Adriana Falcão Crítica

Queria ver você feliz, de Adriana Falcão

00:00Universo dos Leitores


Queria Ver Você Feliz é o novo livro da escritora Adriana Falcão, que como muitos de vocês já devem saber, é uma das minhas escritoras preferidas da literatura infantil e juvenil da atualidade. 

Eu gosto não só da forma singela e delicada com a qual ela aborda os sentimentos, mas também, e principalmente, da capacidade que ela tem de organizar as palavras e transformar frases simples em frases completamente poéticas e repletas de significado. É impossível não se apaixonar por Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento (♥), A Máquina, Luna Clara e Apolo Onze, a Gaiola e todos os todos os outros títulos que ocupam um lugar especial na minha estante. 

Por todo esse envolvimento que tenho com as histórias criadas por ela, foi uma grande surpresa descobrir que um novo livro seria lançado e mais, que não seria livro um livro de ficção, mas sim, baseado na história de um amor verdadeiro e inesquecível. A sensação de alegria misturou com uma sensação de curiosidade, afinal, escrever ficção e escrever sobre a vida real são coisas bem diferentes ou, pelo menos, eu imagino que sejam.
Comecei a ler o livro e na primeira página eu já estava completamente encantada pela descrição do narrador, ainda com sexo indefinido, mas que de cara tinha características muito parecidas com as minhas: intenso, um pouco louco e sempre verdadeiro. Imaginem então, a minha sensação ao descobrir que aquele tal narrador não era ninguém menos que o AMOR, o grande responsável por muitos dos nossos sorrisos e também por muitas das nossas lágrimas.

“Faz parte da minha natureza transgredir, invadir, violar. Não me interessa desimpedir impedimentos, não necessito de acordos, não me apresem os “a contento”, não sou de pedir licença, não estou nem aí para sorrisos hospitaleiros, não me venham com xícaras de chá. Estou, sim, belicosamente plantado no meio de olhos que não se devem olhar, corpos interditos, condições incompatíveis, atos ilícitos, corações desautorizados.”
Com uma forma elegante e distinta, o Amor começou a contar a história de Maria Augusta e Caio, que se conheceram em 1940 e se apaixonaram como todos os jovens se apaixonam: para sempre. Acontece que como a vida real é bem diferente das histórias de ficção, para viver o sentimento mágico que desenvolveram, eles precisaram encarar todas as proibições da mãe de Maria Augusta, que por razões pessoais e justificáveis tentou afastar o casal. Em meio às infinitas cartas trocadas, esperas intermináveis, um pouco de ciúme e algumas idas e vindas, eles finalmente superaram aqueles problemas e se casaram com o aval das duas famílias. 

Contudo, ultrapassados os problemas da adolescência, eles passaram a encarar os problemas da vida adulta: filhos, instabilidades emocionais, dramas psicológicos, distâncias, viagens, mais filhos, mudanças de emprego e de cidade, insatisfações com essa vida que muitas vezes só consegue ser injusta, e muito mais...

É, a vida adulta não é nada fácil e muitas vezes essas dificuldades acabam com o amor... Mas isso, definitivamente, não aconteceu aqui. O amor, nosso querido narrador, persistiu até o fim, que não foi doce, não foi poético, não foi belo, mas que veio, como sempre vem.

“Os seus olhos vão me olhar como se fosse a primeira vez, e os meus olhos vão te olhar como se fosse a única, e não foi dessa vez ainda que alguma infeliz dificuldade nos afastou.” (Maria Augusta)
Uma coisa que não contei para vocês até agora é que uma das filhas de Maria Augusta e Caio é a Adriana. Sim, esta é uma história sobre os seus pais e a sua família. Talvez por isso ela tenha escolhido o amor como narrador. Ele foi não só o porta-voz da história, como uma metáfora para representar o que ela sentia enquanto escrevia cada uma daquelas páginas: amor, e só...

Tudo no livro é sensível e puro, exatamente como nos outros trabalhos da Adriana. Fiquei muito feliz em encontrar todo o seu estilo narrativo que tanto me apaixona nas pequenas frases e nos mínimos detalhes dessa narrativa verdadeira e profunda, que não foi escrita para um público específico, mas para todas as pessoas que acreditam no amor não só como um sentimento, mas como uma forma de viver.

“Descobri que Lua de Mel é um parque de diversões que acontece dentro da gente, portanto somos dois parques de diversão, com direito a incontáveis algodões-doces por dia.” (Maria Augusta) 

Eu terminei a leitura emocionada e fiquei assim por um bom tempo. Talvez, por meio dela, eu tenha compreendido que sim, é possível amar “para sempre”. O que não é possível é ser “para sempre”.

Acho que Vinícius de Moraes escreveu um poema e que se encaixa perfeitamente na vida de Maria Augusta e Caio, então vou finalizar essa resenha com ele, já que nada do que eu disser será suficiente:

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Dica: 

No YouTube tem um vídeo bem fofo com a Clarice Falcão e o Gregório Duvivier cantando "Learnin' the Blues", a música preferida de Caio e Maria Augusta, ouçam e entrem no clima...

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