A Grande Aposta Cinema

A Grande Aposta, ou a velocidade estética do dinheiro

10:19Universo dos Leitores


Não é possível pensar nosso tempo sem levar em conta a velocidade. A velocidade, enquanto vetor de tempo e progresso, ou seja, aquele que quanto mais acelerado mais somos capazes de ter posse, em equação oposta da percepção de que quanto mais aceleramos mais perdemos a capacidade da nos demorarmos em qualquer coisa, estão na base do pensamento de diversos críticos do século XX. Isto não pode ser desprezado quando pensamos em arte.

Parto disso pra dizer que, quando abordo o filme A Grande Aposta, de Adam McKay, parto do pressuposto de que, diante das questões do nosso tempo, creio ser o filme que mais se aproxima de questões relevantes para o hoje – tanto na composição estética, na formação do roteiro e na aceleração dos diálogos e das imagens, quanto na própria temática do filme, a historinha que perpassa por nossos olhos no decorrer da película.

O filme conta a história de quatro homens que antecipam a bolha imobiliária americana e, na percepção de que uma crise batia a porta, tentam lucrar com essa atividade: compram ações que nada valiam com cláusulas de que os bancos deveriam pagar a eles multas caso não houvesse retorno. No entanto, no decorrer da trama, eles começam a perceber como o mercado financeiro funciona, forjando números e apresentando uma série de fraudes monetárias.

Apesar da temática um tanto quanto obscura, de números que passam pela nossa frente sem nada entendermos, o que se destaca na direção de McKay é o uso da temática da bolsa de valores para compor esteticamente sua obra. O movimento acelerado dos diálogos, das ações, da montagem do filme, quase em um caleidoscópio entre a ficção e um pastiche de documentário da Bloomberg, alteram seguidamente a percepção do espectador que se vê submetido a uma mecânica do impossível: a chave do filme está na manutenção de um ritmo entre o deboche e uma espécie de antecipação apocalíptica, como se a técnica do enjambment do poema fosse utilizado de forma a que cada cena desemboca-se na próxima e antecipasse seu próprio fim.

O mais interessante é que o diretor, conhecido por muitos filmes de comédia como O Ditador (2012) com Sacha Baron Cohen, ou Quatro Amigas e um Casamento (2012), se utiliza do mecanismo do humor como chave, como no momento em que ninguém entende nada do que foi dito em relação a uma questão do mercado financeiro e aparece Selena Gomez para explicar a questão de forma estranhamente didática. O humor, então, como último recurso da obra, transforma tudo em um grande deboche, um jogo de desconfiança da própria máquina financeira, funcionando como ironia a própria crença na velocidade exposta.

A Grande Aposta, por isso, é para mim a grande aposta para o Oscar 2016. Creio ser o principal filme merecedor da estatueta na medida em que sabe absorver sua época e devolve-la com a mesma brutalidade que ela nos toca. Se há outros filmes como O Regresso, que já nasce clássico, ou O Quarto de Jack, uma força da natureza, A Grande Aposta não tem essa ambição de ser grande. Tenta menos, por isso se aproxima mais.


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