Angélia Pina Cia das Letras

Romancista como vocação, de Haruki Murakami

00:57Angélica Pina


Esta autobiografia de Haruki Murakami permite que o leitor conheça muito da carreira e da personalidade deste importante escritor japonês.

Ele fala sobre como decidiu de uma hora pra outra, aos 29 anos, que gostaria de escrever um romance e explica como foi o processo de criar um estilo próprio para essa narrativa. Seu primeiro livro ganhou um concurso literário e, a partir daí, Murakami viu-se diante de um mercado e uma carreira que ele jamais havia imaginado para si.

Em tom de desabafo, Murakami fala sobre as duras críticas que recebeu, especialmente em seu país, o que fez com que preferisse ir para o exterior para continuar escrevendo. O autor fala sobre a economia do seu país de origem e aponta o que considera graves falhas do seu sistema de ensino.

Ele se auto intitula um homem recluso e até mesmo antissocial, que não gosta de holofotes, nem mesmo sessões de autógrafos e entrevistas. Por outro lado, mostra como foi cauteloso e estrategista para conseguir consolidar sua carreira, tendo suas obras traduzidas para diversos idiomas e países.

“(...) como separar o que é indispensável do que não é muito necessário e do que é completamente inútil? Vou falar com base na experiência que tive. Acho que um critério bem simples é perguntar a si mesmo: ‘Eu me sinto feliz fazendo isso?’. Se você está realizando uma atividade que considera importante para si mesmo, mas não consegue sentir prazer nem alegria com isso, não consegue sentir empolgação, provavelmente há algo errado, algo em desarmonia. Nesse caso, é preciso voltar à estaca zero e eliminar um por um os elementos desnecessários e artificiais que estiverem impedindo sua alegria.”

Como dicas para escritores iniciantes, Murakami fala sobre originalidade, tipos de personagens e conta sobre sua rotina e o tempo que gasta escrevendo, revisando e lapidando seu texto. 

Fala também como considera importante ter a opinião de outra pessoa depois que conclui uma obra e de como um bom condicionamento físico pode ajudar no processo criativo.

Apesar disso, o livro não deve ser encarado como um manual para romancistas, pois ele deixa bem claro o tempo todo que não há fórmulas exatas e que ele conta apenas o que funcionou ou não com ele próprio, suas experiências e opinião.

“(...) se você deseja escrever um romance, observe atentamente seu entorno. O mundo pode parecer monótono, mas está cheio de diamantes brutos, atraentes e misteriosos. Romancistas são aqueles que conseguem identificá-los. E, ainda melhor, eles são oferecidos quase gratuitamente. Se você tiver um bom par de olhos, conseguirá escolher e coletar livremente essas pedras preciosas brutas. Existe uma profissão mais fascinante do que essa?”

Eu, particularmente, gostei muito de conhecer esse lado de Haruki Murakami. Ainda não tive oportunidade de ler nenhuma de suas obras, mas fiquei muitíssimo curiosa depois dessa leitura.

Me identifiquei com muitos pensamentos do escritor e gostei de sua narrativa, simples, direta e objetiva. Ele é um pouco “seco” em muitas de suas colocações, com frases curtas que revelam bem como seu raciocínio funcionou enquanto escrevia. Todavia, ele parece muito honesto em tudo que diz, o que gera uma simpatia e respeito quase inevitáveis.

“(...) escrever é um trabalho solitário, principalmente no caso de romances longos. Às vezes me sinto como se estivesse sentado sozinho no fundo de um longo poço. Ninguém me ajuda, ninguém dá tapinhas nas minhas costas e me elogia: ‘Parabéns, hoje você fez um bom trabalho’. Às vezes (quando dá certo) a obra resultante desse trabalho recebe elogios, mas, enquanto escrevo, ninguém reconhece o que faço. É um peso que o escritor precisa carregar sozinho, em silêncio.”

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1 comentários

  1. Só pela sua descrição, acho que vou comprar. Obrigado pela partilha.

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