Crítica Editora Pavana

Paralela, de Lauren Miller

00:04Angélica Pina

Abby Barnes é a protagonista e narradora desta história, que na verdade acaba sendo duas histórias. Explico: no início do livro, acompanhamos a trajetória de Abby, que está vivendo, em setembro de 2009, uma realidade totalmente diferente do que planejou. Ela desejava cursar a faculdade de jornalismo logo que terminasse o colegial, mas no último ano fez uma disciplina de Técnicas de encenação e se destacou no teatro, o que lhe rendeu um papel em um filme em Los Angeles, fazendo com que ela perca o início do semestre na universidade.

Na véspera de seu aniversário de dezoito anos, que acontecerá em meio às gravações do filme, Abby vai dormir no hotel que está hospedada, mas no dia seguinte acorda em um local diferente.

“Sonho com terremotos. Sacudindo tanto que a porta bate, as janelas racham e o espelho da antiga cômoda se estilhaça no chão de madeira. Mas isso só dura um segundo. Depois o mundo fica preto.”
Abby demora a perceber, mas ela foi parar, sem saber como, em setembro de 2008. As pessoas estão comentando sobre um terremoto que aconteceu na noite anterior, estranhamente sentido no mundo todo. Sua vida está acontecendo novamente, mas por causa de um detalhe, todo seu destino é alterado. Ela se atrasa para a escola, pois o trânsito está caótico na manhã pós-terremoto, por isso a única disciplina disponível para sua grade é Princípios de astronomia, ou seja, ela não cursa teatro e em 2009 não estará gravando um filme em Los Angeles.

Com a ajuda de Caitlin, sua melhor amiga desde sempre, Abby descobre que durante o abalo sísmico, num estranho fenômeno físico, sua realidade colidiu com a realidade paralela, fazendo com que ela “trocasse” de lugar com sua paralela, que está vivendo no momento com um ano e um dia de diferença com relação a ela.

“A teoria quântica diz que existe um mundo paralelo para cada versão possível de sua vida. E a maioria dos físicos mais importantes apostaria a carreira nisso.”
Os capítulos do livro se alternam com o presente de Abby (setembro de 2009) e a vida de sua paralela (setembro de 2008), o que, por vezes, gera um grande nó na cabeça do leitor. 

A vida de Abby está uma tremenda confusão, pois ela vive em 2008 com as lembranças do que aconteceu/acontecerá no ano seguinte, mas que pode ser alterado a qualquer momento de acordo com as decisões que sua paralela toma.

A história é adolescente, fala de uma garota saindo do colegial e indo para a faculdade, mas a reflexão gerada através de toda a bagunça em sua vida provoca no leitor a incômoda sensação de que a cada vez que temos que tomar uma decisão, estamos inconscientemente definindo coisas que acontecerão em nossas vidas e nas das pessoas com quem convivemos. Faz com que o leitor pense como estaria hoje se tivesse optado por um caminho diferente no passado. Faz com que imaginemos como é nossa “vida paralela”.

 “Será que tudo isso – a colisão, a confusão, o fato de eu ter preservado as lembranças – aconteceu por um propósito específico ou será só maluquice cósmica? Quero acreditar que existe um motivo por trás disso tudo, mas difícil pensar em um. Se Deus precisasse de ajuda com alguma coisa, acho que ele não apostaria suas fichas na garota que mal consegue se lembrar de rezar (a menos, claro, quando está estudando para uma prova superdifícil. Por favor, Deus, eu não posso reprovar).”
A parte romântica da história é super fofa, mas confusa, pois em cada realidade há um garoto diferente na vida de Abby. Durante a leitura, eu torcia por um, depois pro outro, me indignava com as injustiças provocadas pelo fato de que Abby e sua paralela tomavam decisões diferentes, enfim, fiquei tensa, na expectativa de que tudo se resolvesse.

Lauren Miller foi excepcional na forma que conseguiu chegar ao final, pois se é difícil para ler (por diversas vezes eu tinha que voltar ao fim do capítulo anterior para saber em qual realidade Abby estava), imagino que a autora teve muito trabalho para conseguir escrevê-lo.

Depois que terminei, fiquei com a sensação de que precisava começar novamente para entender melhor tudo que aconteceu.

A capa do livro tem um diferencial super legal: se você o vira de cabeça pra baixo, a capa parece a mesma, mas a frase que vem no topo é diferente. Na contracapa, o mesmo acontece, sendo que há uma sinopse diferente para cada sentido que você vira o livro.



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