Eu conheci o Eric Peleias no Festival de Quadrinhos que aconteceu aqui em BH no mês de maio. Acho que tarde, já que ele tem várias HQ's publicadas, todas muito elogiadas. 

Mas isso não importa, o que conta mesmo é que tive a sorte de conhecer o trabalho dele, que com certeza vou acompanhar a partir de agora.

Até o fim é uma história linda, repleta de questionamentos, reflexões e sentimentos. A premissa é bem simples, então o que cativa é a condução do roteiro e as surpresas que aparecem ao longo do caminho.

Lilian é uma garota muito jovem que sofre um acidente de carro e quando acorda descobre que está no céu junto com seu irmão, seu noivo e alguns amigos. Desesperada, ela tem um único desejo: voltar para a terra, afinal, ela ainda quer casar e ter sucesso profissional.

Perdida e sem saber como fazer para conseguir seguir adiante com a sua vida, ela faz acordo com a Noiva, uma mulher misteriosa que garante que ela poderá voltar a viver se conseguir decidir o destino de todos que estavam no carro com ela.

Mas não é simples assim: ela tem que fazer isso antes do sol nascer e respeitando a vontade de cada um.

A jornada começa e a garota se vê diante de verdades que nunca imaginou. Ao conversar com cada um dos amigos ela aprende algo novo e amadurece de forma linda e pura.

A história surpreende pela construção dos personagens e pelas reflexões que faz sobre a morte, o suicídio e a fé. Uma delícia de ler...

As ilustrações do Gustavo Borges estão delicadas e cheias de sentimento. Ele já havia me conquistado em Pétalas e em Edgar (veja aqui), mas confesso que nessa HQ achei os traços mais intensos e mais maduros. Amei!

Recomendo demais a leitura, você vai adorar. 

Para conhecer outros trabalhos do Eric é só acessar o site dele: https://www.peleias.com.br/.

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Ei pessoal! Hoje vim contar pra vocês sobre o segundo livro da Sarah Andersen lançado aqui no Brasil! Uma Bolota Molenga e Feliz. O primeiro livro dela lançado pela Editora Seguinte, Ninguém Vira Adulto de Verdade, já apareceu aqui no blog e vocês podem ler a resenha dele aqui!

Assim como o primeiro livro, esse segundo traz um apanhado de tirinhas que são publicadas periodicamente na página dela no facebook, Sarah's Scribbles.

Nesse volume, continuamos acompanhando a Sarah - ou qualquer um de nós, para dizer a verdade - na tentativa de se tornar um adulto responsável e pagador de contas. O início do livro segue a mesma linha do anterior, com tirinhas mais leves e engraçadas.

Mais uma vez eu consegui me ver em váaaarias das tirinhas da Sarah, bem como ver meus amigos também. Situações engraçadas, constrangedoras, outras normais, que fazem parte do dia a dia de qualquer um - principalmente dos mais anti-sociais e com dificuldades de se relacionar abertamente com um grande número de pessoas! E é aí que tem uma pequena diferença nesse segundo volume.

Enquanto todas as tirinhas do primeiro livro eram mais "genéricas", nesse segundo volume Sarah fala um pouco mais sobre ela própria, sobre a sensação de "não pertencimento" dela em muitas ocasiões sociais, sobre a fobia de interagir com muitas pessoas em uma festa. Enquanto o primeiro livro foi somente leve e engraçado, esse tem um compilado de algumas tirinhas mais profundas, que falam sobre depressão, sobre dificuldades de relacionamento, sobre ansiedade e sobre baixa auto-estima e a sensação de "auto-boicote" quando as coisas estão indo bem.

Acredito que muita gente vai se identificar com essas situações e a Sarah, acima de algumas das tirinhas, coloca alguns textinhos ajudando a explicar aquele "capítulo", por assim dizer.

Nesse volume há também um compilado de tirinhas muito importante e muito especiais.... DE GATOS! Sim minha gente... nesse segundo livro a gente entra um pouco mais na vida da Sarah propriamente dita e ela nos conta como era sua relação com os gatos e como essa relação foi se desenvolvendo a partir de uma situação que aconteceu em sua vida. Claro que eu amei, apesar da minha relação com os gatos e minha trajetória até uma pessoa louca por felinos não ter sido a mesma dela, me identifiquei bastante com o que li! (Gandalf até apareceu para dar um alô!)

A edição da Seguinte mais uma vez está maravilhosa e segue o mesmo padrão do livro anterior. Capa dura, cores chamativas - mas dessa vez um azulão - e folhas tão grossas que parece que estamos passando duas de uma vez. Para tirinhas isso é fundamental, pois o desenho da frente não se confunde com o desenho do verso da página e fica muito melhor de ler.

Se você leu e gostou do primeiro, não perca esse segundo! E se você não tem o primeiro... tá esperando o que??

Samy =)

Como falar com garotas em festas foi um dos contos escritos pelo queridíssimo Neil Gaiman e publicado no Brasil de duas formas: no livro Coisas Frágeis, da Editora Conrad, e em uma versão digital da Editora Intrínseca. 

O conto é incrível e muito envolvente, então fiquei muito feliz quando soube do lançamento da Graphic Novel que envolvia grandes nomes: Gabriel Bá, Fábio Moon e Companhia das Letras pelo selo Quadrinhos na Companhia.

Na mesma hora criei expectativas altíssimas e decidi que precisa fazer a leitura. Adaptações podem surpreender ou não, mas considerando os envolvidos no trabalho, é claro que a chance de sucesso era grande. 

Confesso para vocês que valeu a pena. Como valeu! Foi uma delícia reler a história de Vic e Enn sobre o olhar dos irmãos quadrinistas que são tão talentosos, tão cuidados e tão dedicados no que fazem.

A adaptação ficou incrível e as ilustrações impecáveis. As cores são vivas e fortes, ressaltando o tom de juventude, de alegria, de descoberta e de festa da história. Impecável, apenas!

Dito tudo isso, vamos à narrativa?

A história gira em torno dos amigos Vic e Enn, que tem 15 anos de idade e estão naquela fase da vida em que só conseguem pensar em garotas. Acontece que enquanto Vic é desprendido, bonitão e o típico conquistador, Enn é mais tímido, discreto e não tem muitas habilidades na hora da conquista.

Em festas, Vic rapidamente encontra companhias femininas, enquanto Enn fica sozinho, sem saber o que fazer. E é nesse contexto que a narrativa começa: eles ficam sabendo que vai acontecer uma festa e enquanto Vic tem certeza que precisa ir, Enn prefere fazer outra coisa.

Acontece que mesmo sem saber direito o endereço a música faz com que eles cheguem ao local. Vic rapidamente toca a campainha e entra no clima da noite, enquanto Enn começa a observar uma jovem linda e a sentir o ritmo da música, a pensar que aquilo era diferente de tudo que ela já havia escutado naquela Londres dos anos 70.

Quando ele sai do salão principal para encontrar alguma bebida ele consegue iniciar uma conversa com uma garota, depois com outra e por aí vai. E é a partir desses diálogos que a gente encontra o misto entre a fantasia e a realidade que sempre permeiam as obras de Gaiman.

"Tente entender, todas as garotas naquela festa, naquele fim de tarde, eram adoráveis.
Seus rostos eram perfeitos, mas, mais importante do que isso, elas tinham uma certa proporção curiosa, uma estranheza...
... Uma humanidade...
... O que quer que seja que torna a beleza algo mais do que um manequim na vitrine."

É a partir desses diálogos que os garotos descobrem que aquela festa não é como as outras que eles já haviam frequentado e que aquelas garotas também são diferentes das que eles já conheciam. Até para Vic aquele lugar é novo e surpreendente.

“Eu sou um poema… ou eu sou um padrão… ou uma raça inteira cujo mundo foi engolido pelo mar”. 

O preconceito existe e não adianta negar. Inclusive, quanto mais fizermos isso, mais dificuldade teremos para superar barreiras e mudar mentalidades.

Encarar o problema de frente é o primeiro passo para a mudança e é exatamente por isso que essa leitura é tão importante e tão marcante.

Com uma linguagem direta e extremante sincera, Fabien Toulmé descreve a sua história de vida e conta o quanto ficou decepcionado quando descobriu que Julia, sua segunda filha era portadora da Síndrome de Down.

Sem medo de parecer cruel e sem insegurança em relação aos julgamentos dos leitores, ele narra de forma intensa a dificuldade que sentiu para desenvolver um sentimento de pai pela menina e explica todo o processo que experimentou até aceitar que aquele preconceito que ele sentia desde a infância não fazia nenhum sentido. 

Essa é uma história autobiográfica que trata de temas importantes e que mostra o quanto as diferenças importam pouco quando existe amor. Apesar da visão de Fabien sobre a própria filha, é lindo ver o amor que a mãe de Julia e a Louise, a irmã mais mais velha, conseguem nutrir por ela.

Além disso, a leitura também é interessante porque trás informações sobre o processo de desenvolvimento de pessoas com essa deficiência, explicando que se elas forem estimuladas da forma correta é possível que tenham liberdade e que consigam conviver normalmente em sociedade. 

Conversar sobre esse assunto com tanta naturalidade certamente não foi uma tarefa fácil para o roteirista, exatamente por isso a leitura é tão especial. 

Acompanhar cada uma das páginas e perceber o quanto o sentimento foi surgindo de forma natural entre ele e Julia é simplesmente lindo. Isso nos faz pensar sobre a vida real, sobre as dificuldades e sobre as incoerências dos seres humanos.

A leitura é bonita, sensível e apresenta um tema delicado assim como Pílulas Azuis, outro título incrível da Editora Nemo. 

As ilustrações também estão muito bonitas e o tom de azul claro e cinza transmite uma paz e uma harmonia, sentimento que talvez tenha demorado muito para encontrar.

Vale a leitura! 

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Frida Kahlo, como você já deve saber, foi uma artista muito expressiva e uma mulher moderna, corajosa, com pensamentos à frente do tempo. 

A sua vida foi marcada por muitos turbilhões e entre uma dificuldade e outra, uma mudança e outra, ela sempre se posicionou com determinação e força diante das situações, sendo uma referência quando o assunto é feminismo.

Entre as várias situações que vivenciou e entre as diversas coisas inteligentes e marcantes que disse ao longo da vida, a frase "Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?" foi sem dúvida uma das mais impactantes em razão do contexto no qual foi dita. 

Por ser assim, ela foi escolhida para integrar o título dessa HQ que conta parte da trajetória da artista por meio de diálogos e imagens ricas de detalhes e repletas de cores intensas. 

A história, que começa no ano de 1937 e vai até o ano de 1940, narra o período em que Frida e seu marido Diego Rivera receberam em casa Leon Trotsky, um dos líderes da revolução russa que foi exilado após a ascensão do governo Stálin.

O período em que os três viveram juntos foi extremamente conturbado e polêmico e a relação entre eles foi marcada por problemas políticos e problemas emocionais. Era um misto de raiva, intensidade, alegrias e paixões. 

O interessante é que todos esses aspectos se misturam na narrativa que consegue mostrar muito bem o impacto da situação política na sociedade e na vida da protagonista, sem deixar de focar nos seus sentimentos íntimos, nos seus desejos e nos seus traços característico.

Em razão do misto de assuntos a leitura se torna envolvente e ágil, sem deixar de definir bem a personalidade dos personagens e de contextualizar os acontecimentos.Os diálogos são intensos, por vezes bem humorados, mas sempre pertinentes. 

Mais uma surpresa da Editora Nemo! Uma leitura incrível!

Quem gostar e quiser conhecer mais sobre a Frida, pode aproveitar e assistir o filme disponível no NetFlix. Com direção de Julie Taymor, o longa é intenso e incrível! Vale a pena conferir... 

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Eu adoro o trabalho do Marcello Quintanilha e a forma realista com a qual ele constrói os seus roteiros e personagens. Aqui no blog tem resenha de Talco de Vidro e Tungstênio, e agora vou falar sobre Hinário Nacional, uma nova surpresa. 

A Graphic Novel reúne seis histórias sobre homens, mulheres e crianças repletos de traumas e de mágoas causadas pelas dificuldades da vida e pela crueldade do mundo. Apesar de terem vivenciado situações completamente distintas, todos eles carregam os sentimentos silenciosamente, sendo que alguns ainda sentem culpa!

A primeira história, Ave Maria, fala sobre relacionamentos e a forma como as mulheres se anulam em favor dos homens e esquecem completamente o sentido de amor próprio e respeito pessoal, tornando-se reféns de uma situação incômoda e degradante.

Com um tom ainda mais intenso e doloroso, Hinário Nacional tem como tema principal o estupro e relaciona a situação de uma lagarta com a de uma menina que, vítima de pedofilia, não tem a menor possibilidade de se defender. 

Já em Batalha das Flores o roteirista levanta questionamentos acerca da nossa necessidade de aceitação diante da sociedade. O protagonista, para fazer parte de um grupo e se sentir integrado com os outros rapazes, acaba participando de um estupro coletivo durante as festividades do carnaval e, em razão dessa escolha, passa a vida se martirizando e se reprimindo.

Olhai para o céu, por sua vez, mostra que é possível agir com responsabilidade e fazer escolhas conscientes. Na narrativa, um motorista de táxi reprime os desejos que sente por uma adolescente, por saber das consequências do ato e da gravidade daquele sentimento. 

A penúltima história, intitulada Eu era o fenômeno da minha classe, apresenta uma jovem que conseguiu superar o trauma causado por um estupro e passou a tratar a e situação com bom humor durante as suas apresentações junto a uma companhia de circo. 

Porém, um questionamento permanece ao final: é um caso de superação ou de fuga? A arte era a prova de que o passado ficou para trás ou a comprovação de que ela precisava se sentir amada e ser estrela para tentar deixar de lado o que aconteceu?

Por fim, Pai Doce fala sobre as várias personalidades de um homem que mesmo diante de vários problemas luta para manter as aparências. Nessa narrativa, Quintanilha aborda com excelência a questão da hipocrisia e o quanto ela pode nos prejudicar. 

A leitura é intensa e cruel, mas muito envolvente e realista. Em cada conto percebemos a crueldade humana, a insatisfação diante da realidade e o principal: a forma como a mente processa cada um dos acontecimentos que nos rodeiam.

As ilustrações contribuem para ressaltar a sensação de medo dos personagens, intensificando as emoções e as reações do leitor.

Com toda certeza mais um grande trabalho desse quadrinista que consegue representar muito bem os problemas da nossa sociedade e que usa da linguagem coloquial como ferramenta para mostrar as diferenças culturais e a forma como as relações se constituem em ambientes diversos.

Imperdível!

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Eu amo HQ's e acredito que muitos de vocês também... Entre as várias editoras com títulos interessantes, uma que está crescendo muito e está trazendo títulos diferentes e muito interessantes é a Editora Nemo. 

Eu já li vários quadrinhos deles e já resenhei vários por aqui, então quero fazer uma listinha com 10 títulos imperdíveis, para que todos possam aproveitar:

Desconstruindo Una (leia a resenha e compre aqui)

Leitura obrigatória! A HQ apresenta um relato pessoal e também informações importantes sobre a questão da violência contra a mulher. Os temas tratados são de extrema relevância e a crítica feita à postura da sociedade, da polícia e do judiciário é essencial para repensarmos as nossas atitudes e os nossos conceitos ou preconceitos. 

Uma adaptação da obra de Machado de Assis, que conta com um roteiro cuidadoso e que soube preservar as características do texto original, especialmente no que se se refere às metáforas e ao tom irônico e por vezes prepotente do narrador Bentinho. A HQ é incrível conseguiu retratar com muita intensidade os sentimentos controversos do personagem, sempre dividido entre o amor e o ódio.

Estórias Gerais (leia a resenha e compre aqui)

Uma verdadeira homenagem ao sertão e à cultura brasileira. Com sete narrativas inicialmente independentes, mas que se unem de forma brilhante no final, a revista, que conta com roteiro de Wellington Srbek e ilustrações de Flavio Colin, fala sobre coronelismo, disputa pelo poder, violência, traição, justiça (e a ideia de fazê-la com as próprias mãos), bondade, maldade etc.

A HQ reúne três contos que foram publicados entre os anos de 2000 e 2002. Intitulados “A Companhia das Sombras”, “Admirável Novo Mundo” e “Uma Noite no Fim do Mundo”. Apesar de apresentarem contextos diferentes, os contos possuem alguns pontos comuns: falam sobre o desconhecido, o medo, os aspectos da vida que vão além da nossa razão e da nossa racionalidade, falam sobre a morte e sobre fantasmas. 

Muito interessante, vale a pena conferir!

O Mundo de Aisha proporciona uma incrível imersão no universo da mulher islâmica iemenita, mostrando suas dificuldades, seus sonhos, desejos e também suas tristezas. É uma HQ incrível, que descreve o cotidiano de várias "mulheres invisíveis" e causa diversas emoções. Imperdível! 

O Muro (leia a resenha e compre aqui)

Uma HQ sobre a adolescência e as dificuldades do processo de amadurecimento e autodescoberta. Com um tom dramático e poético, a leitura é emocionante e envolvente.

A história, baseada em fatos reais, conta a vida de um casal que se apaixona e precisa enfrentar diversas dificuldades, uma vez que Cati é portadora de HIV. A narrativa é sensível, sincera, livre de preconceitos e muito comovente. 

A HQ é o auto-retrato da roteirista, que com um bom humor impagável descreve as situações inéditas que vivenciou depois que se separou do marido e conseguiu sair da "fossa". Com um texto leve e solto, e ilustrações com traços finos e repletos de cores, ela fala sobre amizade, balada, ressaca, julgamentos, família, maternidade, sexo, trabalho, superação, liberdade etc.

Diversão garantida do início ao fim!

Com um roteiro impecável, a obra narra a vida de um jornalista iraniano que por engano utilizou de uma palavra sagrada e foi preso de forma assustadora e arbitrária.  HQ realista e emocionante, que fala sobre autoritarismo, controle da imprensa, problemas religiosos e falta de segurança jurídica. 

Violência contra a mulher, abuso sexual, machismo, descaso do poder público, violência de gêneros e amargas experiências pessoais. Esses são os temas dolorosos, mas extremamente importantes que são abordados nessa HQ.

Una, a nossa narradora, ao mesmo tempo em que relata as trágicas situações que vivenciou, apresenta informações que não podem ser desconsideradas e dados que precisam ser divulgados em todos os jornais, mas não são. 

Além disso, com muita coerência e sem exageros ou sensacionalismos, a roteirista também descreve o papel desinteressado da Polícia e do Judiciário, que muitas vezes procuram desculpas ou se prendem a fatos pouco relevantes, o que acaba inocentando os criminosos. 

Outro aspecto relevante abordado na HQ é a postura da sociedade: a condenação das vítimas, a visão de que as mulheres sexualmente livres são vadias, a noção de que desejo só pode ser sentido por homens etc. 

Se não bastasse todas essas questões e todas as informações contidas nas páginas de Desconstruindo Una, ainda nos deparamos com um relato sensível e emocionante da autora, que conseguiu, depois de muitos anos, se abrir em relação às violências sexuais que sofreu na adolescência. Ela descreve com muito cuidado a questão do silêncio, da depressão, da não aceitação e da dificuldade para construir novos relacionamentos e novos vínculos de confiança. 

Para além do roteiro perturbador, as ilustrações também são um ponto chave nessa narrativa. Com aspecto sombrio e desorganizado, elas conseguem ressaltar com intensidade os sentimentos de Una e nos colocam diante de toda a dor, angústia e desespero que ela enfrentou. 

Vale destacar que o pseudônimo Una foi escolhido pelo significado: um, uma vida, uma de muitas!

Sem dúvida uma HQ brilhante, que certamente estará no meu TOP 10. Leitura obrigatória para todos... Leiam, presenteiem, conversem sobre o assunto, discutam, pesquisem. Só assim podemos mudar esse contexto tão triste e tão real! 

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Ninguém Vira Adulto de Verdade é um compilado das tirinhas que ela posta na page Sarah’s Scribbles sobre o cotidiano de uma pessoa um pouco anti-social e que já virou adulta mas não sabe exatamente o que fazer com isso. Qual a melhor hora para lavar a roupa? O que fazer com as contas a pagar? Como ter uma carreira de sucesso se eu só quero ficar no isolamento do meu lar assistindo séries, ouvindo música e apertando meu gato?

É impossível não se identificar com várias das tirinhas da Sarah ou identificar seus amigos. Enquanto eu lia ia tirando milhares de fotos e enviando aos meus amigos - quando via eles próprios nas tirinhas ou a mim mesma.

A vida adulta é cheia de obstáculos, de problemas que a gente ignora completamente quando se é uma criança e sonha em fazer 25 anos logo - porque nessa época temos certeza que ao chegar aos 30 teremos uma família formada, uma carreira de sucesso, o carro dos sonhos e uma casa linda com cachorro e quintal. A gente não pensa que não vai ter mais a mãe - ou qualquer outra pessoa - do seu lado o tempo todo pra arrumar as coisas, coordenar a casa, lavar as roupas, ou saber quando lavar, e, o horror, pagar as contas!

As tirinhas são todas em preto e branco, uma característica da autora, e têm um traço bem pessoal e despojado, bem bonitinho e quase engraçado. Um aspecto bem interessante da autora é a abordagem de alguns assuntos polêmicos como o machismo, preconceitos variados, menstruação - que por mais absurdo que seja, ainda é um tabu na sociedade -, a obrigatoriedade da maternidade. Tudo isso de forma muito sarcástica e irônica. O que faz ficar mais engraçado ainda.

"A eterna juventude, as paixões sem limites, os prazeres sutis e secretos, as alegrias selvagens e os pecados ainda mais selvagens, ele precisava de tudo isso. Cabia ao retrato carregar o fardo de sua vergonha."

Ao longo da leitura, acompanhamos de forma intensa o personagem, que apesar de ter uma aparência tão deslumbrante, possui uma alma repleta de ódio e de maus sentimentos, o que faz com que ele se afunde em um buraco sem volta.

Totalmente filosófico e com diversas críticas à sociedade hipócrita, que vive de aparência, o livro super envolvente e irônico.

"A sociedade civilizada tende a não acreditar em nada de negativo sobre pessoas ricas e sedutoras. Sentem instintivamente que os modos contam mais que a moralidade."

Como homenagem à essa história inesquecível, o desenhista e roteirista Stanislas Gros preparou uma versão em quadrinhos, que conseguiu captar muito bem a essência da obra original, reproduzindo os pontos principais da narrativa e incluindo, como complemento, referências literárias muito interessantes como Charles Baudelaire, Friedrich Nietzsche etc.

As ilustrações são impecáveis, as cores lindas e o roteiro muito coeso e bem escrito. O que chama a atenção, contudo, é o recurso utilizado por Stanislas para dar ênfase à degradação emocional do personagem: ao final de cada página, ele coloca o quadro de Dorian e demonstra, lentamente, por meio das imagens, o quanto a falta de caráter conseguiu destruí-lo. Simplesmente brilhante!

"Porque podemos sobreviver a tudo, menos a ela. A morte e a vulgaridade são os dois únicos fatos do século XIX que desafiam a lógica."

A adolescência definitivamente não é uma fase fácil! É aquela fase de descobertas, de formação de personalidade, de medos e de muitas dúvidas, com poucas respostas. Concordam? Pois é...

Nessa HQ incrível, você vai acompanhar a adolescência de Charlotte, uma garota que se sente diferente das outras e tem problemas para se adaptar. Insegura, ela tenta agradar a todo custo e vive em busca de uma grande amiga. 

Acontece que após várias experiências e muitos conflitos, ela descobre que tem interesse por garotas. Sem saber exatamente como agir ou que fazer, ela decide viver algumas experiências e passa por várias decepções, além de ter que enfrentar diversas situações de preconceito e rejeição.

Com uma linguagem envolvente e despretensiosa, a história conta várias aventuras de Charlotte, e encanta pela sinceridade e pela delicadeza. É interessante acompanhar cada um dos seus aprendizados e cada uma das suas decepções, e perceber que no fim somos todos seres humanos, repletos de questionamentos e de sentimentos. 

Os traços são bonitos, firmes e repletos de detalhes. Além disso, a mistura entre os tons de preto, branco e azul e branco cai super bem... :)

Essa é uma leitura para os que gostam de pensar sobre as diferenças e para aqueles que acreditam que podemos ser mais a cada dia! Vale a pena conferir...

Depois de uma frustrada tentativa de urbanização e de um ambicioso projeto de verticalização mal sucedido, o condado novaiorquino Bronx enfrentava sérios problemas sociais como a violência, repressão e o absoluto descaso da administração municipal. Povoado rapidamente por negros e porto-riquenhos em busca de melhores oportunidades, o condado se tornou o retrato de uma urbanização  rápida e desestruturada, que acabou dando origem aos famosos "guettos" novaiorquinos.

Reflexo do descaso das autoridades, a população se sentia marginalizada, enfrentando a deficiência de serviços básicos como o fornecimento de água e luz, além da falta de segurança pública. O Bronx acaba se tornando um território esquecido, criando uma comunidade com suas regras próprias dentro de uma Nova Iorque que parece querer se esquecer desta parte da cidade.

Neste cenário caótico surge a gangue Guetto Brother, criada por Yellow Benjy e seu irmão e que rapidamente consegue novos jovens adeptos, unidos pela mesma falta de perspectiva. Buscando defender-se, ganhar visibilidade e até conquistar uma certa representatividade dentro do turbulento Bronx os irmãos fundam o Guetto Brotter, gangue que viria a se tornar uma dos maiores grupos novaiorquinos chegando a mais de 2 mil membros. 

Novas gangues surgem no mesmo período intensificando a rivalidade e os conflitos, que ficam cada vez mais frequentes no Bronx. Em meio a uma tentativa de mediar a paz entre gangues rivais, Black Benjie, um dos mais influentes e mais queridos membros do Guetto Brother é assassinado, mudando a narrativa e a vida dos moradores do condadopara sempre.

Contrariando as expectativas, Yellow Benjy convoca uma reunião com todos os líderes de gangues para celebrar um histórico acordo de paz. A reunião foi transmitida pela imprensa local e representou não apenas a paz no Bronx, mas também a resistência contra o sistema excludente aos quais todos os moradores do condado estavam submetidos. Nascem novas perspectivas e o hip hop surge com tudo no Bronx, dando início a uma explosão cultural. 

Fiquei com a sensação de que o ritmo poderia ser um pouco mais dinâmico, mas nada que tire o brilho do quadrinho que tem como pontos positivos o contexto histórico e cultural, a oportunidade de conhecer o surgimento do Guetto Brother no Bronx, e as origens do Hip Hop.

A NETFLIX disponibiliza em seu catálogo o documentário Rubble Kings, com cenas reais que marcam o surgimento do hip hop e The Get Down, série musical com o mesmo tema sobre a qual já falamos aqui.

Rubble Kings

The Get Down