Citações Cosac Naify

As melhores citações do livro O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe

00:00Isabela Lapa


Oi gente, tudo bem?

Quem acompanha o blog sabe que recentemente eu descobri o autor Valter Hugo Mãe e me apaixonei. Ele escreve de forma inteligente, sensível, humana, profunda e poética, o que nos envolve e emociona de uma maneira muito particular. Enquanto li o livro O Filho de Mil Homens, eu fui marcando as passagens mais bonitas e no final fiquei com a sensação de ter marcado o livro todo (juro!)... 
Pensando nisso, resolvi fazer esse post. A intenção é mostrar as partes que me emocionaram e também apresentar o estilo de escrita do autor para aqueles que ainda não conhecem. Aproveitem:

"Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios como os precipícios ou poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía."
"Pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende."

"Amar era feito para ser uma demasia e uma maravilha."

"O homem que chegou aos quarenta anos sorriu, e aquele sorriso já não era o mesmo do dia anterior. Já não era como nenhum outro do passado. Era o dobro de um sorriso."

"O amor, sabiam todas por igual, era calhar em sorte o casamento e ficar a dois para sempre, com beleza ou fealdade, higiene ou sujidade, conversa ou não, o amor era casar e ter uma garantia contra a solidão."
"Desde que ficasse encaminhada, a vida ia dar ao mesmo. Os homens eram todos iguais. Só as mulheres podiam aceder à diferença."
"Porque usá-la assim já era dar-lhe o amor a que ela tinha direito. O único amor a que teria direito. O amor dos infelizes."

"Tão estranho que depois de tanto tempo e tanta mágoa pudesse pensar no amor. Amanhecera vazia, sem ninguém dentro de si mesma, e foi como se encheu com a ideia de afinal ser impossível esquecer o amor. Porque o amor era espera e ela, sem mais nada, apenas esperava. A Isaura sabia que amava alguém por vir, amava uma abstração de alguém no futuro. Ela esperava o futuro, e esperar já era um modo de amar. Esperar era amar. Certamente, amava de um modo impossível o futuro. Disse: eu pensava que o amor era bom. E chorou sem qualquer convulsão porque aceitou chorar. Aceitou chorar."

"Era uma mulher carregada de ausências e silêncios. Para dentro da Isaura era um sem fim e pouco do que lhe continha servia para a felicidade. Para dentro da Isaura a Isaura caía."
"Gostaria de acreditar que pudesse curar a morte. O livro, mesmo no escuro e mesmo assim fechado, fez-lhe companhia."

"O Crisóstomo seguiu mais lento, julgou que a felicidade para sempre começara naquele dia, e sentiu-se exultante.
"Ser o que se pode é a felicidade."
"Pensou nisto a Isaura. Não adianta sonhar com o que é feito apenas de fantasia e querer aspirar ao impossível. A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser."

"A Isaura contou ao Crisóstomo que aceitava finalmente ser quem era, só para poder ser feliz."

"O Crisóstomo pôs um chá na mesa pequena e andava naquilo com um cuidado irrepreensível porque queria ser, todo ele, uma solução para aquela mulher. Queria ser a resposta para cada receio, hesitação, dúvida e esperança. Talvez sentisse que o amor podia vir da compaixão. Compadecia-se e fazia como se nem visse que ela estava tão frágil, tão distante de parecer uma pessoa normal."


"A Isaura sentiu-se sozinha. O amor era um problema só seu, definitivamente. E os homens, afinal, pareciam ser diferentes."
"Pensava, por um instante, que havia algo dentro de si que o esperava, como alguém dentro de si que o esperava. Estava, achou errado. Não queria ter nada adiado. Queria ser o que podia, aquilo que lhe era permitido. O resto que estivesse dentro de si precisava morrer. Pensou nos homens e convenceu-se de que eram animais perigosos que nunca poderia, ou deveria, amar."
"No dia seguinte, lavando-se, recusou o amor como quem escolhia a sanidade. Haveria de, renunciando à sua própria natureza, ser um herói de si mesmo, um herói de sua mãe. Preferia ser sempre um herói infeliz."
"Pensava que poderia estar apaixonado por um desses homens. Depois, pensava que destituíra o coração de sentimentos. Sentia que se dominava. Sentia que amava sozinho, ainda que amar-se fosse quase só odiar-se também. Chorava frequentemente, mesmo depois de se tocar e o prazer lhe oferecer alguma glória à experiência do desejo."
"O Crisóstomo explicava que o amor era uma atitude. Uma predisposição natural para se ser a favor de outrem. É isso o amor. Uma predisposição natural para se favorecer alguém. Ser, sem sequer se pensar, por outra pessoa. Isso dava também para as variações estranhas do amor. O miúdo perguntava se havia quem amasse por crime, por maldade. Alguém amar por maldade, repetia. O pai achava que talvez não. A maldade tinha de ser o contrário de amar."

"Talvez ainda não fosse o dobro de um homem, mas já era, sem dúvida, muito mais do que um homem inteiro. Podia muito mais. Disse-lhe: havemos de compor as coisas. Também eu percebi essa urgência. Mas não quero uma mulher qualquer, alguém ao acaso que me leve e me use. Quero-te a ti. Quero a mulher que fala sozinha com a areia e o mar, a que veio ao meu encontro exato. A Isaura sentiu que estava triste e feliz ao mesmo tempo.
Ela perguntou: podes repetir.
Ele disse: amo-te, Isaura.
Subitamente, metade das coisas pareciam compostas."
"Quando se conhece alguém, pensou o Crisóstomo, procuram-se as exuberâncias dos gestos, como para fazer exuberar o amor, mas o amor é uma pacificação com as nossas naturezas e deve conduzir ao sossego. O gesto exuberante é um gesto desesperado de quem não está em equilíbrio. Parecia agora saber tanto sobre o assunto, pensava, como se pudesse, ao acertar na mulher, saber por instinto tudo que estava certo ou errado."

"(...) nunca limites o amor, filho, nunca por preconceito algum limites o amor. O miúdo perguntou: porque dizes isso, pai. O pescador respondeu: porque é o único modo de também tu, um dia, te sentires o dobro do que és."

"Era importante que muita coisa fosse decidida nessa clausura da solidão, para que a natureza de cada um se pronunciasse livremente, sem estigmas."

"Deve nutrir-se carinho por um sofrimento sobre o qual se soube construir a felicidade, repetiu mais seguro. Apenas isso. Nunca cultivar a dor, mas lembrá-la com respeito, por ter sido indutora de uma melhoria, por melhorar quem se é. Se assim for, não é necessário voltar atrás. A aprendizagem está feita e o caminho livre para que a dor não se repita. Estava a crescer. O pescador crescia para ser um homem tremendo."
"Eram, tanto quanto possível, os felizes. Porque a felicidade não se substituía ao resto, a felicidade acumulava-se. Era do acumulado do que se fez que se podia alcançá-la. O Crisóstomo a chegar tão perto, a Isaura ainda tão longe. Mas, um e outro, melhores por se juntarem. Acumulavam-se."
"A solidão podia transformar os homens em seres quase de fantasia por lhes mexer na cabeça e obrigar o coração a legitimar como verdadeira a mais pura ilusão."
"Cada filho somos nós no que temos para dar. No melhor que temos para ser. O homem que chegou aos quarenta deitava-se como louco a pensar que falhar nos amores não podia impedir a divisão, porque vivia dividido. Havia dentro de si, maduro, um amor pronto para entrega, um tesouro pertença de alguém que já não ele, e alguém teria de vir para o tomar. Chamava-se Crisóstomo."
"O Crisóstomo disse ao Camilo: todos nascemos filhos de mil pais e de mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós."
Eu espero que tenham gostado dessas passagens e que comprem agora um exemplar desse livro. Tenho certeza absoluta que vão se apaixonar e fazer como eu: comprar a coleção inteira do escritor... Ah, uma coisa: tem muitas citações nesse post e eu nem listei tudo que marquei no livro! Incrível, não? :)

Beijos e até a próxima... 

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*Postado por Isabela Lapa


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4 comentários

  1. Ah, que publicação linda! Amo esse livro e o VHM <3 Obrigada

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  2. Anônimo21:49

    Faltou uma que é minha preferida desse livro: "Nunca tenhas vergonha de sentir ao pé de mim. Ao pé de mim podes sentir tudo o que sentires, podes dizer-me o que souberes e quiseres, e pedir-me o que precisares. Se tiveres vergonha, fazes de mim um pai horrível e matas-me um bocadilho"

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  3. Anônimo21:50

    Faltou uma que é minha preferida desse livro: "Nunca tenhas vergonha de sentir medo ao pé de mim. Ao pé de mim podes sentir tudo o que sentires, podes dizer-me o que souberes e quiseres, e pedir-me o que precisares. Se tiveres vergonha, fazes de mim um pai horrível e matas-me um bocadilho"

    ResponderExcluir
  4. Anônimo07:17

    Thanks

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