Crítica Desconstruindo Una

Desconstruindo Una, por Una

00:00Isabela Lapa


Violência contra a mulher, abuso sexual, machismo, descaso do poder público, violência de gêneros e amargas experiências pessoais. Esses são os temas dolorosos, mas extremamente importantes que são abordados nessa HQ.

Una, a nossa narradora, ao mesmo tempo em que relata as trágicas situações que vivenciou, apresenta informações que não podem ser desconsideradas e dados que precisam ser divulgados em todos os jornais, mas não são. 



"A polícia, a imprensa, o públicos, todos se concentraram em procurar evidências de moral questionável nas vidas do crescente número de mulheres que alguém atacou. Afinal, elas devem ter feito alguma coisa terrível para merecerem ser atacadas tão brutalmente - e o que é a pior coisa que uma mulher pode fazer?"


O interessante é que apesar de se passar nos anos 70 e relembrar a época em que o Estripador de Yorkshire cometia diversos crimes contra prostitutas na Inglaterra, a narrativa apresenta aspectos extremamente atuais acerca da violência contra a mulher e da sensação de culpa que as violentadas sentem, o que faz com que elas se calem. 


Além disso, com muita coerência e sem exageros ou sensacionalismos, a roteirista também descreve o papel desinteressado da Polícia e do Judiciário, que muitas vezes procuram desculpas ou se prendem a fatos pouco relevantes, o que acaba inocentando os criminosos. 

Outro aspecto relevante abordado na HQ é a postura da sociedade: a condenação das vítimas, a visão de que as mulheres sexualmente livres são vadias, a noção de que desejo só pode ser sentido por homens etc. 

“Ser explorado porque você é vulnerável não é a mesma coisa do que consentir”.


Se não bastasse todas essas questões e todas as informações contidas nas páginas de Desconstruindo Una, ainda nos deparamos com um relato sensível e emocionante da autora, que conseguiu, depois de muitos anos, se abrir em relação às violências sexuais que sofreu na adolescência. Ela descreve com muito cuidado a questão do silêncio, da depressão, da não aceitação e da dificuldade para construir novos relacionamentos e novos vínculos de confiança. 

Para além do roteiro perturbador, as ilustrações também são um ponto chave nessa narrativa. Com aspecto sombrio e desorganizado, elas conseguem ressaltar com intensidade os sentimentos de Una e nos colocam diante de toda a dor, angústia e desespero que ela enfrentou. 

Vale destacar que o pseudônimo Una foi escolhido pelo significado: um, uma vida, uma de muitas!

Sem dúvida uma HQ brilhante, que certamente estará no meu TOP 10. Leitura obrigatória para todos... Leiam, presenteiem, conversem sobre o assunto, discutam, pesquisem. Só assim podemos mudar esse contexto tão triste e tão real! 


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