Céline Frainpont Crítica

O Muro, de Céline Frainpont e Pierre Baily

00:00Kellen Pavão

A imagem da adolescente com um olhar perdido fumando sobre um muro me convidou a conhecer a poética graphic nobel belga O Muro, publicada recentemente pela Editora Nemo.

A ilustração impactante da capa já dá pistas sobre a força da história de Rosie, uma adolescente de 13 anos em busca de seu lugar no mundo. A garota foi abandonada pela mãe que partiu em uma aventura amorosa sem deixar rastros e vive distante do pai, cada vez mais mergulhado no trabalho.

O tédio de sua rotina é alimentado pela falta de companhia, e os conflitos naturais da sua idade são enfrentados por ela sem nenhum tipo de apoio familiar, já que o pai não oferece nada além de compensação material. Rosie assiste impotente às suas próprias transformações e tenta apegar-se a qualquer laço que dê sentido aos seus dias vazios, seja a amizade com Nath ou posteriormente seu namoro com Joiakim.
O muro se torna seu refúgio e seu lar nos momentos de angústia. De certa forma o muro também pode ser analisado de forma metafórica como a divisão entre a fase infantil e a fase adulta que se inicia na adolescência de Rosie, já que é nesse lugar que ela tem suas primeiras transformações, e suas iniciações. É lá que ela se embriaga com a melhor amiga, fuma, onde se refugia da dor e onde conhece o namorado.
Me apaixonei pelo traço quase rústico de Pierre Baily e pelo maravilhoso uso do contraste nos quadrinhos. O uso das sombras ajuda a ambientar a fase punk rock da Bélgica dos anos 80, referenciada ao longo da HQ. O precoce consumo de bebidas, drogas, suas iniciações sexuais, além da influência musical dos anos 80 são reveladas na história.

A arte de Baily também conseguiu transmitir as angústias da vida monótona de Rosie. O quadrinista usou o traço e o contraste para dar o tom dramático nos momentos exatos. Não menos importante é o roteiro maduro de Céline Frainpont, que reflete os conflitos de Rosie sem apelos ou melodramas. A história é verdadeira e os sentimentos pungentes.
O interessante é que, apesar da proposta dramática, paradoxalmente a graphic novel possui a leveza ditada pela protagonista Rosie, que no trabalho de Fraipont e Baily ganhou uma perspectiva bastante poética.

É possível acompanhar sua evolução e observar seu ponto de vista e suas expectativas para o futuro.
O resultado é incrível, e o desfecho emocionante. Um belo trabalho da dupla belga.

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