A Fúria Camilla Guimarães

A Fúria, de Silvina Ocampo

09:47Camilla Guimarães




Esse livro de contos, da autora Silvina Ocampo, não é um livro pra se ler rápido. Ele deve ser lido em doses homeopáticas pois ele é difícil de digerir. A cada conto que eu lia, passava algumas horas processando e vendo todas as cenas passando pelos meus olhos, como se eu realmente tivesse vivido tudo aquilo que acabara de ler.

Ocampo, descreve os acontecimentos com muita clareza e o tempo todo eu esperava que o romance que eu estava iniciando tivesse um final melhor do que o anterior. Pura inocência minha. Cada final era uma nova martelada. Profundos, incisivos, macabros e bizarramente cotidianos, os contos, apesar de serem de horror, poderiam sim ser lembranças ou casos. E é exatamente por isso que eu pensava por tanto tempo no que havia acabado de ler.


“- Que cruel você foi com Lavinia – eu lhe disse.
- Cruel? Cruel? – ela me respondeu com ênfase. – Cruel eu sou com o resto do mundo. Cruel eu serei com você – disse mordendo meus lábios.
- Não vai conseguir.
- Tem certeza?
- Tenho certeza.
Agora compreendo que, ao cometer crueldades ainda maiores com as outras pessoas, ela só queria se redimir para Lavinia. Redimir-se através da maldade. (A Fúria, página 104)“

Um livro muito rico em metáforas, eu sempre parava pra me perguntar o que ela queria dizer com os eufemismos e com as anedotas que estavam ali escritas. Em um dos contos, por exemplo, a personagem está em uma igreja se confessando diretamente para Deus, sem a presença de um padre. O tempo todo ela se justifica enquanto conta sua história. Você chega a sentir pena da personagem e algumas vezes até pode se identificar com ela. Mas o final é um dos que mais mexeram comigo, pois ele não é conclusivo, mas você consegue facilmente imaginar os horrores que a personagem sabia que aconteceriam enquanto ela estava ausente de casa. (A Oração, página 174)

“(...) Tinha o poder, que agora não tenho, de me desdobrar: conversei com as pessoas que me rodeavam, ri, olhei para todos os lados com os olhos cravados no fundo daquele precipício com caixotes de lixo, com frutas e com homens passando. Tudo era menos imundo do que a sua cara. (...)(Carta perdida em uma gaveta, página 111)

Outro conto muito intenso, A Fúria (página 97), que leva o mesmo nome do livro, é uma história de horror onde uma das personagens narra toda maldade que havia feito com uma “amiga“ de infância, enquanto o personagem principal se dedicava a escutá-la e cortejá-la, enquanto a criança de quem ela cuidava tocava um tambor enlouquecedor. Esse conto, mostra a frieza do ser humano, talvez uma psicopatia, e como o desespero pode levar a pessoa a cometer atos extremos.

Eu altamente recomendo a leitura desse livro e já fiz a indicação dele pra 99% dos meus amigos.

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