Carla Madeira Destaque

Tudo é Rio, de Carla Madeira

10:00Isabela Lapa


"Cor a dor, o silêncio. Denso, ácido. Estagnado. Um silêncio de caco de vidro moído esfolando o corpo por dentro. Um desesperar, nada por vir".

A primeira vez que eu ouvi falar sobre Tudo é Rio eu estava em um evento literário. Lembro, como se fosse hoje, que a pessoa que estava no palco comentando a obra ao lado da autora mencionou que nunca tinha se deparado com um livro de estreia tão completo e com personagens tão intensos e complexos.

Ao escutar o elogio, Carla Madeira reagiu com uma surpresa e comentou um pouco sobre a construção da obra. Ao ouvi-la falar eu percebi que o livro certamente chamaria a minha atenção.

Um dia, passeando em uma livraria, peguei um exemplar e comecei a ler as primeiras páginas para passar o tempo e sentir o que viria. Simplesmente não consegui parar. Os personagens me fisgaram de cara e em poucos minutos eu estava completamente imersa.

Fui para casa com o livro na bolsa e virei a noite em claro com os olhos grudados em cada uma das páginas. Foi uma dedicação intensa, com vários sentimentos e várias reflexões.

Ao conhecer Dalva, Venâncio e Lucy nós mergulhamos em um triângulo amoroso e encontramos personagens que nos confundem em meio a tanta humanidade. Todos tem medos, defeitos, inseguranças e segredos, mas todos amam intensamente. Não o amor perfeito, romântico e clichê, mas o amor imperfeito, que erra, ofende e dói. O amor que conhecemos e vivenciamos, não aquele que idealizamos.

E o interessante é que muito mais que uma narrativa completa o livro também apresenta diálogos tão bem escritos que parecem poemas. Carla realmente escolhe a dedo cada palavra e a posição de cada uma delas.

"O amor, quando nasce forte, tem pressa de ser eterno. Nem se dá conta de que é carne úmida. Os dois foram vivendo aquele desejo despreparado de limites, cada vez mais esquecido das regras, soa outros, das satisfações exigidas. Só queriam saber das vertigens. E é claro que ignorar o resto do mundo incomodou o resto do mundo, sempre incapaz de tolerar doses tão abundantes de felicidade".

Além disso, ela também acerta ao escrever a história em capítulos alternados. A nossa curiosidade não acaba em nenhum momento e a ânsia por uma resposta em relação ao destino de cada um dos personagens parece nos consumir. A autora não deixa o ritmo cair, não erra e não excede em sentimentalismo. Ela surpreende do início ao fim.

Recomendo a leitura. Você vai querer ler mais de uma vez, eu tenho certeza!

"Tudo passa, você vai ver, tudo passa. Ela tinha razão. A vida dá um jeito de manter a gente vivo mesmo quando a gente morre de dor."


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