Crítica Crônica

Deixe a neve cair, de Maureen Johnson, John Green e Lauren Myracle

00:03Angélica Pina



Esse livro encantador reúne três contos de autores diferentes com uma mesma temática: o Natal em uma pequena cidade que está sendo tomada pela maior nevasca dos últimos tempos. O mais interessante é que os contos interligam-se de maneira surpreendente, embora sejam histórias independentes, com protagonistas diferentes.

O primeiro conto, “O Expresso Jubileu”, é de Maureen Johnson e conta a história de Jubileu, uma adolescente de 16 anos que está prestes a passar o segundo Natal na casa de Noah, seu namorado “perfeito”. Além da tradicional festa da família de Noah, os dois irão comemorar seu aniversário de namoro. Porém, os pais da garota envolvem-se em uma confusão em uma loja e acabam sendo presos, o que obriga Jubileu a tomar um trem rumo à casa de sua avó, que acaba ficando preso na neve próximo a uma cidadezinha chamada Gracetown. Jubileu decide descer até uma Waffle House para se aquecer e livrar-se do inconveniente grupo de líderes de torcida que enchia o veículo e acaba conhecendo Stuart, que a convida para passar o Natal em sua casa.

A escrita de Maureen é leve e divertida, fluida e adorável. É o mais romântico dos três contos, completamente fofo!

“Eu sei que ninguém é perfeito, que por trás de toda fachada de perfeição há uma confusão distorcida de subterfúgios e arrependimentos secretos... mas, mesmo considerando isso, Noah é basicamente perfeito. Nunca ouvi ninguém falar mal dele. A reputação de Noah é tão inquestionável quanto a gravidade. Ao me transformar em namorada, ele demonstrou que acreditava em mim, e eu embarquei nessa convicção. Passei a andar mais reta. Senti-me mais confiante, mais positiva, consistente, mais importante. Ele gostava de ser visto comigo; por conseguinte, eu gostava de ser vista comigo, se é que isso faz algum sentido.” 

“Você só pode ficar durante certo tempo em um banheiro sem levantar suspeitas. 
Depois de meia hora, as pessoas começam a encarar a porta, imaginando como você está. 
Fiquei lá dentro por pelo menos isso, sentada no boxe com a porta fechada, soluçando em uma toalha de mão em que estava escrito DEIXE A NEVE CAIR! É, deixe a neve cair. 
Deixe nevar e nevar e me enterre. Muito engraçado, Vida.”
O segundo conto, “O milagre da torcida de Natal”, é de John Green, provavelmente o que motivou muitos fãs a conhecerem o livro. Nele, John conta sobre Tobin, um garoto que está pretendendo passar o Natal com seus amigos JP e Duke (que é uma menina, apesar do apelido), pois seus pais estão em outra cidade sem conseguirem um vôo de volta pra casa por causa da nevasca. Keun, amigo dos três, trabalha em uma Waffle House da cidade e telefona chamando-os para uma “festinha”, já que um grupo de líderes de torcida invadiu o estabelecimento depois de seu trem ter ficado preso na neve. Os garotos ficam eufóricos com a ideia e acabam convencendo Duke a acompanhá-los e os três embarcam numa super aventura, já que o caminho coberto de neve apresenta mais dificuldades do que eles imaginaram.

A linguagem de Green, já conhecida de seu público, é repleta de ironias e passagens totalmente engraçadas. A personalidade de cada personagem é bem construída e cativa o leitor, algo que também é típico do autor. Embora também tenha um tom de romantismo, é o mais divertido dos três contos, arranca boas risadas!

“Eu estava pronto para voltar para casa, voltar para os filmes de James Bond, ficar acordado até de madrugada, comer pipoca, dormir algumas horas, passar o Natal com Duke e os pais. 
Vivi sem a companhia de líderes de torcida da Pensilvânia por dezessete anos e meio. 
Podia ficar mais um dia sem elas. JP continuava falando. – O tempo todo eu estava só pensando Cara, vou morrer numa roupa de esqui azul bebê. Minha mãe vai ter que identificar meu corpo e vai passar o resto da vida pensando que, nos momentos íntimos, o filho gostava de se vestir como uma estrela pornô dos anos 1970 com hipotermia.” 

“Pensei naqueles waffles cobertos com fatias de queijo para sanduíche, em como eles tinham um gosto saboroso e doce e tão profundo e complexo que não pode nem ser comparado com outros gostos, somente com emoticons. Waffles cobertos de queijo, eu estava pensando, têm gosto de amor sem o medo da dissolução do amor.” 
O terceiro e último conto, “O Santo padroeiro dos porcos”, é de Lauren Myracle e narra a história de Addie, que está em crise, pois cometeu um deslize e acabou arruinando seu namoro com Jeb, quem ainda ama. A garota manda um e-mail para o ex marcando um encontro no Starbucks onde ela trabalha, mas ele não aparece. Addie tem duas amigas que estão o tempo todo tentando alertá-la sobre seu egoísmo e a forma como ela dramatiza a vida e os fatos que acontecem, geralmente por sua culpa. Quando outras pessoas também começam a apontar que Addie precisa mudar, ela abre os olhos para si e passa por uma verdadeira transformação. 

Nessa narrativa, encontramos vários dos personagens que foram citados nas anteriores e todos estão de alguma forma envolvidos em uma mesma confusão. A habilidade de Lauren de fazer essa junção das três histórias é incrível! Este é o conto mais dramático, o que às vezes o torna até irritante, mas sua mensagem gera reflexão e emociona.

“Mas, em vez de choramingar pateticamente, eu precisava lidar com aquilo. A velha eu teria ficado ali, sentindo pena de si mesma até ter uma ulceração pela neve e os dedos dos pés caírem, e boa sorte para encontrar sandálias de tirinha para a véspera do ano-novo depois disso, gracinha. Não que eu tivesse algum lugar para ir com sandálias de tirinha. Mas e daí?! 
A nova eu, no entanto, não era uma chorona.” 

“ – Pare com essa coisa de anjo – falei. – Não estou brincando. Se o universo me deu você como anjo, mereço um reembolso. Mayzie deu um risinho. Um risinho, e eu queria esganá-la. 
– Adeline, você torna as coisas muito mais difíceis para si mesma do que precisa – falou ela. 
– Garota bobinha, não é o que o universo nos dá que importa. É o que nós damos para o universo. Abri a boca para dizer o quanto aquilo era estúpido e sentimentaloide e alucinógeno, mas não disse, pois algo mudou dentro de mim. Mudou mesmo, como uma avalanche, e não pude mais resistir. 
A sensação dentro de mim era tão grande, e eu era tão pequena...” 
A leitura de Deixe a neve cair é bem rápida e, embora o Natal já tenha passado, vale super à pena, pela magia em torno do tema e a competência do trio de autores.



























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