Crítica Editora Galera Record

Flashforward, de Robert J. Sawyer

00:00Angélica Pina

O pesquisador canadense Lloyd Simcoe, de 44 anos e o físico grego Theo Procopides, 27, são os responsáveis por um grande experimento que está prestes a acontecer no CERN (centro de pesquisas de partículas), localizado em Genebra. Almejando ganhar o Nobel caso tenham sucesso, a intenção é conseguir enfim encontrar o bóson de Higgs e mudar de vez os rumos da Ciência. Às dezessete horas em ponto, do dia 21 de abril de 2009, exatamente quando o colisor de íons do experimento é acionado, todas as pessoas do mundo inteiro experimentam algo inédito: apagam em uma espécie de desmaio por cerca de dois minutos e, nesse tempo, tem um vislumbre de como estarão suas vidas dali a 21 anos.

Quando as pessoas acordam do “transe”, percebem o caos formado por causa desses dois minutos: aviões e carros ficaram desgovernados e acidentes aconteceram por toda parte, cirurgias foram interrompidas, enfim, tudo que estava acontecendo parou devido ao súbito desmaio coletivo. Milhares de pessoas morrem e autoridades do mundo inteiro querem entender o que aconteceu. Nenhum registro ficou gravado em câmeras de segurança. As únicas pessoas que suspeitam que podem ter tido algum papel no que desencadeou o fenômeno, batizado de Flashforward, são as que estavam no CERN.

“Os criacionistas dizem que os cientistas não sabem do que estão falando, e eles têm razão; metade do tempo, nós não sabemos. Nós abrimos a boca cedo demais, sempre em tentativas desesperadas de virar a autoridade suprema, de ganhar crédito. Mas cada vez que nós erramos... cada vez que dizemos ter feito uma descoberta revolucionária na busca pela cura do câncer ou que resolvemos um mistério fundamental do universo e depois voltamos atrás uma semana ou um ano depois dizendo “ooopa, estávamos errados, não verificamos os fatos, não sabíamos do que estávamos falando...”, cada vez que isso acontece, damos crédito aos astrólogos, aos charlatães, aos malucos completos.”

Todo mundo começa a compartilhar que tipo de visões teve sobre o futuro. Lloyd fica perturbado pelo fato de ter se visto bem mais velho, casado com uma desconhecida, que definitivamente não era a engenheira Michiko Komura, 35, sua atual noiva. Michiko, por sua vez, viu-se no Japão com uma filha de aproximadamente 7 anos que, obviamente, ainda não tinha sido gerada. Theo simplesmente não teve uma visão, o que leva à conclusão de que em 2030 ele não estará vivo. Pessoas do mundo inteiro passam a “cruzar” suas visões, o que dá ainda mais credibilidade de que elas são mesmo fatos sobre o futuro, pois umas confirmam as outras. E é assim que Theo descobre, através de uma mulher que durante os dois minutos do Flashforward estava lendo uma notícia sobre sua morte, que em 2030 ele será assassinado.

A partir daí, cada um começa a tentar fazer algo para mudar o próprio futuro ou para que ele de fato aconteça. Lloyd se vê no terrível dilema de ter que decidir se prossegue com os planos de se casar com Michiko ou não, já que entende que o casamento vai acabar e no futuro ele estará com outra mulher. Ela tem convicção de que o futuro pode ser diferente do que apareceu nas visões, mas o pesquisador acredita plenamente de que, tanto quanto o passado, o futuro é algo imutável. Theo passa seus dias tentando descobrir mais informações sobre quem pode querer assassiná-lo e os motivos para tal, com o intuito de prevenir que aconteça. 

“E o que ele estava pensando era: talvez o aviso de que o casamento não duraria necessariamente tivesse sido a melhor coisa que poderia ter acontecido. Como todo casal, eles haviam imaginado que o casamento duraria até que a morte os separasse. Porém, agora ele sabia, desde o início, de uma forma que ninguém jamais soubera, nem mesmo aquelas pessoas que, como ele, eram filhos de pais separados, que a coisa não era necessariamente para sempre. Que só duraria se durante cada minuto acordado de sua vida ele lutasse, se esforçasse e fizesse o máximo para isso. Sabia que, se fosse se casar, o casamento teria de ser sua prioridade número um. Não sua carreira, não o maldito Nobel ilusório, não as resenhas dos colegas, não as sociedades.”

Nesse contexto, o autor insere diversas reflexões sobre o quanto o ser humano tem controle sobre os acontecimentos em sua vida e o quanto pode alterar aquilo que está destinado a ter e ser.

Sawyer opta por personagens com visões diferentes, para explorar as diversas possibilidades sobre o assunto, o que enriquece a narrativa e provoca no leitor a necessidade de decidir em qual verdade acreditar.

Muitos termos científicos são utilizados e quem é leigo na área pode não entender muita coisa, mas isso não interfere no entendimento geral da obra. O ritmo de leitura é bem frenético, a narrativa abala emocionalmente e em certos momentos de suspense chega a tirar o fôlego.

Uma grata experiência para mim que não tenho muito costume de ler histórias de ficção científica. Um livro inteligente, realmente muito bom!


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