Amor e Amizade Angélica Pina

Amor & amizade, de Whit Stillman

00:00Angélica Pina



Whit Stillman, roteirista e diretor de cinema, é um fã assumido de Jane Austen e cria um personagem chamado Rufus Martin-Colonna de Cesari-Rocca que decide escrever um relato para “absolver Lady Susan Vernon das garras” de sua autora.

Para quem não conhece, o texto original Lady Susan foi publicado muitos anos após a morte de Jane Austen e é uma obra epistolar, ou seja, tudo é narrado através de cartas trocadas entre os personagens.

Em Amor & amizade, encontramos um escritor disposto a desmentir toda a má impressão que Jane Austen deixou acerca de Lady Susan Vernon. Ela ficou viúva há poucos meses e ganhou a fama de “rainha do flerte”, já que é extremamente bonita e conhecida pelo charme e eloquência que faz com que todo e qualquer homem caia de amores por ela. 

Por toda Londres há rumores de que, por onde passa, Lady Susan leva caos às famílias e aos relacionamentos, pois mesmo os homens comprometidos não conseguem resistir ao seu encanto. Após uma temporada em Langford, na propriedade dos amigos Lorde & Lady Manwaring, Lady Susan é acusada de conquistar tanto Sir James Martin, o pretendente da Srta. Manwaring, irmã de Lorde Manwaring, quanto seu próprio anfitrião – que o leitor vai percebendo durante a narrativa que era amante da viúva. 

A mulher decide então afastar-se das fofocas e passar um tempo em Churchill, na propriedade rural de seu cunhado, Charles Vernon. Catherine, a esposa do Sr. Vernon, não aceita de bom grado a visita, pois conhece muito bem a fama de sua concunhada. Para seu desespero, seu irmão mais novo, Reginald DeCourcy, logo dá um jeito de também ir visitar a família para sondar se Lady Susan é realmente tudo o que ouvira falar. Como não podia ser diferente, ele é logo enredado também pela viúva, que faz cair por terra tudo o que ele pensava sobre ela. 

Enquanto se diverte com o encantamento de Reginald por ela, Lady Susan arquiteta um plano maquiavélico de casar sua filha de dezesseis anos, Frederica, com o mesmo Sir James Martin que ela deixou em Londres. A menina, o oposto da mãe em todos os sentidos, não consegue aceitar o seu destino e faz de tudo para escapar do casamento arranjado, mas sua mãe é ardilosa e faz o que for preciso para que todos os seus caprichos sejam atendidos. 

A personalidade egoísta e interesseira de Lady Susan dá à obra de Jane Austen o tom de genialidade presente em todas as suas críticas à sociedade da época. Se em suas outras obras as críticas eram mais sutis, neste texto ela usa de toda sua ironia e acidez sem poupar ninguém. 

Na releitura de Whit Stillman, o roteirista é tão ou mais irônico e divertido. Ele cria um escritor que nitidamente também se apaixonou pela viúva e por isso quer justificar suas atitudes e comportamento. Ele se refere a Jane Austen como “a autora solteirona” e faz comentários sarcásticos após cada uma das cartas do texto original. Ele é o típico recalcado, que se coloca como advogado de Lady Susan para defendê-la do indefensável, o que acaba ficando muito engraçado.


O livro de Stillman superou minhas expectativas e gostei muito do fato de o original Lady Susan ter sido anexado como apêndice ao volume, pois eu ainda não tinha lido esta obra que, a propósito, se tornou minha favorita de Jane Austen.

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