Grupo Editorial Record Isabela Lapa

O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres

09:00Isabela Lapa


Trabalho, cultura, religião, sexo, fome e violência. Para a norte-americana Naomi Wolf, todos esses aspectos da vida social, utilizam dos padrões de beleza como forma de limitação da mulher e do seu desenvolvimento individual.

A autora, que publicou o livro no ano de 1991, apresenta um levantamento cultural e histórico com o intuito de demonstrar que com o passar dos anos e com a evolução da sociedade os padrões de beleza se alteraram, mas sempre foram determinantes para a atuação da mulher. 

A leitura é interessante e levanta inúmeras reflexões, contudo, ao iniciá-la, é preciso ter em mente a primeira informação do parágrafo anterior: a publicação aconteceu em 1991. De lá até aqui, muitas coisas mudaram e é preciso cuidado para analisar as questões pontuadas. 

Independente disso, ao olhar para o que ela escreve e para sociedade em que vivemos, percebemos que muitas coisas permanecem iguais, e são elas que merecem a nossa atenção.

A beleza e o padrão de mulher magra, linda, sempre maquiada e sempre arrumada, limita a atuação das mulheres no mercado de trabalho e gera, para cada uma delas, uma tripla jornada. A primeira é a jornada do trabalho de casa, a segunda é a jornada do trabalho fora de casa, e a terceira é a jornada da beleza.



Esse acúmulo de tarefas, de acordo com a autora, além de limitar a evolução profissional gera, também problemas de autoestima e de insegurança, além de problemas relacionados à competição entre as mulheres.

De acordo com a obra, e esse é um ponto que eu concordo inteiramente, o padrão é limitante tanto para quem está fora quanto para está dentro. Quem está fora se sente cobrado a entrar, quem está dentro é subjugado nas capacidades pelo fato de ser considerado belo. Quantas vezes escutamos (e falamos) que uma mulher só tem algo ou só conseguiu sucesso por ser bonita? Esse é ponto chave, afinal, quando dizemos isso, reforçamos o mito da beleza.

Para além do universo do trabalho, o mito também limita a mulher em relação ao sexo, já que a sexualidade feminina raramente é abordada do ponto de vista do prazer da mulher. As revistas, em regra, apresentam maneiras que as mulheres podem utilizar para satisfazer os homens. Os filmes e as cenas pornográficas apresentam corpos inatingíveis e sensações irreais de prazer. 

Se não bastasse tudo isso, também existem propagandas enganosas que geram obsessão por consumo e ilusão em relação ao alcance do corpo perfeito. Mulheres, muitas vezes, compram produtos para rugas e celulites, quando sequem apresentam sinais de rugas e celulites. A ideia é prevenir, garantir que a "perfeição" não se perca.

E é dentro de todos esses aspecto que o livro aborda a questão da violência. Porque diferente do que parece, violência não é só física, muitas vezes ela é moral e isso pode trazer consequências até mais graves. A imposição de um padrão de corpo, por exemplo, é uma violência constante, que concordo com a autora: é inadmissível. 

"Os cirurgiões estéticos dos tempos modernos tem um interesse financeiro direto num papel social para que as mulheres se sintam feias. Eles não anunciam simplesmente uma fatia do mercado que já existe. Seus anúncios criam novos mercados. É uma atividade de grande sucesso por estar situada em posição influente para criar sua própria procura através da harmonização dos anúncios com as matérias nas revistas femininas."

Pelo ponto de vista apresentado pela autora, a questão da beleza é diretamente ligada a questões políticas: quando a mulher começou a conquistar espaço e a alcançar liberdade, os padrões se intensificaram para que elas desviassem a atenção. 

Aqui, especificamente, tenho que pesquisar mais para definir uma opinião, afinal, é preciso um estudo histórico profundo para entender a construção do padrão de beleza, antes de defini-lo como uma ação articulada do homem, enquanto ser político.



Não discordo que a situação é benéfica e confortável ao homem, mas para definir como uma estratégia pensada e repetida continuamente por uma questão política, eu preciso realmente ter mais conhecimento, mas sei que é um ponto a se considerar. 

Vale mencionar, contudo, que apesar de ter essa visão, a autora reforça que o problema não está na vaidade ou na vontade de se cuidar, mas sim na imposição desse cuidado e nas limitações psicológicas que isso causa. 

"A verdadeira questão não tem a ver com o fato de nós mulheres usarmos maquiagem ou não, ganharmos peso ou não, nos submetermos a cirurgias ou evitarmos, nos trajarmos com esmero ou não, transformamos nosso corpo, nosso rosto e nossas roupas em obras de arte ou ignorarmos totalmente os enfeites. O verdadeiro problema é nossa falta de opção."

Um livro importante, inteligente e que gera muitos incômodos. Uma leitura para fazer com calma e para refletir. O assunto do feminismo e do padrão de beleza precisa ser lembrado diariamente, afinal, para mudar uma sociedade e transformar pontos de vista e comportamentos que há anos são repetidos, é preciso tempo, conversas contínuas, consciência e conhecimento. 





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1 comentários

  1. Anônimo05:10

    O pior é que agora existe a ditadura da beleza pra os homens também. Tem que ser bombado, com o abdômen definido, mesmo que pra isto seja preciso ingerir suplementos que podem até matar, e matam mesmo, tudo em nome da nova imagem imposta pela mídia.

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