VHS – Verdadeiras Historias de Sangue, de Cesar Bravo
00:00Camilla Guimarães
VHS, é um livro que conta varias histórias de horror, que se
passam na cidade de Três Rios, em São Paulo, nos anos 80/90.
O livro começa contando a historia que se passa em uma videolocadora. Pensando em combater a pirataria, o dono e seus funcionários tem a ideia de oferecer descontos no aluguel de fitas VHS, para clientes que levassem fitas caseiras. Ele e os dois funcionários, passam a assistir as fitas que são entregues em troca desses descontos. Os clientes entregavam todo tipo de filme: gravações de casamento, aniversários, batizados…E alguns vídeos com historias sem finais felizes, capazes de deixar perturbado qualquer amante de filmes de terror. Ele percebe que aquilo poderia trazer lucro, pois algumas pessoas se interessariam em pagar para assistir aquele tipo de conteúdo: a vida de outras, mesmo sendo pessoas desconhecidas.
“Marcia preferia acreditar que Heinz lutou contra aqueles fantasmas, que morreu cheio de brio e orgulho, como homem que foi ate se tornar alguém rejeitado pelo mundo. Mas talvez ele tenha apenas se rendido e deixado acontecer. Senhor Heinz sabia que suas mariposas não iriam embora, que continuariam vindo e chamando por outras, voando e se batendo contra ele. Ate que a luz se apagasse.”
O novo negócio começa a dar certo e o estagiário é contratado para assistir, fazer as marcações de tempo e anotar os estilos de todas as fitas que a locadora recebia. Filho único, de uma família desestruturada, o jovem rapaz aceita a proposta tentadora para ganhar mais, porém logo no primeiro dia ele já se depara com uma fita perturbadora. A partir disso, o autor começa a contar historias de horror que estão gravadas nos VHS’s.
“Mauro apertou o projetil e se preparou para as perguntas que morreriam sem resposta. O taxista chamado Resende disse que esteve no inferno. Mas parecia mais certo que o Inferno estivesse atrás dele.”
Separado em 18 contos e cada capítulo representando uma fita, percebemos ao longo do livro que a cidade de Três Rios, abriga moradores de todos os tipos: pessoas que são o próprio mal encarnado, demônios e espíritos que tem o proposito de caminhar entre os vivos e ate mesmo próprio demônio.
Algumas histórias mexeram mais com meus sentimentos. Em uma
delas, lemos a descrição de uma homem que é tratado como cachorro e sofre
todos os tipos de tortura e humilhação. A história trouxe impacto aos meus sentidos e me fez sentir empatia pelo personagem, mas no desenrolar do
caso, trata-se de um pedófilo que já havia cometido vários crimes contra crianças e uma de suas
vitimas, é filha de um dos algozes do conto. No final, parei para
pensar ate que ponto é
possível ser uma pessoa que não deseja o mal de alguém. Isso me deixou um pouco
desconfortável, pois sou contra qualquer tipo de vingança ou de fazer justiça
com as próprias mãos. Mas confesso que senti que aquilo pode ser uma reação
resultante de um ódio
que nunca experimentei (e nem
gostaria).
“...O ser humano é um bicho curioso, ainda mais quando o assunto envolve desgraças. Já reparou em um velório, por exemplo? Por que sempre tem mais gente velando um morto do que num batizado ou casamento? O povo é igual urubu, filho, a gente não consegue sentir o cheiro da carniça e voar para longe, nossa fome não deixa.”
Fazendo jus ao título do livro, as histórias são realmente “verdadeiras histórias de sangue”. O livro causou sensações e achei isso brilhante. Eu, que gosto de de livros de terror, procuro exatamente por isso. Histórias tão bem contadas, que te colocam dentro da cena. Eu conseguia sentir empatia, raiva, nojo, pena e outros sentimentos, a cada nova história lida. Um livro que mexeu com meus sentidos também: arrepios, calafrios, boca seca. Cesar Bravo é um dos meus autores favoritos e nunca decepciona.
Eu com certeza indico a todos os amantes do terror a leitura dessa obra. Não vou comentar todos os contos nessa resenha. Vou deixar que cada um se surpreenda lendo. Mas quem quiser me procurar pra falar sobre o livro, estarei a disposição.