José Mauro de Vasconcelos Júlia Cavalhares

Meu pé de laranja lima e as emoções da infância

11:48Júlia Cavalhares



Pensei em algo que pudesse ser especial para a primeira resenha “oficial” e cheguei à conclusão de que nada pode ser mais importante do que aquilo que toca o coração. E “Meu pé de laranja lima” tocou bem fundo. Foi o primeiro livro que recordo ter me emocionado, quando eu ainda era uma criança leitora me compadecendo da dor e sofrimento de outro “pequerrucho”. 

Queria retomar a emoção, lembrar detalhes do livro. Como o destino nunca falha, uma ida à livraria me fez “tropeçar” em uma edição comemorativa de 50 anos publicada em 2018 pela editora Melhoramentos, com ilustrações belíssimas e notas explicativas que dão um charme especial. Era o início de um maravilhoso reencontro. 

Já na capa (ilustração belíssima, por sinal) me reencontrei com Zezé, o menino que carrega dentro de si um passarinho que canta e fala e é bem precoce para um garotinho de cinco anos. Precoce, como explica Tio Edmundo, é aquilo que se refere às “coisas que aconteciam muito antes das outras coisas acontecerem”. É também Tio Edmundo quem descortina para Zezé o mundo das palavras difíceis e quem, em primeira análise apresenta a possibilidade de uma figura adulta capaz de demonstrar afeto. 

Vivendo em uma realidade de pobreza e suas limitações, afeto não é um termo recorrente na rotina do garotinho, que leva surras memoráveis do pai e da irmã mais velha e que foram responsáveis por fazer transbordar os olhos desta leitora envolvida. Transbordaram também é fato, com o amparo dado pela irmã Godoia que tentava amenizar o sofrimento de Zezé. Um sofrimento mais da alma do que do corpo. Às vezes o passarinho até parava de cantar... 




Mas também há ternura, em sua forma mais sutil e sublime: entre Zezé e Godoia, entre Zezé e o irmãozinho mais novo, e é claro, nas fantasias deliciosas da infância compartilhada com um amigo planta, que toma formas de gente: o pé de laranja lima. Minguinho, como foi apelidado pelo menino precoce, aparece tímido, praticamente galho, por volta da página 36 e lá pelas tantas (página 201) desabrocha sua primeira flor. Neste interstício ele se transforma em cavalo, brinca de faroeste, bang bang e tudo mais. Ele aceita e deixa fluir sem dor, a imaginação de um garoto espeto, inteligente e deveras criativo. Por muito tempo será o único amigo de Zezé, até que de forma inesperada, surge uma amizade com o improvável... 

Portuga, um homem idoso e solitário reconhece na energia e inocência da infância um fôlego para viver. Zezé, em sua infância de sofrimento e privações, reconhece o amor verdadeiro de um pai. As assim como começam, nem sempre as amizades terminam como gostaríamos... Ficou curiosx? Te convido a abrir um encadernado de emoções para descobrir esta e outras relações que fazem este livro ser um dos mais maravilhosos da vida! 

Que sua vida se encha de ternura, emoção, amor e compaixão desde a primeira página e que você reencontre com esta leitura, aquele passarinho que um dia deixou voar.

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1 comentários

  1. Oi Júlia
    Esse livro é uma delicinha. Já o li várias vezes e sempre me emociono com a história do pequeno Zezé.

    Vidas em Preto e Branco

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