Olhar para o passado às vezes dói. Uma sensação de impotência passeia pela alma, perante o inexistente que ainda vive na memória. É triste imaginar o sorriso da garota que um dia fez o coração queimar nas chamas do amor, lembrar-se das incontáveis vezes que o brilho dos olhos dela traçou um destino no patamar dos sonhos, e se dar conta de que nada disso existe mais, diluiu-se no tempo, feito uma névoa ao calor do Sol. O mais assustador é descobrir que algumas coisas na vida acontecem apenas uma vez.
Claro que é possível mergulhar no tempo e reviver momentos agradáveis, sem ficar frustrado ou cair em ressentimentos. Alguém já disse que somos a soma de nossas lembranças, e é bem provável que isso seja verdade. Quem nunca experimentou aquela felicidade de poucos segundos ao sentir saudade de um dia marcante? Talvez os melhores dias sejam aqueles vividos com disposição ao lado dos melhores amigos. E, por ser raro isso acontecer com frequência, relembrar é o que resta em tempos de vazio inevitável.
Quem nunca, pelas ruas de uma cidade desconhecida, observando casas, vendo pessoas, não viajou na ideia de estar na pele de outra existência, pertencer à outra casta e, quem sabe, levar uma vida diferente, mais interessante, com aquele brilho de felicidade leve, tão fácil de ver na pele alheia? Se você ainda não fez isso, meus parabéns, sua imaginação é tão fértil quanto um cadáver mumificado. Até porque imaginar é abrir as janelas para o impossível. E isso é, no mínimo, fascinante. “Ah, mas estou 100% satisfeito com minha vida e não consigo imaginá-la de outra forma”, podem pensar alguns, na contramão desse argumento. Mas... Será?
Às vezes, o olhar indiferente de alguém interessante no metrô, por exemplo, difunde sonhos inteiros no decorrer de minutos. Cenas bonitas com legendas românticas passam pela cabeça, na mesma velocidade do metrô, e se diluem na multidão, logo na estação seguinte. A pessoa contemplada seguirá seu destino e morrerá sem fazer ideia do protagonismo. E àquele que tropeçou na fraqueza de contemplar restará apenas uma saudade oca, sem motivo de existir. Também se diluirá na multidão e não saberá que protagonizou os devaneios de outro observador, o qual, por sua vez, estará saudoso, sem entender o motivo.
Parece loucura. Concordo. No entanto, a necessidade de fechar os olhos para a realidade presente e buscar conforto em ilusões deixadas para trás é real. Sentir saudade faz bem. Principalmente quando o fato nem aconteceu. Pois, nesse caso, a possibilidade de ainda acontecer compõe a trilha sonora inédita do dia seguinte.
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1 comentários
Saudade do que nunca aconteceu e nunca irá acontecer.
ResponderExcluirObrigada por participar do nosso Universo! Seja sempre muito bem vindo...