Crítica Editora Veneta

Tungstênio, de Marcello Quintanilha

00:00Universo dos Leitores

Tungstênio, a HQ de Marcello Quintanilha, que ganhou uma edição especial da Veneta, insere o leitor em um universo de violência e de injustiças sociais, e apresenta personagens intensos, verdadeiros e repletos de falhas e incertezas.

Com quatro histórias paralelas, que se apresentam por meio de flashbacks e possuem um ritmo ágil e envolvente, você vai conhecer um ex sargento, um traficante sem sucesso, um policial durão e uma esposa infeliz. Envolvidos em uma situação complexa (um crime ambiental que é o plano de fundo da narrativa) eles vivenciam momentos de tensão e desespero, e enfrentam uma realidade desumana e totalmente injusta.
Tudo começa quando o sargento Ney e o traficante Caju descobrem um grupo de pescadores que está se utilizando de explosivos para realizar as pescarias. Após sofrer muita pressão psicológica de Ney, o Caju não tem outra alternativa a não ser relatar os acontecimentos para Richard, um policial agressivo e estressado, para o qual trabalha como informante. 

No momento em que Richard aparece, descobrimos que ele é casado com Keira, mas que o casamento está perto de chegar ao fim, já que ele não sabe tratá-la com carinho e não sabe valorizar o relacionamento. 

O interessante dessa HQ é que ela não possui uma divisão precisa de tempo e sequer cortes. As cenas são apresentadas como se fossem um roteiro cinematográfico: tudo acontece ao mesmo tempo.

Enquanto alguns acontecimentos são muito rápidos, outros se desenvolvem em câmera lenta, mas entre uma imagem e outra, uma expressão ou outra, é possível captar a essência de cada personagem e sentir as emoções e as reações de todos eles. Quintanilha sabe os momentos exatos de agir e de mudar os cenários, com isso, ele mostra a sua genialidade e a sua capacidade para criar uma história de qualidade, que envolve e prende o leitor. 

Vale destacar que a linguagem utilizada na HQ é diferenciada e essencial para caracterizar o cenário no qual os personagens estão inseridos. As palavras são simples e, muitas vezes, colocadas sem a devida conjugação verbal, o que impressiona e nos transporta para uma realidade completamente diferente da que estamos inseridos.
Para contar essa história, Quintanilha se utilizou de vários recursos de linguagem:balões repletos de gírias e uma linguagem coloquial; um narrador que aparece relatando pensamentos gerais dos personagens e fazendo ligações rápidas entre os acontecimentos; e as ilustrações impecáveis que mostram o cenário de Salvador, com as suas praias, os seus morros, o seu povo e o seu calor. 

Esse é um trabalho delicado e sincero, com ilustrações vivas e impactantes, que saltam aos olhos e emocionam. Os tons acinzentados combinaram perfeitamente com o cotidiano cruel dos personagens e contribuíram para a força da narrativa e para a beleza da história.

Sem dúvida uma história realista, que reflete com muita beleza e humanidade a essência dos seres humanos, os problemas da vida moderna, das diferenças sociais e da violência. 
Um trabalho primoroso, que valoriza a arte dos quadrinhos e que merece muito destaque. Eu vi o título em quase todas as listas de melhores HQ's de 2014, mas só agora entendi o motivo... 

Leitura super, super indicada!


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