Caderno de um Ausente Cosac Naify

Caderno de um Ausente, de João Anzanello Carracoza

00:00Universo dos Leitores

"Filha, acabas de nascer, mal de te peguei no colo, e pronto, (...)"

No dia que eu acessei o site da Cosac Naify e vi esse livro entre os lançamentos, eu anotei o título na minha interminável lista de "próximas leituras". Algo despertou a minha curiosidade e eu senti que aquela história merecia ser lida. Coincidentemente, alguns dias depois, saiu o resultado do Prêmio Jabuti 2015 e ele estava lá, em 2º lugar, na categoria romance. O que eu fiz? Comprei o exemplar na hora...

A história, simples e comovente, foi escrita em forma de diário por um homem de 50 anos que sente que está no fim da vida, mas que deseja ser lembrado pela filha que acaba de nascer e que, segundo ele, foi fruto de um amor velho.

"(...) por isso, eu te peço perdão, filha, por não ser o anfitrião ideal, por te recepcionar com estas palavras rascantes, mas não há como esconder a morte ante a estreia de uma vida."

Com palavras sinceras e muito inspiradoras, ele conta o que é nascer, crescer e amadurecer, e fala sobre trivialidades do dia-a-dia com a mesma naturalidade e paixão com que escreve ensinamentos que quer que a criança leve por toda a vida. Os relatos são minuciosos e com um tom poético, que nos transportam para um mundo repleto de sentimentos, sendo que o principal deles é o amor. Não só o amor de um pai por uma filha, mas também o amor de um homem pela vida.
"(...) e já que aqui estamos, vou tentar também ser menos quebrável aos golpes do mundo, vou cuidar, enquanto puder, das assaduras de tua pele nova, vou te insuflar o ar da compaixão - porque às vezes tristes, às vezes alegres, somos sempre solitários -; (...)"

O interessante da obra, é que mesmo tendo como fio condutor a morte, que é sempre tão triste, vazia e solitária, ela não causa nenhuma dessas sensações. Ao longo da leitura é possível perceber que a morte não precisa nos afastar das pessoas que amamos, afinal, as lições que elas deixam e os momentos que passamos ao lado delas nunca serão retirados de nós. E no fim, é isso que realmente importa. 

"... eu ia te ensinar por que de não em não o tempo se sacia de nós, o tempo nos nega os desejos e nos avilta os sonhos, por que não existe a terra prometida senão em nós, e por que ela está cercada de continentes barrentos e istmos movediços, eu ia te levar para passear nos bosques que o meu imaginário esculpe, eu ia te ensinar a podar os ramos mais altos das árvores, porque se é preciso aprender a plantá-las é igualmente vital que se saiba apará-las, se eu pudesse, Bia, eu ia te ensinar tudo isso e muito, muito mais, eu ia até te contar baixinho, eu ia te contar o segredo do universo como quem sussurra uma canção de ninar, mas eu não posso, filha, eu só posso te garantir, agora que chegastes, a certeza da despedida".

Essa é uma história linda, poética, que inspira e que permite refletir sobre a essência da vida e sobre o quanto é importante valorizar cada momento, cada sentimento e cada pessoa que passa pelo nosso caminho.
É importante dizer que o livro não apresenta um final bem definido. A narrativa termina em uma vírgula, assim como a vida, que acaba quando a gente menos espera e que sequer permite que façamos todas as coisas que desejamos fazer. 

Sem dúvida uma leitura maravilhosa, envolvente e inesquecível! Uma grande descoberta para os últimos dias do ano...

"(...) e esse é um método que aprendi ainda menino, desenhar com a imaginação o retrato das pessoas queridas e ausentes, porque nada é capaz de reacender alguém em nós mais rapidamente do que a vida experimentada à mesma hora; (...)"



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