Crítica Editora Gutenberg

Três céus, de Enderson Rafael

00:00Angélica Pina

Lucas Luchesi é um comissário que gosta do que faz e, apesar da facilidade de voar para perto dos amigos e dos pais sempre que tem uma folga, sente-se sozinho na maior parte do tempo. Lucas já relacionou-se com garotas que tem a mesma profissão que ele, mas ainda não encontrou aquela que de fato corresponde às suas expectativas. Até que começa a sentir-se diferente com relação a uma comissária que conhece há bastante tempo.

“Como todo ano acontecia, o Dia dos Namorados se aproximou mais uma vez, inexoravelmente. Uma data puramente comercial, é verdade, mas que lembrava a Lucas que sim, ele estava só. Ficava com uma aqui, outra ali, na vã esperança de encontrar o amor de sua vida, mas não se sentia no caminho certo. Desde o ano anterior não se apaixonava de verdade e, romântico, precisava disso, precisava sentir-se assim.”
Patrícia Milano é a típica garota do interior que sonha em ir para a “cidade grande” para conquistar o mundo e realizar seus sonhos. Mesmo os pais não gostando, ela sai de Paraty e vai para São Paulo e torna-se comissária. Primeiro mora em uma pensão barata, depois passa a dividir um apartamento com Raílson, Joyce e Carol, também comissários. Paty tenta manter o longo namoro com Marcos mesmo ele tendo ficado em Paraty, mas a distância cria problemas para o relacionamento dos dois, embora ambos gostem um do outro.

“- Mas, bah, aviador é assim mesmo... Quando tá com outros aviadores, só fala de mulher. Quando tá com mulher, só fala de avião... – Ricardo arrancou uma risada gostosa de Patrícia.”

Fernando Villas é um piloto conhecido por ser sério, responsável e agradável com os outros tripulantes. Ele é casado com Sônia e pai de João Vítor e Ana. A filha mais velha está viajando para a Europa e a esposa, cansada de ficar sozinha com o filho de apenas 5 anos por causa da ausência do marido que está sempre pilotando e cada dia em uma cidade, decide que o ideal é mudar-se com o caçula para Teresópolis, muito mais tranquila que São Paulo, onde vivem no momento.

“- Eu não sou um cara religioso, Jairo, não fiquei esse tempo todo sem trair porque a família é algo sagrado ou com medo de ir pro inferno. Lógico que tentações existem muitas, e por mais que eu não seja isso tudo, a Juliana não é a primeira comissária gata a me dar mole. Mas eu vejo o casamento como um compromisso, sabe? Um compromisso com a mulher com quem você casa, sim, mas muito mais com você mesmo.”
As vidas desses três profissionais da aviação cruzam-se em determinado momento, obviamente, muitos metros acima do chão.

A narrativa de Enderson Rafael, comissário de vôo e piloto, é recheada de termos técnicos e jargões utilizados em aeroportos e aviões, o que pode tornar o começo da leitura um pouco difícil, mas além de um glossário no final do livro com todas as definições e significados, as explicações são bem contextualizadas e ajudam na compreensão da história.

Três céus tem o poder de mudar a forma do leitor de perceber como é a rotina dos tripulantes de um avião e entender que, por trás da aparência de prestadores de serviços simpáticos e bem treinados, cada um deles é um ser humano como outro qualquer que ama, sonha, passa por crises e dificuldades. Além disso, fica claro que a principal preocupação de cada um é manter os passageiros em total segurança.

A narrativa é toda em terceira pessoa e mescla a linguagem mais técnica citada anteriormente a outra bem coloquial durante os diálogos, repleta de regionalismos que demonstram bem a diversidade dos personagens que compõem a trama e que é natural para quem trabalha com gente do Brasil inteiro.
Admito que a leitura não me empolgou de imediato, mas à medida que fui conhecendo melhor os personagens, envolvi-me com cada um deles e, preciso dizer: próximo ao final, os acontecimentos são eletrizantes. Adrenalina e expectativa foram às alturas (ok, o trocadilho foi intencional! hehehe...) até o desfecho!

“O clima sempre fora cúmplice dos aviadores, e seu humor determinava a maneira como as coisas se desenrolariam no céu. (...) O tempo é o senhor da razão quando o assunto é aviação, tanto no seu sentido cronológico quanto climático, por mais discordantes que consigam ser entre si.”



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