Crítica Editora Valentina

Fale, de Laurie Halse Anderson

05:30Isabela Lapa


Sobre o livro:

Melinda era uma jovem de 13 anos, feliz e completamente normal. Certa noite, em uma festa organizada pelos veteranos da sua escola, com o intuito de comemorar o início das férias de verão, ela foi estuprada e chamou a polícia. As amigas, indignadas pelo fato de que ela estragou a festa, resolveram criticá-la sem ao menos perguntar as suas razões, com isso, ela fugiu da festa e se trancou no seu mundo - perdeu o interesse pela escola, foi excluída pelas amigas e começou a viver um doloroso e profundo silêncio. 


"Eu tinha feito um megaesforço para me esquecer de cada segundo daquela maldita festa, e cá estou eu, no meio de uma galera hostil, que me odeia por causa do que tive que fazer. Não posso contar para eles o que realmente aconteceu. Não consigo nem pensar naquela festa. Um rugido animal brota do meu estômago".


O que representava a sua mudança comportamental e o seu silêncio? O que havia acontecido e quais as razões para tudo? Essas perguntas não foram feitas por ninguém. Os amigos se afastaram, os pais julgaram o comportamento e optaram por entendê-lo como uma "crise existencial" enquanto continuaram a se preocupar com o trabalho e com os problemas do casamento. 

A partir dessa premissa, a história, que foi narrada em primeira pessoa, se apresenta com um diário. Melinda descreveu os seus pensamentos, a sua angústia, a sua dor. Ela demonstrou de forma clara o seu desinteresse pelo mundo e pelos acontecimentos ao seu redor, mas demorou muito a conseguir revelar o seu segredo, o motivo da sua grande aflição e da sua mudança radical. 

Com uma sensibilidade incrível e uma percepção profunda do universo das vítimas de abuso sexual, a escritora construiu uma história marcante, envolvente, importante para conscientizar as famílias, as escolas e principalmente os jovens. Um livro impactante e envolvente! 

O universo abordado no livro:


Laurie Halsen aborda no livro uma questão muito peculiar e pouco comentada: a mudança comportamental de uma adolescente que sofreu uma violência sexual. Normalmente os livros se preocupam com o crime ou com o criminoso, com isso a questão da vítima por vezes passa despercebida. Em "Fale!" é diferente! Todo o foco da narrativa é a postura de Melinda após o abuso - o seu silêncio, o seu isolamento, o seu quadro depressivo e a sua solidão.


"Está cada vez mais difícil de falar. A minha garganta ferida, os meus lábios em carne viva. Quando acordo de manhã, o maxilar está tão contraído que me dá dor de cabeça… Sempre que tento conversar com meus pais ou um professor, balbucio ou congelo. O que tem de errado comigo? Ã‰ como se eu tivesse algum tipo de laringite espasmódica."

O interessante da obra é que de forma sensível a escritora conseguiu demonstrar que muitas vezes a maior dificuldade enfrentada pelas vítimas não é a aceitação do ato violento, mas sim a falta de compreensão da sociedade com a sua dor, que em regra é vista como uma crise existencial típica da idade. Laurie mostra a importância de se atentar para os jovens com um olha mais crítico, mais atento, afinal, muitas vezes, os fatos graves podem ser percebidos nos pequenos detalhes.

Um ponto interessante abordado na obra foi a questão da arte. Melinda encontrou na matéria uma fuga para a sua dor e para o seu medo. Enquanto desenhava e trabalhava no projeto passado pelo professor, conseguia fugir dos seus pensamentos e se sentir mais leve. 

As conquistas da escritora:

O trabalho cuidadoso da escritora conseguiu atingir resultados incríveis e fez com que a obra se tornasse objeto de estudo de diversas escolas. Para demonstrar a relevância da narrativa, o livro conta com depoimentos de vítimas e com dados reais sobre a violência sexual.

Um filme denominado "O Silêncio de Melinda":

O livro foi adaptado para o cinema com o nome "O Silêncio de Melinda". Apesar de conservar muito da obra, a adaptação não conseguiu transpor com a mesma intensidade as reações de Melinda. No entanto, para os que gostam de cinema, vale conferir!



" A minha família não conversa muito e tem nada em comum, mas, se a minha mãe preparar uma ceia adequada nesse feriado, isso significa que então seremos uma família por mais um ano. Lógica Kodak, aparência é tudo. 

Só nos comerciais de TV esse tipo de coisa funciona."



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