Companhia das Letras Crítica

Por lugares incríveis, de Jennifer Niven

00:00Angélica Pina

Theodore Finch é conhecido no colégio como “Aberração”. Ele é diferente da maioria dos alunos, tem hábitos e manias estranhas, mas sua principal característica é sua obsessão pela morte. A cada manhã ele se pergunta se aquele é um bom dia para morrer. Finch passa a vida contando quantos dias faz que ele está desperto, pois frequentemente sofre crises e tem uma espécie de “apagão”.

Violet Markey era, até pouco tempo, da turma dos mais populares da escola, com um ótimo namorado e muitos amigos. Voltando de uma festa com Eleanor, sua irmã mais velha e melhor amiga, sofre um acidente de carro, do qual é a única sobrevivente. Violet não se conforma com a morte da irmã e sente-se culpada por ter indicado o caminho e ter saído ilesa. Ela conta impacientemente quantos dias faltam até a formatura para ir para bem longe de Indiana, onde mora, e afastar-se das lembranças do passado.
Os dois jovens estudam na mesma escola, mas pouco se conhecem, já que a instituição tem mais de dois mil alunos. Um dia, encontram-se em um lugar inusitado: na torre do sino do colégio, a seis andares de altura, onde Finch está analisando se é um bom lugar para morrer. Ele percebe que a menina não deveria estar ali e a ajuda a sair, mas o boato que corre na escola é de que Violet salvou a vida do garoto estranho que queria suicidar.

Depois disso, Finch convoca Violet a ser sua dupla no trabalho de Geografia, que consiste em visitar os lugares incríveis que o professor insiste em dizer que há em Indiana, pois sabe que após a formatura todos os jovens provavelmente vão abandonar o Estado, considerado sem atrativos.
A partir daí, uma bela amizade surge, à medida que vão visitando lugares que podem ser sem graça, mas tornam-se interessantes justamente por estarem conhecendo juntos.

“Me junto a ele na beirada, mas ele está mais na beirada que eu, como se não se importasse de cair. Seguro sua camiseta sem que ele perceba, como se isso fosse salvá-lo, e em vez de olhar pra baixo olho pra frente e pra cima. Penso em todas as coisas que quero gritar. Odeio esta cidade! Odeio o inverno! Por que você morreu? Este último pensamento é dirigido a Eleanor. Por que você me deixou? Por que você fez isso comigo? Em vez disso fico ali segurando a camiseta de Finch, e ele olha pra mim e balança a cabeça, e de repente começa a cantar dr. Seuss de novo. Desta vez me junto a ele, e nossas vozes flutuam pela cidade adormecida.”
Violet percebe que Finch é um cara adorável, sincero, inteligente e encantador. Por outro lado, o garoto finalmente encontra alguém com quem pode conversar e agir como ele é de verdade, sem medo de ser julgado.

“- Então, o que aconteceu? – Odeio o jeito como ele fala do acidente, tão direto, como se tocar no assunto não fosse um problema. – Eu conto sobre minha cicatriz se você me contar sobre aquela noite.
- Por que você quer saber?
- Porque gosto de você. Não um gostar romântico, do tipo vamos dar uns amassos, mas como um colega da sala de geografia. E porque falar sobre isso pode ajudar.”

A escrita de Jennifer Niven é sensacional! Os capítulos, em primeira pessoa, se alternam entre Finch e Violet como narradores. Os problemas e sofrimentos dos personagens têm grande destaque, mas isso não a impede de construir uma história divertida, que arranca sorrisos e até risadas. Apesar disso, o mais marcante do livro é o alerta que fica sobre o quanto problemas emocionais/psicológicos são coisa séria e precisam de atenção, que quem sofre de depressão, traumas e algo do tipo, precisa de ajuda, mesmo que a pessoa diga o contrário e se quem está por perto ignora isso ou prefere não ver.
A “nota da autora”, ao final da história, foi extremamente importante para mim, pois me fez entender o que levou Jennifer a direcionar o livro para o desfecho que teve. Fez-me olhar com outros olhos para um tema muito complicado e difícil de aceitar.

Por lugares incríveis ainda não foi lançado no Brasil, a data prevista é 14 de janeiro. A editora Companhia das letras, através do selo jovem Seguinte, é a responsável pela publicação aqui. O Universo dos leitores foi selecionado com alguns outros blogs literários para receber uma prova antecipada da obra, por isso já temos a resenha aqui.

“- Sabe o que gosto em você, Finch? Você é interessante. Você é diferente. E consigo conversar com você. Não deixe isso subir à cabeça.
O ar parece carregado e elétrico, como se tudo – o ar, o carro, Violet e eu – fosse explodir caso alguém acendesse um fósforo. Mantenho os olhos na estrada.
- Sabe o que gosto em você, Ultravioleta Markante? Tudo.”

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