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Se eu não me chamasse Raimundo, de Ricardo Filho

04:30Isabela Lapa

E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos?Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar? (José Saramago)
É impossível ler este livro e não se lembrar dessa fantástica citação do mestre José Saramago. Isto porque, a história criada por Ricardo Filho é simples, mas ao mesmo tempo possui uma pureza e uma leveza que só as crianças, com seus corações repletos de amor e de esperança serão capazes de perceber. 

O escritor, que se baseou em uma história real e em um livro de Graciliano Ramos, criou uma história que é uma lição de vida para as crianças e para os adultos. Um livro que fala sobre a dor e o sofrimento, mas que mostra a força das pequenas coisas da vida e também da esperança. Uma história de coragem, afinal, ser corajoso não é não sentir medo, mas saber enfrentá-lo.

SOBRE O LIVRO:
Raimundo tem 12 anos, tem câncer e está enfrentando um tratamento de quimioterapia. Sim, ele é careca, passa várias horas do seu dia em um hospital e é visto por muitos como um menino diferente. No entanto, apesar do seu sofrimento e dos seus problemas reais e tão grandes para uma criança, a pureza do seu coração e dos seus sentimentos permite que ele encontre força e coragem em pequenos detalhes. 

"Se eu tenho medo? Não gosto muito de tocar no assunto. Quer dizer... 
Acho que me acostumei a não falar a respeito dos meus sentimentos, 
as pessoas ficam sem jeito e eu mais ainda."

Ao mesmo tempo em que ele tem medo de morrer e sente culpa por causar um sofrimento grande à família, ele consegue encontrar inspiração em uma formiguinha que tem coragem de enfrentar um microondas, em uma enfermeira repleta de sorrisos e que gosta de contar histórias, e também nos seus amigos, Pedro e Alice, sempre presentes e carinhosos. 

"Gosto de pensar que eu sou a formiguinha quando estou na ressonância magnética.  Fico ouvindo aquele som martelando nos meus ouvidos - ta-ta-tara, ta-tara-tatá - 
e penso que vou ficar mais forte quando aquilo terminar."

A narrativa foi feita em primeira pessoa e ficou simplesmente incrível, uma vez que causou uma sensação de proximidade com o personagem, que tem uma leveza, uma sensibilidade e uma forma poética de ver a dor. A sensação que o livro causa é que estamos ao lado de Raimundo, ouvindo ele falar sobre a vida dele. 

"Com a Talima, consigo falar dos meus medos. Embora ela esteja pior, mais fraquinha, ela tem mais força e coragem. Nunca duvida que vai sarar. 
Eu duvido, às vezes."


DESTAQUES:
- A história fala sobre uma criança que enfrenta uma doença, mas é válida para mostrar a importância de ter coragem diante de qualquer dificuldade, afinal, por mais que os adultos não acreditem ou tentem negar, as crianças tem suas dores e seus problemas.

- A forma como Raimundo narra o seu dia-a-dia ensina às crianças a importância de respeitar o próximo e as suas diferenças. 

- As ilustrações de Bruna Assis Brasil contribuíram para a beleza do livro. Elas são repletas de detalhes e de vida, o que sem dúvida complementa a obra e a torna mais lúdica e interessante para o público alvo.

Eu amei conhecer o pequeno e tão maduro Raimundo! Conheçam, se emocionem e presenteiem as crianças que amam!

                                            

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