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ESCRITORES: Entrevista com Stella Maris Rezende

04:00Universo dos Leitores

Stella Maris Rezende é uma artista que lida com a magia da linguagem, as imagens, a imaginação, as metáforas, as ambiguidades, a mentira, a verdade, os mistérios, as delicadas e as terríveis perguntas da condição humana. Com inúmeros livros publicados, já recebeu os mais importantes prêmios literários.

Em entrevista exclusiva ao nosso blog ela disse que "não importa se o público é infantojuvenil ou adulto. O essencial é fazer arte, ter um projeto estético. Trabalhar a linguagem é o principal"

Confiram e conheçam mais sobre o seu trabalho primoroso:

Stella, o que te motivou a ser escritora?

A paixão pelas palavras e pelos silêncios. Minha mãe é uma grande contadora de histórias e isso também me incentivou muito. Já o meu pai comprava todos os livros que eu pedia, o que foi fundamental para o meu contato íntimo e maravilhado com os bons livros de literatura. 

Você publicou o seu primeiro livro no ano de 1978 em edição independente. Em 1979 publicou o segundo pela Editora Horizonte. Como foi o processo de encontrar uma editora naquela época?

Extremamente difícil. Em geral, todo início de carreira literária é complicadíssimo. No meu caso, tive que ficar durante anos sem comprar roupa nova ou sapatos, para pagar a edição dos meus dois primeiros livros. Mas valeu a pena. A partir deles, meu trabalho começou a ser lido e reconhecido. Com os prêmios, tudo foi ficando menos complicado. Mas ainda existem inúmeras dificuldades. Escrever é como viver, ou seja, há sempre obstáculos e problemas. Um deles é a dificuldade em se encontrar nossos livros nas livrarias. A maioria dos autores de literatura sofre dessa angústia. Os livros de autoajuda e cheios de estereótipos vendem bem, mas a boa literatura encontra várias dificuldades. Mas eu não abro mão da qualidade literária e do meu projeto estético. Cada livro conquista os seus leitores. 

Como você se inspira para escrever os seus livros?

Tudo me serve de inspiração. Qualquer detalhe. A todo instante estou pensando numa personagem ou numa circunstância, sempre movida por alguma palavra ou expressão interessante. 

O que te motiva a escrever para o público infantil?

O público infantil e juvenil é mais sincero e mais exigente, o que se torna um adorável desafio. Mas escrevo para adultos também. Os críticos dizem que os meus livros são para todas as idades. 

Qual elemento essencial em livros para esse público?

Não importa se o público é infantojuvenil ou adulto. O essencial é fazer arte, ter um projeto estético. Trabalhar a linguagem é o principal. 

Como você lida com o universo fantasioso e a inserção de questões cotidianas reais como, por exemplo, em “A Mocinha do Mercado Central”, que você aborda o abuso sexual no núcleo da família?

Qualquer assunto pode ser tratado, independentemente do público. O que importa é o modo de tratar o assunto. Com sutileza e delicadeza, não tenho medo de escrever sobre qualquer coisa. Se o assunto aparece, lido com ele por meio da linguagem artística. A fantasia e a realidade, que às vezes se misturam e se confundem, fazem parte da atmosfera mágica e misteriosa da vida. 

O que te inspirou para escrever “A Menina Luiza” fazendo uma comparação com receitas?

A receita da ambrosia não foi planejada, aconteceu. De modo natural e poético, a menina apaixonada faz a ambrosia, que é considerada um manjar dos deuses. O amor é complicado, cheio de sofrimento e angústia, mas pode trazer alegrias também. Enquanto cozinha o doce, a menina se prepara para lidar com as dificuldades. O que me inspirou foram minhas memórias de infância, minha mãe e minhas tias, mulheres cheias de vida e apaixonadas por cozinhar, bordar, costurar e contar histórias. 

Quando escreveu “Esses livros dentro da gente” você buscou passar a sua experiência como escritora ou passar lições que aprendeu com o tempo de carreira?

Não pretendi passar lições e sim estimular a leitura e a escrita por meio de uma linguagem poética. Minha experiência e minhas leituras deram o tom da narrativa. 

Em suas obras você costuma apresentar personagens que gostam de ler. Na sua opinião, o contato com esses personagens pode estimular a leitura de outros livros?

Como eu adoro ler, é natural que algumas personagens também gostem. O que mais quero é emocionar e encantar. Se a partir desse encantamento e dessa emoção eu conquistar e provocar leitores sensíveis e críticos, vou ficar muito feliz. Sonho com leitores de qualidade, ou seja, que não se satisfaçam com livros superficiais. Meu maior sonho é que o Brasil se torne um país de leitores que gostem de perguntar, sonhar, questionar, reinventar a vida. 

Entre os inúmeros livros que já publicou algum te cativa de forma especial? Por qual motivo?

Todos são importantes para mim, mas “A mocinha do Mercado Central”, Globo Livros, ao ganhar o Prêmio Jabuti 2012, de Melhor Livro Juvenil e Melhor Livro de Ficção, tornou-se um importante marco na minha carreira. Por ser o prêmio mais prestigiado do Brasil, o Jabuti mudou muito a minha vida. “A guardiã dos segredos de família”, SM, vencedor do Prêmio Barco a Vapor 2010 e do segundo lugar do Jabuti 2012, também se tornou um livro divisor de águas. 
Já escreveu algum livro e não teve coragem de enviá-lo para análise de editoras?

Todo escritor tem textos que ainda não estão prontos para serem enviados às editoras. 

Quantos prêmios literários já recebeu? Quais? Entre eles, algum teve um impacto maior na sua carreira?

Já recebi alguns dos prêmios mais importantes da literatura brasileira: Prêmio Nacional de Literatura João-de-Barro (1986, 2001 e 2008), Bienal Nestlé (1988), Altamente Recomendável Para Jovens pela FNLIJ (vários livros), Redescoberta da Literatura Brasileira/Revista Cult (2002), Barco a Vapor 2010, e em 2012 ganhei 3 Jabutis numa noite só, um feito inédito na história do Prêmio Jabuti. E foi também a primeira vez que um romance juvenil recebeu o Jabuti de O Livro do Ano. 

Atualmente a internet é uma excelente forma de veiculação de informações e de divulgação dos nossos trabalhos. Em quais redes sociais você está? 

Gravei vários vídeos no Youtube, com o nome de Fada Stella Maris Rezende. Nesses vídeos leio trechos dos meus livros e falo sobre literatura. Além disso, tenho o site www.stellamarisrezende.com.br, e todo dia posto um pequeno texto no Twitter e no Facebook. Gosto muito dessas novas tecnologias. Elas têm me proporcionado grandes alegrias. Uma delas é ser entrevistada por você, querida Isabela! 

Tem contato com algum fã que começou a ler os seus livros ainda criança, mas que continua acompanhando o seu trabalho?

Falei sobre isso há poucos dias, quando participei do Vira Cultura na livraria Cultura em São Paulo. Nessa tarde inesquecível conheci pessoalmente uma fã que lê meus livros desde os 16 anos. Hoje ela é mãe de dois adolescentes e continua estimulando a leitura dos meus livros. Foi emocionante ver e abraçar a Delma Lopes Chaves, que continua lendo os meus livros e hoje em dia me acompanha no Facebook. 

Qual escritor atual do gênero infantil que você indica? 

Minha lista seria grande, mas vou citar alguns que tenho lido com mais frequência e admiro muito: Marcos Bagno, Luiz Raul Machado, Leo Cunha, Indigo, Nilma Lacerda, Roseana Murray e Helena Morley do clássico “Minha vida de menina”.

Além do gênero que escreve, qual o seu estilo literário preferido? Nele, tem algum autor que se destaca?

Meu gênero preferido é o conto com linguagem poética. Os autores que citei trabalham com essa linguagem, que encanta e suscita várias indagações. 

O que te prende nos livros desse estilo?

O cuidado com a palavra e o bom humor. 

Existe alguma obra que marcou uma fase específica da sua vida e que você considera de leitura obrigatória?

“Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, e “Perto do coração selvagem”, de Clarice Lispector. 

O que considera essencial para a formação de um escritor?

A leitura de livros e a leitura da vida. Ler com sensibilidade, com disposição para sonhar e perguntar. 

Podemos esperar novos livros ou novos projetos? Para quando?

Acabo de lançar o terceiro romance da trilogia editada pela Globo Livros. Depois de “A mocinha do Mercado Central” e “A sobrinha do poeta”, lancei em junho no Salão do Livro da FNLIJ “As gêmeas da família”. Em 2014 virão novos livros, mas os títulos ainda não foram definidos. 


A biografia completa da escritora, além de vídeos com várias entrevistas que ela já concedeu pode ser encontrada na Revista Biografia. Confira aqui.





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