda história de amor, de vingança, de perdão e de sofrimento. Com uma sensibilidade ímpar, a escritora mistura o real e o imaginário e permite questionamentos sobre as nossas escolhas e as nossas prioridades.

Sobre os diários:

O primeiro diário é a visão de Coralina, as suas dores, sua paixão e os seus arrependimentos.  

"Eu preferia gozar a dormir um sono calmo. Essas eram as diferenças entre as magias que eu sentia, e acabei escolhendo a "poção" errada". 

"Assim passei a dedicar a minha vida àquele homem de olhos de universo e pele que reflete a alma". 

"(...) Eu teria que escolher viver uma ou outra realidade, e não ambas cheias de lacuna"

O segundo e o terceiro diário demonstram a visão de Bianca sobre a história, a sua obsessão, sua culpa e o seu posterior arrependimento.

"Coralina tinha uma pureza que me encantava, que contradizia todos os meus piores sentimentos e me deixava sem reação, sem saber o que pensar sobre ela e sem entender o que eu realmente sentia".

"- Desculpe-me, Senhor, por todos os meus pecados...
Foi a primeira vez que rezamos juntas".

O último, igualmente emocionante, demonstra a visão de Érus, a sua dificuldade em permear o que é real e o que é imaginação, a sua luta contra os seus impulsos e a sua loucura (ou não). 

"Minha única reação foi olhar-me no espelho e perguntar-me se eu era bom o suficiente para fazê-la me amar."

"Queria me tornar normal. Queria me curar para poder ver Coralina todos os dias e lhe pedir desculpas por tê-la feito sofrer tanto. Mas eu sei que ela iria se curar e então eu não a machucaria mais". 

Apesar de independentes eles se completam. A história é moldada como um colcha de retalhos, as pontas vão se fechando aos poucos e as emoções aumentam a cada página, a cada diálogo e a cada pensamento. Somente quando concluímos a leitura conseguimos compreender tudo o que se passou com cada personagem. 
Sobre a escritora:

Carina Zatti Corá nasceu em Caxias do Sul, RS em 12 de fevereiro de 1993. Escreve contos e peças de teatro há anos. Iniciou o desenvolvimento do livro Memórias Fictícias ainda no Ensino Médio e o concluiu em seu intercâmbio na Dinamarca. Lá criou um blog como diário virtual com dicas para futuros intercambistas. Sempre buscando a escrita, cursa Teatro na Universidade Federal do Rio Grande do Sul onde trabalha como bolsista na área de recepção teatral e criação dramatúrgica. Em 2012, a EditoraNovo Século proporcionou a oportunidade de publicação do primeiro livro da autora através do projeto Novos Talentos da Literatura.



                                                   

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