Afonso Cruz Cia das Letras

As passagens incríveis do livro Flores, de Afonso Cruz

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Oi gente, tudo bem?

Quando resenhei Flores, de Afonso Cruz, eu comentei o quanto o livro me encantou e se tornou uma das minhas melhores descobertas do ano! Diante disso, quero mostrar nesse post algumas das passagens mais incríveis e emocionantes da narrativa... Espero que gostem e sigam essa dica que é realmente especial: 

"As lágrimas não são todas iguais. Quimicamente, as lágrimas provocadas pelo descascar de uma cebola são diferentes daquelas que choramos quando enterramos o nosso pai. As lágrimas, todas elas, contêm óleos, anticorpos e enzimas. As que chorei nesse dia em que atirei uma pá de cal para o buraco onde enterraram o pai tinham, além das partículas que o microscópio deteta, a tristeza imensa de não podermos partilhar mais uma garrafa de vinho. Uma coisa são lágrimas de cebola e outra são lágrimas do coração."

"Nos últimos anos, quando sinto os lábios da Clarisse a tocarem nos meus, comprovo que não têm história, já não convocam o primeiro beijo que demos. Creio que, numa relação, o beijo terá sempre de manter a densidade do primeiro, a história de uma vida, todos os pores-do-sol, todas as palavras murmuradas no escuro, toda a certeza do amor."

"- Sabe porque não somos felizes? - perguntou ele.
- Desespero, solidão, medo?
- Não. Por causa da realidade."

"Pensei: é isso, dona Eugênia, naquele tempo as mulheres viviam num canto. O mundo não era para elas. Viviam sempre lá ao fundo, na penumbra húmida da vida. A sua voz era um murmúrio longínquo, que se arrastava do canto onde as mulheres viviam e morria à sua volta, caindo das suas bocas diretamente para o chão, como um bocado de cuspo. A mulheres eram portas fechadas."

"A poesia até para acabar com a guerra servia, era isto que o senhor Ulme anunciava antes de começar a dizer um poema: "A poesia serve para acabar com a atrocidade, é uma bala na cabeça do horror, é uma pedra atirada contra este cenário de mal gosto,este cenário que acreditamos ser a realidade"."

"Tenho certeza de que a vida morre com a rotina e não com a morte, e que o hábito nos petrifica, um dia olhamo-nos ao espelho e estamos transformado em estátuas, faz lembrar a mulher de Lot, quando ela e o marido saem de Sodoma, estando esta a ser destruída devido à iniquidade dos seus habitantes, e lhe dizem para não olhar para trás."

"A consciência da morte é o que nos desperta dessa morte em que vivemos, que nos diz o que deveríamos ter feito, o que deixamos de fazer, a morte é um despertador, um despertador que nos acorda para a inevitabilidade dos erros."
"Porque viver não tem nada haver com isso que as pessoas fazem todos os dias, viver é precisamente o oposto, é aquilo que não fazemos todos os dias."

"A única coisa que precisamos saber é que vivemos numa tapeçaria e que, por mais longe que estejamos uns dos outros, somos a mesma história, fazemos parte do mesmo tapete, a morte de uns é o nascimento de outros, a face da nossa vitória é a derrocada de alguém."

"As mães são as fiéis depositárias da nossa infância, dos primeiros anos. As tuas memórias mais importantes, mais formadoras, não são tuas, são dela. E quando a tua mãe morrer, levará consigo a tua infância, perderás os primeiros anos da tua vida. Por isso, trata-a bem."

"Podemos olhar para uma frase e percebemos que aquilo é um mar, uma maneira de ser feroz, de navegar, de viajar, de ter peixes, de ter lágrimas. Eu acreditava que as frases eram armas capazes de mudar, de lutar, de resistir. Armas capazes de disparar um futuro." 

"A solidão deve ser a única emoção que não conseguimos partilhar, se o fizemos ela desaparece."

"- Também temos um nome em latim?
- Temos um nome universal.
- Como é que se sabe esse nome?
- É o nome da pessoa que amamos. É uma ideia tão bonita que parece uma letra pimba: experimenta pronunciar o nome da pessoa que amas e vai ouvir o teu verdadeiro nome."

"Olhei para a Sara dormir, tão bonita, e senti o Universo encher-me o peito de galáxias. Há alguma coisa tão inocentemente bela no sono que fiquei alguns minutos só a observar-lhe o peito a subir e a descer com a respiração."

Espero que tenham gostado e que incluam já esse livro na lista. É apaixonante e arrebatador!

Beijos e até a próxima... 






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