A história do futuro de Glory O’Brien
A. S. King
A história do futuro de Glory O’Brien, de A. S. King
00:12Angélica Pina
Glory tem 17 anos e está prestes a se formar no Ensino Médio. Diferente dos outros jovens de sua idade, ela não tem qualquer perspectiva para o futuro e não se inscreveu para nenhuma faculdade. A questão é que ela acredita que não vai viver muito, pois pensa que a qualquer momento pode fazer o mesmo que Darla, sua mãe, que enfiou a cabeça em um forno e se matou quando a filha tinha apenas 4 anos.
O suicídio de Darla é um assunto que todos procuram evitar
com a garota, inclusive seu pai, um pintor que desistiu da carreira após a
tragédia familiar e vive trancado dentro de casa, e a melhor amiga, Ellie Heffner,
que vive em frente sua casa em uma comunidade hippie, pensando o tempo todo em
garotos e se submetendo aos modos estranhos de Jasmine, sua mãe.
“E então ela cometeu suicídio, pai.”Ele olhou para mim.“Se isso não é um ato de ódio, não sei o que pode ser”, eu disse.“Ela odiava o mundo”, ele respondeu. “Ela estava chateada pra caramba com o mundo.” Então ele olhou para as próprias mãos. “Sempre achei que tinha sido sua piada final – deixar o mundo do seu próprio jeito. Dar no pé daqui. Fugir da política. Dessa merda toda. Sua mãe? Ela era honesta demais para viver. Foi isso que aconteceu. Ela era honesta demais.”
Glory sente que sua amizade com Ellie é apenas por
conveniência ou costume, já que são vizinhas desde crianças. Na verdade, ela se
sente meio explorada pela outra, mas não sabe como se afastar.
Um dia, após algumas cervejas, as duas acabam bebendo algo
diferente e recebem um poder “sobrenatural”: ambas começam a ter visões acerca
do passado e futuro das pessoas que cruzam seus caminhos.
A diferença é que Ellie enxerga coisas banais sobre os
antepassados dessas pessoas e Glory tem visões sinistras sobre uma segunda
Guerra Civil nos Estados Unidos, que irá prejudicar principalmente os direitos
das mulheres.
Enquanto registra todos esses fatos em um livro que chama de
sua História do Futuro, Glory embarca nos escombros de seu passado, obcecada
por conhecer melhor sua mãe e entender o que a levou ao suicídio. Ela herdou o
talento e a habilidade com fotografias de Darla, então passa a explorar a
câmara escura que fica no porão de casa. Lá ela consegue trabalhar na revelação
de suas fotos, mas também encontra álbuns que sua mãe deixou e que permitem conhecê-la
melhor.
“Fato: Passado, presente e futuro têm uma coisa em comum. Eu. Queria poder tirar uma foto disso. Tornar tudo real. Transformar em algo que eu pudesse colar em um álbum. Mais do que somente uma história sobre o que eu via quando olhava para as pessoas. Por que as pessoas tiram fotos? Para tornar as coisas reais. Ou mais reais. Algo palpável. Para ter lembranças das coisas que perderam. Para lembrar – mesmo que às vezes queiram esquecer.”
A narrativa é feita em primeira pessoa pela protagonista,
que é uma garota muito inteligente. Alguns capítulos são bem curtos, com apenas
uma ou duas páginas, o que me incomodou um pouco. Imagino que muita gente
considere que isso deixa a leitura mais fluida, mas não funcionou para mim,
pelo contrário.
A autora aborda temas importantes e reflexivos, mesclando drama
e tiradas sarcásticas que dão um tom divertido a algumas cenas. Eu,
particularmente, não consegui gostar da parte “fantástica” – o motivo que fez
com que as garotas passassem a ter as visões – e acredito que por causa disso não
consegui me conectar mais à história.
A. S. King já ganhou vários prêmios por suas obras, inclusive
por essa, então acredito que A história do futuro de Glory O’Brien vai agradar
bastante aos leitores que se encaixam no seu público-alvo, o que não é exatamente
o meu caso.
“Eu era Glory O’Brien, morcega, enxergando em vermelho. Com raiva do mundo. Era o morcego petrificado, morto do lado de dentro e enganando você. Estava morta para cada expectativa. Morta para esmaltes. Morta para a moda. Morta para as fofocas de celebridades. Morta para o que pensavam de mim.”
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