Companhia das Letras Crítica

O Sol na Cabeça, um livro sobre a realidade das favelas!

01:17Isabela Lapa


O Sol na Cabeça é o primeiro livro de Geovani Martins, que com muita coragem, sensibilidade e sinceridade, apresenta ao leitor treze crônicas sobre a realidade das favelas do Rio de Janeiro.

Com personagens intensos e situações repletas de tensão, o autor nos coloca diante de verdades que às vezes, por mero comodismo, fazemos questão de ignorar. Sabe aquele olhar atravessado que a gente dá quando olha para uma pessoa pobre e negra, mas insiste em dizer que não deu? Sabe aquela hipocrisia do discurso de que a praia é para todos, mas infelizmente alguns não sabem aproveitar?

Então, ao ler esse livro você verá essas e muitas outras situações sob o olhar de uma pessoa que veio da favela e sabe exatamente como se sentem os moradores de lá.

"É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente pra um condomínio, com plantas ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros."

Mas diferente do que você pode estar imaginando, Geovani não apresenta essas situações com uma linguagem vitimista, muito pelo contrário. Ele fala com naturalidade e em alguns momentos até deixa claro que apesar de tudo, ele se sente livre.


Nos contos você vai encontrar traficantes, pixadores, maconheiros, crianças negras que são diariamente excluídas e muito mais. Vai se deparar com situações que provavelmente não fazem parte da sua rotina, mas que existem e que precisam ser discutidas em sociedade.

E o interessante é que tudo isso virá com uma linguagem característica dos moradores de favela, que normalmente usam gírias e palavrões ao conversar. Esse, na minha opinião, é o diferencial do livro. Não adianta querer falar de uma realidade, mascarando parte dela. E a linguagem diz muito sobre um povo, uma cultura e um estilo de vida. 

"Quando minha mãe descobriu que eu tava fumando cigarro, ela não veio me comendo no esporro, como eu imaginava. Ela só disse que não me daria mais dinheiro, que, se eu já tinha idade para ter vício, também tinha idade para manter o vício. Na hora fiquei bolado, mas depois entendi que o papo era reto. É como diz o ditado: "Quem tem filho com cu cabeludo é macaco!"."
Com apenas 119 páginas a obra provoca um choque de realidade e revela um autor talentoso, com 27 anos de idade e muitas experiências. Estou como Chico Buarque que leu o livro e disse o seguinte: "Fiquei chapado". 

Recomendo que leiam, presenteiem e converse sobre ele. 


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Fotos: Isabela Lapa!

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