Crítica Doze Contos Peregrinos

Doze Contos Peregrinos, de Gabriel García Márquez

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Publicado em 1992 e reeditado em 2013, o livro “Doze Contos Peregrinos” reúne diversos contos do escritor Gabriel García Márquez, que foram escritos e reescritos em períodos diferentes e ficaram guardados por muito tempo em cadernos esquecidos (o que foi devidamente explicado no Prólogo, que por si só já vale a leitura do exemplar).

Com personagens inspirados em pessoas que Gabo conheceu ao longo das suas viagens por diversos países da Europa, o livro é um misto de imaginação, realidade e memórias guardadas na mente de um homem perspicaz e cuidadoso. 

A maioria das histórias são narradas em primeira pessoa e todas possuem uma linguagem leve e acessível, o que facilita a leitura e a torna extremamente agradável. No entanto, apesar da aparente simplicidade, cada conto conserva uma profundidade particular e uma beleza ímpar. 

Mesmo apresentando contextos diferentes e histórias singulares, os contos possuem aspectos similares: abordam o comportamento e as reações das pessoas diante das dificuldades ou das situações inusitadas que a vida nos coloca. 

Entre todas as histórias reunidas na obra, três chamaram a minha atenção de forma especial: “A luz é como a água”, “Me Alugo para sonhar” e “O avião da Bela Adormecida”.

A primeira, “A luz é como a água” (de dezembro de 1978) é uma história com um tom infantil que narra a experiência de alguns garotos que na noite em que ficam sozinhos em casa resolvem navegar em um jorro de luz dourada que sai de uma lâmpada quebrada, imaginando se tratar de uma enorme fonte de água. A forma poética com a qual o escritor aborda o poder da imaginação e capacidade de sonhar que é tão intensa e contagiante no período da infância é simplesmente incrível. 

"Esta aventura fabulosa foi o resultado de uma leviandade minha quando participava de um seminário sobre a poesia dos utensílios domésticos. Totó me perguntou como era que a luz acendia só com a gente apertando um botão, e não tive coragem para pensar no assunto duas vezes.
— A luz é como a água — respondi. — A gente abre a torneira e sai."
Em “O avião da Bela Adormecida” (de junho de 1982) somos apresentados a um homem que compra uma passagem aérea e a viajante da poltrona ao lado é extremamente bela, o que lhe desperta desejos, imaginações e surpresas diante da forma como a beleza pode ser contagiante, estarrecedora e emudecedora. 

"Em seguida estendi a poltrona na altura da sua, e ficamos deitados mais próximos que numa cama de casal. O clima de sua respiração era o mesmo da voz, e sua pele exalava um hálito tênue que só podia ser o próprio cheiro de sua beleza."

No conto “Me Alugo para Sonhar” (de março de 1980), o personagem narrador conta a história de uma mulher que conheceu e que dizia ter o dom de sonhar com o destino das pessoas e, trazia esperança para muitos que simplesmente mudavam os seus destinos em busca das previsões da mulher. 

"— Em termos concretos — perguntei no fim —, o que ela fazia?
— Nada — respondeu ele, com certo desencanto. — Sonhava."
Adentrar em muitos detalhes é esvaziar a beleza da obra, que responde por si só. Sem dúvida um livro incrível e uma ótima forma de iniciar a leitura dos trabalhos de Gabriel García Márquez.

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